Jornal 87: Para resolver suas crises, o capitalismo ataca os trabalhadores
13 de março de 2016
Estamos num momento de intensificação da crise econômica no Brasil, dentro de um cenário global marcado pela crise estrutural do capital.
O capital – para enfrentar a crise – precisa buscar válvulas de escape e encontrar saídas para sua crise. E o remédio é sempre o mesmo: aumentar a exploração sobre os trabalhadores e assim conseguir meios para controlar a situação econômica de crise, tudo para retirar ainda mais direitos do trabalhador.
O desemprego
Nos últimos meses, importantes fábricas anunciaram encerramento parcial de atividades, demitiram, reduziram produção… O próprio ministério do trabalho reconhece que em 2015 foram fechadas mais de 1,5 milhão de vagas de trabalho, abrangendo todos os setores da economia.
A Petrobrás demitiu 128.744 terceirizados entre dezembro de 2013 e junho de 2015, e agora planeja outra rodada de demissões de terceirizados. A CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) está com os estoques de aço ultrapassando a capacidade de armazenamento, só no Rio de Janeiro foram mais de 700 demissões neste ano.
A Vallourec demitiu centenas no ano passado, deu férias coletivas para 800 em Jeceaba e também anunciou que encerrará sua produção de aço na capital mineira em 2018. Assim, o setor siderúrgico fechou quase 30 mil postos de trabalho nos últimos dois anos e paralisou ou desativou mais de 40 unidades.
A indústria automotiva encerrou o primeiro mês com 129.397 empregados (10,2% menos que janeiro de 2015). Em 2015, foram mais de 15 demissões e os que continuam trabalhando tiveram salários reduzidos, sistemas de layoff e outros mecanismos que só ajudam a patronal.
As vendas no comércio varejista tiveram queda de 4,3% em 2015 (IBGE), e no atacado, queda em termos reais de 7,9% (Abad). Requerimentos de recuperação judicial cresceram 55,4% (Serasa Experian). Juntos, os setores do comércio e de serviços demitiram mais de 500 mil no ano passado.
O desemprego sobe em todas as regiões do país. E sabemos que a ameaça constante de demissão – com a qual o sistema do capital se beneficia – se torna uma tortura constante, porque vender nossa força de trabalho é a nossa única fonte de sobrevivência.
Desemprego é uma política consciente da burguesia
Muitos trabalhadores se questionam sobre até quando continuará essa onda de demissões. Podemos tentar apontar tendências…
Já falamos em outro momento da vulnerabilidade que o capital nacional e o governo deixaram o país ao supervalorizar o crescimento econômico baseado nas “commodities” (matérias primas), contribuindo com a submissão e dependência para com países desenvolvidos e industrializados.
Focou na exportação de commodities e não combateu a desindustrialização. Manteve a sangria do pagamento dos juros da dívida pública e processos de privatização (leilões de poços de petróleo, concessões, etc…), em detrimento de Saúde, Educação, etc… (com os resultados que estamos infelizmente vivendo, como a microcefalia).
A burguesia tem consciência de que suas medidas vão causar desemprego. É uma política premeditada pela burguesia, ou seja, optaram por ter desemprego para responder à crise.
Essa é a lógica da economia capitalista: vai por um lado e causa crise por outro.
Mais entregas, mais privatizações
Os diversos ramos do capital colocam em prática os seus planos: reduzem salários e direitos, aumentam o ritmo de trabalho, aumentam o controle sobre o Estado e suas finanças, privatizam, enfim, a lista é interminável.
O governo já definiu qual caminho seguir, o de se curvar totalmente às exigências do capital internacional e cumprir a cartilha de austeridade.
Destacamos aqui alguns casos. As multinacionais imperialistas tensionam para manutenção de monopólios e aumento da concentração de capitais (fusão de empresas, destruição de concorrentes, compra de empresas púbicas, etc).
Na Petrobrás, o capital estadunidense (Shell, Exxon) identificou a “oportunidade” deixada pelos malditos corruptos do governo. A Petrobrás passaria a alugar navios-sonda, construídos pela empresa Sete Brasil, incomodando um monopólio internacional de SBM, Schlumberg, Haliburton, Transocean, etc.
A Petrobrás pretende fazer nova rodada de venda de ativos (com o objetivo de arrecadar U$ 14,4 bilhões), vendendo termelétricas, usinas de biodiesel e etanol, fábricas de fertilizantes, transportadoras de gás natural e parte da Braskem.
Sobre o Pré-Sal, o governo já havia oficializado a possibilidade de entrega de 70% de um importante recurso; agora o Senado, com apoio do governo, vai entregar os outros 30% para empresas concorrentes da Petrobrás.
Na produção de aço, o capital japonês quer hegemonizar. E os Estados Unidos impõem medidas protecionistas às exportações brasileiras.
É neste marco que ocorrem novos ataques à previdência, e cortes no orçamento para elevar o superávit primário (e pagar a dívida aos banqueiros e agiotas).
A intensificação das privatizações passa pelo PLS 555 (e abre brecha para transformar empresas públicas, como a CEF e Banco do Brasil, em sociedades anônimas) e com a proposta de venda de subsidiárias da Caixa Econômica (Lotex – raspadinha – e Caixa Instantânea).
No setor elétrico, há a privatização das distribuidoras de energia e estudos em andamento para privatização de 49% de Furnas.
Até quando…?
O governo petista é tão reacionário que, mesmo dentro dos marcos do capital, dentro de alternativas para se “administrar” a crise econômica no Brasil, existiriam outras alternativas. Por exemplo, a mudança da política cambial e da taxa de juros, e o que falar de alternativas nacionalistas, como por exemplo o Brasil de um orçamento “deficitário” pagou só de juros da dívida pública em 2015 o valor equivalente a mais de 4 Petrobrás em valor de mercado.
Porém, como não são alternativas que cumprem com o objetivo de válvula de escape do capital “avançado” – e não servem para deslocar momentaneamente as contradições nos Impérios –, nem isso (que ainda é uma solução burguesa) é adotado.
É a história do bombeiro louco: apaga-se o incêndio com gasolina. As medidas do governo petista (privatização, aumento da taxa de juros, etc), mesmo que garanta o deslocamento das contradições e tenha uma realocação de novos limites, tem como único efeito a continuidade da crise estrutural em novo patamar, mantendo o impedimento de um bem estar social nos países periféricos.
Então até quando? Qual seria o escape “exigido” na atual situação pelo capital? Seriam os 30% do Pré-Sal? Seria a elevação do limite da idade para se aposentar e um novo mercado consumidor de previdência privada? Seria o abandono total das sondas da Petrobrás e manutenção da dependência dos grandes conglomerados? Seria o aumento de jornada e redução salarial? Seria um novo patamar de intensa concentração e monopólio por setores desejados do capital imperialista?… Bem, qualquer nível de entrega ao capital é perda para o trabalhador, sem esquecer que saídas de escape são apenas momentâneas num cenário de crise estrutural, e preparam problemas maiores no próximo rearranjo.
A saída dos trabalhadores
Além dos ataques no ano de 2015, houve resistência dos trabalhadores. Nas montadoras, por exemplo, a Volkswagen pretendia uma reestruturação, com redução de produção e demissão de 3,6 mil e extensão da jornada de trabalho em duas horas, com redução de salários. Contudo, a greve dos metalúrgicos impediu a totalidade do plano. Mas, por uma política da burocracia, mesmo assim a empresa conseguiu impor PDVs, lay-off, e Programa de Proteção ao Emprego (PPE – redução da jornada de trabalho com redução de salários).
É correto que um resultado assim não pode ser considerado uma vitória, porém, é uma derrota parcial, sem grandes baixas, dado o tamanho pretendido de ataque.
O abraço da direção do movimento ao PPE, sem dúvida limita uma saída pela positiva, e para um futuro promissor tem de entrar como elemento o avanço de consciência da classe.
Outras tantas greves se espalharam pelo país, colocando o ano entre os que mais houve greves nas últimas décadas. A greve da GM transformou as demissões em lay-off. E o que falar da greve nacional de Petroleiros, com rebelião de algumas bases contra as antigas direções e impedimento de retirada de direitos. E ainda a recente ocupação da Dako (fábrica da Mabe), após a justiça decretar falência.
É necessário um intenso trabalho de base, com materiais e organização dos ativistas. A verdadeira saída para a crise só pode ser dada pelos próprios trabalhadores. É necessário ampliar os bons exemplos, organizar as lutas para unificação dos trabalhadores, avançar nos métodos, superar a direção histórica do proletariado brasileiro que passou totalmente para o outro lado e só prepara traições e entregas.
Esses são os desafios colocados para nós da esquerda.