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Jornal 97: A tão desejada luta da classe trabalhadora, a Greve Geral


12 de março de 2017

Cida da Silva

August 28, 2014Desde o final de 2015, trabalhadores e estudantes da rede estadual de Educação vêm denunciando o ataque ao ensino público. Já naquele ano, o atual governo de Pezão/Dornelles parcelou o pagamento do 13º em cinco vezes. Diante disso, a categoria foi em massa às assembleias locais e, posteriormente, à geral. Foi deliberado greve, até que o governo se dispusesse a receber a comissão de negociação e apresentasse propostas que viabilizassem um atendimento digno, comprometido com a Educação pública, e reajustasse os salários dos profissionais da rede.

Paralelamente a isso, dava-se continuidade ao processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff, o que alertou uma parcela dos partidos da esquerda e boa parte dos movimentos sociais, oposições a esse claro golpe parlamentar.

Nesse cenário político, a greve da rede estadual do Rio de Janeiro seguia, acompanhada pelo Movimento de Ocupação dos Estudantes Secundaristas, o qual apoiava uma das mais longas e massivas greves do ano de 2016 e da história do SEPE (Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação).

Vários profissionais acompanharam e apoiaram, ainda que distantes, o Movimento de Ocupação, visto que os interesses de estudantes e professores se entrecruzam na própria relação ensino/aprendizagem, relação indissociável. Não se pode secundarizar a participação, já naquele momento, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) nem da Fundação de Apoio à Escola Técnica (FAETEC) que, também precarizadas, juntaram-se à luta contra os estragos que o governo do PMDB já realizava há anos contra a Educação e os demais serviços públicos do Estado.

Durante esse período, chegou aos movimentos em greve o chamado para adesão à Greve Geral, proposta que atraiu muitos militantes dos movimentos em greve. Contudo, a fragmentação causada, em grande parte, pela cooptação do PT/PCdoB à direita dominante no Parlamento, em todas as suas instâncias, causou a cisão nas assembleias sindicais, pois cada uma das centrais sindicais (CUT, CTB, CSP-Conlutas, Intersindical) chamava uma data diferente para a tão desejada Greve Geral, já que os partidos dos quais essas entidades são representatividade apresentaram análises diferenciadas sobre a questão do impeachment, apoiando-o ou não.

Isso dividiu bastante a classe trabalhadora, impedindo, assim, a realização de um movimento que englobasse todas as categorias de trabalhadores. Em decorrência disso, os trabalhadores em greve, naquele momento, não se organizaram num movimento único e coeso para barrar as propostas neoliberais, que já se desenhavam em 2016, e que, ao final daquele ano, com a concretização do impeachment da presidente eleita Dilma Rousseff e a tomada da liderança do país por Michel Temer, já se colavam em pauta nas votações no Congresso Nacional.

Paralelamente a isso, o movimento da greve da rede estadual entrava num ritmo de visível estagnação, apesar dos grupos de militantes aguerridos em constante luta contra atos de desmobilização isolados, porém, destrutivos. O desconto salarial em 17 dias foi o golpe final na categoria, entre outros golpes, que a classe trabalhadora, esta, sim, recebeu e vem recebendo desde 2016. Golpes vindos de várias direções, inclusive de algumas diretorias sindicais. As causas da estagnação do movimento de greve são várias e exigem uma reflexão mais aprofundada, mas em outro momento.

A passagem de 2016 a 2017 foi meramente cronológica, pois os ataques se intensificaram não só contra a classe trabalhadora, mas também e, principalmente, contra os movimentos sociais, que vivenciam constantes perseguições por parte do poder público e contra os estudantes secundaristas. A sanção da Reforma do Ensino Médio compromete, por um lado, a produção de mentes pensantes, mas, por outro, traz para o espaço das lutas de classes um grupo social que, até os inícios de 2015, encontrava-se adormecido.

Apesar das greves da rede estadual do RJ, da FAETEC e da UERJ terem sofrido um baque com o decreto do Judiciário em julgá-las como ilegais, levando os sindicatos (à exceção o SEPE, cuja greve não chegou a ser julgada) a fazerem acordos, inclusive, contra as próprias categorias, o descontentamento desses trabalhadores permaneceu e, diante dos parcelamentos e atrasos salariais, agravou-se. Isso levou milhares de membros dessas categorias a se unirem ao Muspe (Movimento Unificado dos Servidores Públicos Estaduais), numa tentativa de unificação das lutas diante do pacote de maldades que o governo federal, via governo estadual, com apoio do STF e demais instituições do Judiciário Estadual, impõe sobre os servidores públicos.

Portanto, a luta persiste contra a ditadura do capital e contra os ataques neoliberais perpetrados por um parlamento que vem se mostrando, a partir da divulgação das delações dos réus da Lava-Jato, um organismo estatal desmoralizado, carcomido pela corrupção, visto que é composto, em sua maioria, por parlamentares citados inúmeras vezes nos autos processuais. O próprio Presidente da República foi citado, aproximadamente, 32 vezes! Ainda que grande parte da comunidade intelectual, política e econômica se coloque contra as políticas que vêm sendo implementadas pelo governo de Michel Temer, este, que governa para a classe empresarial e financeira, nacional e internacional, não cede e dá seguimento ao pior dos ataques, sem precedentes na história da sociedade brasileira, contra classe trabalhadora.

Em vista disso, a proposta da Greve Geral se mantém, ainda que o marasmo estabelecido pelo PT e CUT tenham meio que “domesticado” as categorias de trabalhadores. Acrescentando-se o calendário de lutas, no estado do Rio de Janeiro, que já apresenta o movimento do MUSPE, em frente à ALERJ, os atos públicos dos estudantes secundaristas e dos Técnicos Administrativos e estudantes universitários da UERJ e da FAETEC, além dos movimentos regionais, dada a extensão do pacote de maldades estadual aos municípios (Niterói, São Gonçalo, Rio das Ostras, São João de Meriti, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Belford Roxo, Nilópolis, Vassouras, Petrópolis e demais municípios).

Sendo o Rio de Janeiro o “laboratório” de aplicação da política neoliberal do atual governo federal e dada a gravidade desses ataques à classe trabalhadora é tardia a chamada para a Greve Geral, que já vinha sendo ansiada desde meados de 2016. A data desta Greve, que pretende abraçar todos os trabalhadores, está marcada para o dia 15 de março do ano corrente. Antes, porém, temos o grande Ato Público pelo Dia Internacional da Mulher, em 8 de março. Portanto, é imprescindível acordar as massas o quanto antes para a ocupação de todas as ruas da cidade, chamando para a luta toda a classe trabalhadora que vem sendo massacrada pelos governos estadual e federal.