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Jornal 89: Estudantes secundaristas seguem lutando


14 de maio de 2016

Desde o ano passado presenciamos um processo de lutas e mobilizações de estudantes secundaristas por vários estados, o que colocou o movimento estudantil secundarista nas ruas e nas ocupações de escolas. A vitória dessas lutas é a única possibilidade de um futuro diferente do que o desenhado atualmente.3

Escolas que mais parecem prisões, falta de materiais básicos como papel higiênico, aumento da repressão e controle dos estudantes (e professores) e professores desmotivados são alguns dos problemas que os estudantes enfrentam no dia a dia. Enfim, uma escola que vai deixando a cada dia o seu papel de ensinar.

Além disso, a falta de perspectivas para a vida como trabalho, lazer e com um futuro tão incerto quanto o presente possibilita uma cultura presa a um modo de vida individualista e com pouca criatividade.

A polícia e a repressão que carrega estão cada vez mais presentes no ambiente escolar. As abordagens policiais aos estudantes mesmo dentro da escola e as agressões em frente às escolas são algumas das medidas orquestradas pelos governos para tentar impor sobre a juventude o silenciamento e o controle de suas ações.

Toda essa situação foi e é a base da “rebeldia” que toma conta da juventude secundarista por todo o país.

As ocupações de escolas em São Paulo

Em São Paulo, não é de hoje que a escolas públicas entraram em decadência. A imensa maioria das escolas não cumpre funções básicas a que se destina. Em poucos casos,(normalmente as localizadas em áreas mais centrais) a escola pública de São Paulo carrega ainda algum prestigio. Fora essas poucas, a escola pública tem sido sistematicamente atacada para se tornar sinônimo de “irrecuperável”.

Para piorar ainda mais o governo Alckmin (PSDB) editou decreto que fecharia várias escolas ou períodos, obrigando estudantes a irem estudar bem distante de suas casas ou mesmo deixarem de estudar.

Contra essas medidas mais de 200 escolas no estado foram ocupadas em um movimento que ganhou apoio e simpatia da população dos pais e de vários setores da sociedade, como artistas que chegaram a fazer shows de apoio ao movimento.

Mesmo tendo publicamente recuado da medida, Alckmin chegou a fechar mais de 1000 salas de aula já em 2016.

Nesse ano ,com o estouro do escândalo da merenda (fraude no preço do fornecimento de verduras para a merenda escolar e falta de merenda nas escolas, em que até o presidente da assembleia legislativa está envolvido) os secundaristas voltaram às ruas e mais uma vez enfrentando a repressão policial. São várias manifestações pela capital.

Goiás: contra a privatização e a militarização

Os estudantes secundaristas de Goiás também deram demonstração de força e coragem ao enfrentar o governador Marcone Perillo (também do PSDB) e deram grande exemplo de como defender a escola e a Educação pública.

Com a desculpa de consertar o que eles mesmos danificaram, o governador de Goiás, desde o ano passado, vem tentando impor várias medidas que vão desde a gestão da escola pela polícia militar até mesmo a privatização, através das Organizações Sociais (OSs), ou seja, transferir o dinheiro público para entidades privadas.

O objetivo declarado do governo é retirar da Secretaria de Educação a gestão de cerca de 1200 escolas do estado.

Em relação as OSs as consequências são: o dinheiro público que ia para as escolas vai direto para essas entidades privadas, que elaborarão a grade curricular (que além de continuar antidemocrática porque nunca ouviu a comunidade, passará a ser construída atendendo a interesses privados).

Além dessas questões que afetam o aspecto pedagógico abre-se a possibilidade de cobrança de taxas (fazendo perder o caráter gratuito da escola), salas estarão ainda mais superlotadas (pela necessidade de garantir mais para a entidade privada), a contratação de professores e funcionários das escolas deixará de ser por concurso público, dentre outros problemas.

O outro ataque a Educação pública é a transferência da gestão das escolas para a Polícia Militar. Policiais militares estão administrando escolas e também assumindo as aulas no lugar de professores, que se preparam e prestaram concurso para essa função. Diferente do policial que teve como opção atuar na repressão e não na Educação.

Nessas escolas, um aluno chegar atrasado gera problemas na avaliação, é obrigatório o uso de fardas, cantar os hinos nacional e da independência. Também são adotadas disciplinas como Educação Religiosa, “ordem unida”, dentre outras que visam tão somente “uma lavagem cerebral” nos estudantes. Liberdades de crítica e de pensamento são consideradas, praticamente, crimes.

O governo ainda não recuou e a luta segue enfrentando todo tipo de pressão e perseguição, inclusive com a prisão de estudantes e ameaça de processo contra os estudantes que não aceitam os ataques à Educação pública.

Rio de janeiro luta por educação pública de qualidade

O processo de luta mais recente é no RJ e também é protagonizada pela juventude secundarista. Enquanto escrevíamos este artigo já eram 70 escolas ocupadas.

O diferencial das ocupações no Rio de janeiro é que ocorrem não motivadas por um decreto ou lei expedida pelo governado recentemente, mas contra a péssima condição de ensino nas escolas públicas do estado. Como disse um estudante do colégio “Mendes”, primeira escola ocupada no estado: “Já faz um bom tempo que nossa qualidade de ensino vem regredindo. Resolvemos ocupar o colégio antes que chegasse a um ponto realmente crítico”.

Ocorrem também no momento de greve de professores do estado, que enfrentam várias medidas do governador contra a Educação pública (leia também matéria neste Jornal).

O crescimento das ocupações e o apoio da população são demonstrações de como a gravíssima situação da Educação e da escola pública preocupa a maioria da população, pois representa o único caminho para se alcançar o aprendizado e ter a possibilidade de uma formação profissional e a sua destruição é vista também como uma porta se fechando para os jovens.

Como ocorreu em São Paulo e em Goiás, o governo do RJ e a polícia estão adotando várias medidas para enfraquecer o movimento, inclusive, organizando e incentivando a formação de grupos de estudantes “contrários às ocupações”, além de decretar férias a partir de maio nas escolas ocupadas (o que pode alterar as férias regulares de professores e alunos) e também jogar na imprensa burguesa supostas situações de “vandalismo” nas escolas ocupadas.

Surgindo uma nova vanguarda

Em outros estados, como Espirito Santo e Pará, também aconteceram manifestações de estudantes secundaristas, demonstrando que é um processo nacional.

Dar apoio e solidariedade aos secundaristas não é só apoiar essa luta, mas é necessário também fortalecer essa vanguarda juvenil que tem se formando de forma independente e sem carregar o peso da experiência amarga e da derrota, que significou o PT para milhares de trabalhadores. Nesse sentido, é imprescindível que as categorias de trabalhadores levantem em suas lutas a bandeira por uma Educação pública, gratuita e de qualidade que atenda as necessidades humanas e que também se organizem para acompanhar e fortalecer as manifestações de estudantes secundaristas.

A burguesia e as forças de repressão sabem que nas lutas se adquire a experiência necessária para seguir adiante. Por isso querem derrotar essa geração. Ela estar fortalecida é reafirmar a esperança na luta para possibilitar a construção de um futuro melhor e de uma sociedade sem explorados e sem exploradores.