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Jornal 85: Alta da inflação e escalada das demissões ameaçam a nossa classe


6 de dezembro de 2015

Assistimos diariamente aos representantes dos patrões (PT, PSDB, PMDB, DEM) se engalfinham na política, com novas denúncias de corrupção. As ameaças de cassação de mandatos chegam até a se tornar banais e não sobra um sequer que possa ser defendido. Ma1s nos bastidores é possível ver que independente do partido a que respondem seguem em unidade permanente atacando nossos direitos. Após passar o facão na saúde e na educação, o último corte anunciado foi na área social, de R$ 25 bi, já previsto no orçamento de 2016, afetando o Pronatec, o Proinfância e o programa de construção de cisternas do governo. A crise econômica se aprofunda e nós trabalhadores sofremos com a eterna ameaça de pagar a fatura de uma crise que não é nossa.

Enquanto precisávamos de um programa dos trabalhadores, os governos seguem um programa dos patrões, que tem sua expressão material na Agenda Brasil, grande acordo fechado entre os diversos setores do governo, e tem sua caricatura ideológica no atual Congresso e em suas medidas conservadoras e retrógradas. Esse processo de disputas políticas que a primeira vista parece contraditório nada mais é portanto do que a expressão de duas faces de uma mesma moeda. Basta observar que mesmo com uma roupagem de “esquerda”, os setores menos conservadores como o PT aplicam também a agenda dos patrões e não encampam uma luta real contra as investidas conservadoras dos demais setores. No fim, o programa burguês acaba prevalecendo sob um programa dos trabalhadores.

Um dos maiores reflexos de que nossos interesses são opostos aos dos patrões e de seus partidos é a escalada das demissões. Para garantir seus lucros milhares de trabalhadores têm sido jogados nas ruas. Segundo a própria FIESP, 31mil trabalhadores da indústria paulistana já foram demitidos desde o início do ano. A Fenabrave divulgou que somente no setor de concessionarias de veículos se acumularam até a primeira quizena de novembro 26 mil trabalhadores demitidos. No geral, a população desocupada está estimada em 1,9 milhão e cresceu 56,6% em relação a 2014 (dados de setembro), representando mais 670 mil em busca de trabalho, segundo dados do IBGE.

Os trabalhadores da principal obra do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) já enfrentam uma longa temporada de demissões em crescente, que se agravou em janeiro de 2015, com milhares de demitidos e com o atraso no pagamento dos salários, que motivaram a construção de uma forte greve no início do ano, duramente reprimida e retaliada inclusive com a demissão de grevistas. A esse cenário de oportunismo da patronal frente a crise se soma o calote dos patrões. A Alumini, que empregava trabalhadores do complexo, por exemplo, só começou o pagamento dos trabalhadores demitidos agora em outubro e será feito em parcelas.

Na indústria, somente em outubro, a Ford, no Polo Industrial de Camaçari(BA) anunciou a demissão de 1400 trabalhadores. A metalúrgica Usiminas desativou parte de sua usina de Cubatão (SP) e anuncia cerca de 4000 demissões nos próximos 3 meses. Multinacionais também anunciam cortes que impactarão em suas plantas no Brasil, como a Microsoft, a 3M. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviço e Turismo (CNC) estima o fechamento de 181, 3 mil postos de trabalho com carteira assinada neste ano. A Santa Casa de São Paulo iniciou a demissão de 1397 funcionários, que impactará também em um maior déficit de um atendimento de saúde do qual dependiam os trabalhadores da região para cobrir os buracos do parco Sistema Único de Saúde (SUS).

A alternativa às demissões oferecida pelos movimentos governistas (com destaque para a CUT e a Força Sindical) é chamar de vitória chamado Plano de Proteção ao Emprego (PPE), um plano de proteção aos patrões, que permite que reduzam nossa jornada e salário em até 30% e mete as mãos no Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para beneficiar as empresas. O PPE foi largamente implementado nos últimos meses em vários locais de trabalho com a ajuda das centrais sindicais pelegas. Além disso, a medida tem sua consolidação legal agora no mês de Outubro com a aprovação de seu texto-base na câmara dos deputados.

Condições de vida rebaixadas, lucro garantido

Infelizmente a crise mal começou. Os economistas dos patrões pensam a realidade em números e estão preocupados com a redução do consumo e o aumento da inadimplência. Mas os trabalhadores são seres humanos e estão sofrendo com o rebaixamento das suas condições de vida e trabalho.

Pela primeira vez os economistas a serviço dos patrões preveem que a inflação (IPCA) irá superar este ano os 10% (Relatório de mercado Focus, BACEN), o que representaria a maior inflação nos últimos 13 anos. O aumento dos preços está sob controle do empresariado, mas afeta diretamente a classe trabalhadora e os setores mais pauperizados sofrem com a alta dos preços dos alimentos e itens de necessidades básicas. É urgente o congelamento dos preços e que os trabalhadores tenham acesso ao que produzem.

As demissões abrem espaço para mais uma onda das chamadas reestruturações no campo do trabalho, com novas contratações por salários mais baixos e a intensificação da terceirização. As demissões este ano são imensuráveis. Soma-se a isso a lógica do arrocho salarial, que se agrava. Até agosto, foram 111 acordos coletivos assinados com redução nominal de salários. As categorias que conseguiram melhores acordos conseguiram no máximo repor a inflação, já defasada e grandes categorias nacionais tiveram reajustes abaixo da inflação. Não podemos assistir nossas vidas serem corroídas pelos interesses dos patrões.

Por uma organização permanente dos explorados contra o ajuste!

As direções sindicais e dos movimentos populares são majoritariamente controlados pelos governos por meio do PT. Em vez de lutar contra o ajuste fiscal têm auxiliado sua implementação, freando as lutas. Os trabalhadores fizeram sua experiência com o PT. O importante agora é entender que já não se trata mais de denunciar uma traição, mas de reconhecer que há muito tempo já estão do outro lado e de nenhuma ilusão neles nutrir. Entender o papel de conciliação de classes que a burocracia petista cumpre no país é o ponto de partida para o movimento dos trabalhadores superar o estágio de dependência dessa velha burocracia e se desatrelar de vez dos setores estranhos à classe trabalhadora.

Será preciso que os trabalhadores se organizem permanentemente e reajam de forma intransigente contra cada ataque dos patrões e seus governos, contra cada setor oportunista que se colocar a frente dos nossos interesses. As promessas de reformar o capitalismo não têm mais espaço e se provaram meras ilusões. Cada vez mais é preciso entender que uma sociedade voltada para os interesses humanos não pode ser construída dentro de um sistema que prioriza o lucro. Somente a organização e luta permanente e independente dos trabalhadores pode construir uma sociedade sem nenhuma forma de exploração e opressão. Levantemos bem alto a bandeira do socialismo ou nos restará apenas a barbárie!

Contra a inflação:

  • Reajuste automático dos salários mensalmente acompanhando a inflação!
  • Salário mínimo do Dieese!

Contra as demissões:

  • Redução da jornada de trabalho sem redução dos salários, emprego para todos!
  • Estatização sob controle dos trabalhadores das empresas que demitirem em massa, ameaçarem fechar ou se mudar!
  • Fim da terceirização! Efetivação de todos os temporários com os mesmos direitos!
  • Formar comitês populares em defesa do emprego!