Banqueiros e governo se unem para impor perda salarial, bancários respondem com a maior greve nacional dos últimos anos!
29 de outubro de 2015
Todos sabem que os banqueiros lucram bilhões explorando os trabalhadores bancários e extorquindo seus clientes. Sem os bancários não seria possível garantir esses gigantescos lucros. Mesmo assim este ano foi oferecida a proposta de 5,5% de reajuste nos salários mais um abono de R$2500, o que representaria uma perda salarial expressiva, frente à inflação e uma grande ofensa frente aos crescentes lucros do setor. Este ano, a crise irrompe no país realmente com força e a reação dos patrões é claramente oportunista, tentando se aproveitar do sentimento de medo e insegurança para aumentar ainda mais seus lucros.
A resposta foi a deflagração de uma tardia mas forte greve nacional, agora em outubro. O fato de ter sido tardia expressa um processo de contingenciamento das lutas do segundo semestre, orquestrado pelas direções sindicais atreladas ao governo, com destaque para a CUT, que controla um terço das diretorias dos sindicatos pelo país. A intenção foi de evitar que se unificassem lutas importantes de categorias nacionais de peso, como bancários, petroleiros e correios, minando sua força e dando a chance para o governo tratar cada uma a seu tempo.
Os banqueiros e financistas têm grande peso e definem em boa medida os rumos políticos e econômicos no país. O governo do Partido dos Trabalhadores, o mesmo que dirige a CUT, não fez diferente dos anteriores, opera a serviço dos banqueiros. A prova disso é que esse setor abocanha boa parte do orçamento público, que é jogado no ralo todos os anos com o pagamento da dívida pública. Esse ano, a situação dos trabalhadores se agrava não só pela crise, mas também pela prioridade do governo em jogar a conta do ajuste fiscal nas costas dos trabalhadores, agradando ainda mais os empresários. O desaforo dos 5,5% está diretamente ligado a quem esse governo serve.
Extrapolando o roteiro proposto pelas direções pelegas, um ensaio para algo maior
No último período, a greve dos bancários já é uma realidade prevista. Por um lado, por ser uma categoria importante para a economia como um todo e da qual todos os outros setores dependem, existe um poder de negociação muito forte colocado nas mãos dos bancários quando ameaçam paralisar suas atividades. Por outro lado, como uma forma do PT se cacifar no movimento sindical, desde que subiu ao governo federal, é comum que as direções dos sindicatos controlados pela CUT garantam e incentivem que os bancários tenham todos os anos a sua greve. Mas somente até onde a vista da burocracia alcançar e até o ponto em que tiverem condições de controlar o movimento. A greve da CUT tem data marcada para começar e sobretudo para acabar, independente de ter alcançado ou não conquistas. O fôlego dessas direções é proporcional ao quanto elas querem se indispor com os patrões, sempre garantindo que não se afete a imagem do governo. Ou seja, não passa de um suspiro curto, interrompido. Assim, no final das contas, em anos sem crise, a tão propagandeada vitória da CUT se resume a conseguir 1, no máximo 2% de “ganho real” no reajuste dos salários e nenhuma conquista substancial nos cláusulas específicas, muitas vezes as mais importantes.
Esse esquema não responde às necessidades dos bancários. Perdas salariais acumuladas, assédio moral institucionalizado, cobrança por metas e uma série de problemas massacram em todos os bancos. Nos privados a situação é ainda mais dramática, chegando ao ponto de terem surgido denúncias de trabalhadores dormindo nos locais de trabalho para garantir os lucros do Itaú durante a greve.
A provocação dos 5,5% se somou a tudo isso e foi a gota d’agua. Os bancários dos bancos públicos construíram uma greve nacional forte, que dessa vez fugiu ao controle das direções sindicais. Em São Paulo, diversos prédios importantes de bancos públicos e privados foram totalmente trancados, assembleias meramente organizativas lotaram durante a greve. No Banco do Brasil vimos algo que não acontecia há anos, além dos caixas e escriturários, este ano gerentes e assistentes, trabalhadores dependentes de funções comissionadas, aderiram ao movimento, mostrando que só a saída coletiva pode resolver os problemas que passam nas agências e departamentos do banco. Em algumas regiões do país agências inteiras do Banco do Brasil tiveram adesão total e ficaram fechadas. O rompimento dos bancários com o medo de perder suas funções e o enfrentamento aos gestores demonstrou à categoria que é possível se mobilizar para além da fajuta greve proposta pela CUT e se colocar contra os desmandos do banco. Mostrou que lutar é um direito.
O resultado dessa força e organização dos bancários foi uma greve que parecia estar sendo ignorada, mas que com 21 dias de paralização chegou à proposta de 10% de reajuste nos salários e 14% nos vales. O resultado, diferente do que diz a CUT, foi nitidamente insuficiente. Mas o destaque principal dessa greve é que ela representa um acúmulo de forças e organização que oferece condições para que os bancários rompam de vez com as direções pelegas no próximo período.
Apesar de você amanhã há de ser outro dia….
Assistimos a CUT se juntar aos banqueiros e desmantelar as greves com golpes nas assembleias por todo o país, mostrando claramente de que lado está. O ímpeto das direções pelegas no desmonte da greve só mostrou que a nossa luta tem muito potencial e representa uma ameaça aos seus privilégios. Os golpes nas assembleias também mostraram que eles sabem que perderam o controle de suas bases e se viram claramente desesperados ao perceberem que a proposta seria rechaçada e que havia ainda muita disposição e luta e organização da parte dos bancários.
Essa greve mostrou que podemos muito mais quando nos colocamos de forma intransigente em defesa dos trabalhadores e suas condições de trabalho e vida. Mostrou o retrocesso que representa deixar um sindicato, instrumento de luta dos trabalhadores, ser apoderado pelas mãos de setores estranhos aos nossos interesses de classe. Precisamos retomar os instrumentos de luta dos trabalhadores nas mãos, varrer o PT e todos os que defendem ou conciliam com os patrões e os governos dos sindicatos. Precisamos tomar de volta o que é nosso!
A greve dos bancários infelizmente não foi vitoriosa em suas conquistas objetivas, mas fortaleceu a classe trabalhadora de conjunto, ao não se curvar a uma redução salarial expressiva, que daria força para o governo e os patrões para impor reduções ainda maiores em todas as outras categorias, os setores verdadeiramente afetados pela crise.
Essa greve certamente tem um destaque nas lutas encampadas pelos trabalhadores neste ano de crise e foi um marcante exemplo de como a organização independente dos trabalhadores pode muito mais. Essa situação mostra que a greve geral é uma necessidade colocada para o conjunto dos trabalhadores como solução para se contrapor a esse conluio entre governos e patrões. A unidade e organização dos trabalhadores é o caminho. Sabendo disso, os patrões e governos trabalharão incansavelmente para evita-la. Nós, enquanto trabalhadores, exerceremos nosso papel histórico e faremos exatamente o contrário para que prevaleçam os nossos interesses.
Somente organizando-se em defesa de cada demanda e ousando romper com as estruturas, os trabalhadores podem construir uma sociedade diferente. A sociedade controlada pelos patrões não tem espaço para que tenhamos uma vida digna. O fortalecimento da luta de cada trabalhador é a única saída para colocar os patrões no seu devido lugar, barrar os ataques e avançar nas conquistas rumo a uma sociedade que não admita nenhuma exploração nem opressão. Pela unidade de todos os trabalhadores contra cada ataque, construir alternativas de luta independentes dos patrões, rumo a uma sociedade socialista!
Espaço Socialista