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Jornal 81: O pacto Syriza/Troika e o ressurgimento das mobilizações na Grécia


15 de agosto de 2015

Contrariando o Plebiscito em que 61% rejeitaram o pacote da Troika, Tsipras e a maioria do Syriza se renderam e fecharam um acordo ainda pior, que amarra a Grécia com os planos de austeridade pelos próximos anos.oxi

Repetem-se as tragédias políticas do século XX, as massas de trabalhadores querem seguir muito além do que suas direções.

Tsipras e o parlamento grego se comprometeram com medidas duríssimas e de longo prazo como o amento do IVA (Imposto sobre o Valor Agregado) para 23%, cortes na Previdência que vão elevar a idade de aposentadoria de 65 para 67 anos, o fim da isenção de impostos nas Ilhas Gregas, que encarecerá uma das fontes principais de receitas da Grécia, o turismo. Além disso, suspendem a ajuda social para os mais pobres até 2019, cortam salários do funcionalismo público, avançam nas privatizações dos setores elétricos, portos e aeroportos e cortam gastos militares.

Além de todos esses ataques, o acordo prevê a privatização de 50 bilhões de euros de ativos da Grécia, incluindo duas famosas ilhas cobiçadas pelas empresas de turismo.

Comprometer-se em implementar todos esses ataques garantirá à Grécia um empréstimo imediato de 7 bilhões. Dessa quantia, 6,25 bilhões de euros irão para o Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI). Ou seja, o tal “pacote de resgate” não trará investimentos em emprego, escola, obras públicas ou qualquer outra coisa que possa beneficiar o povo grego, pelo contrário, passando longe da Grécia, as somas vão direto para os cofres dos bancos credores da dívida.

O resultado geral dessa manobra é o favorecimento dos banqueiros e a intensificação da privatização e da exploração dos trabalhadores gregos!

 

O Eurogrupo submete os demais países da Europa

A Zona do Euro não é um todo uniforme, em que todos exercem o mesmo papel. Internamente há países que têm mais poder econômico – e por conseqüência político – , e outros que não têm esses poderes. É a velha fórmula de países dominantes impondo sobre os dominados os seus interesses. Para uns serem ricos outros necessariamente têm que “bancar” essa riqueza.

Para garantir a sua lucratividade, o capital alemão ou francês precisa explorar os trabalhadores gregos, ter mercado para que possa vender suas mercadorias e ter força de trabalho mais barata e disponível.

Com o Euro, os países periféricos são inclusive privados do direito básico na soberania de emitir sua moeda e de desvalorizá-la para facilitar suas exportações como fazem abertamente outros países, como os EUA, China por exemplo.

Assim, não só a Grécia mas também Portugal, Espanha, Irlanda e até mesmo Itália não conseguem concorrer no mercado europeu em condições de igualdade com as potências Alemanha e França. Foram (e continuam) acumulando déficits e se endividando, tomando emprestado dos bancos europeus.

É aí que entram os banqueiros e especuladores. À procura de lucro fácil, emprestam dinheiro ao Estado com juros altíssimos e com lucro crescente (que não conseguiriam na produção) e esse disponibiliza (em forma de crédito, por exemplo) para as empresas (para produzir) e população em geral (para consumir).

A operação de salvação dos bancos a partir da crise de 2008 elevou as Dívidas dos países periféricos a níveis estratosféricos. No caso da Grécia, após uma renegociação, em 2010 a Dívida foi ligeiramente reduzida, mas os juros e a recessão a fizeram crescer novamente até atingir o absurdo patamar atual de 177% do PIB grego.

A dívida total da Grécia hoje é de € 332 bilhões, ou cerca de US$ 370 bilhões. Quase 80% da dívida pública grega vêm dos fundos de resgate europeus, dos empréstimos bilaterais dos países da Zona do Euro, dos empréstimos do FMI ou estão nas mãos do Banco Central da Europa (BCE). A dívida grega é uma dívida pública adquirida em grande parte para que o Estado grego pudesse pagar os bancos privados. (http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/O-escandalo-e-roubo-da-divida-grega/6/32806)

Num contexto de crise estrutural do capital, com um possível momento de agravamento no horizonte (veja-se as quedas de ações na China), o imperialismo europeu não pode fazer concessões (como de fato não tem feito), ainda mais sem um enfrentamento conseqüente – apenas bravatas e negociações como vimos com Tsipras. Na prática isso leva a que se tenha apenas um aperto da austeridade mantendo a recessão e o afogamento da economia grega.

Assim, o “problema grego” é de fato um “problema europeu” e com repercussão na economia capitalista mundial, dado que um desmonte desse bloco (ou pelo menos o seu questionamento) revelaria cair por terra mais uma tentativa de o capital europeu sair de sua crise estrutural.

 

Não pagamento da dívida, romper com o euro e o capitalismo!

Conhecemos bem o sistema da dívida pública. Tanto lá como aqui, quanto mais se paga, mais se deve. Para que haja qualquer perspectiva de retomada da economia grega é preciso imediata ruptura dos acordos com a Troika, o NÃO pagamento da Dívida Pública e a Estatização do sistema Financeiro sob controle dos trabalhadores. Além disso, é preciso voltar a ter o controle de sua moeda. Tudo isso implica romper com o Euro. Mas, essas medidas precisam ser parte de uma estratégia de ruptura não só com a zona do Euro, mas com o próprio capitalismo.

Assim, a desvalorização da moeda grega, o dracma, exigiria a expropriação dos principais ramos da economia sob controle dos trabalhadores a fim de que a produção se voltasse para as necessidades sociais e não para o mercado e o lucro. Caso contrário, a desvalorização geral da moeda seria jogada sobre as costas dos trabalhadores redundando também no aumento da miserabilidade.

Para que essas medidas sejam adotadas será preciso uma luta de vida ou morte contra o imperialismo europeu. Por isso é fundamental que esta seja uma luta de todos os trabalhadores dos demais países da Zona do Euro, com a criação de formas de organização para internacionalizar a luta, condição fundamental para enfrentar o capital mundializado.

 

Por uma saída revolucionária dos trabalhadores para a Grécia e a Europa!

Com esse acordo fica nítido que nem Tsipras e nem o Syriza irão impulsionar os trabalhadores nesse caminho. São partidos e direções que diante dos desafios decisivos de ruptura com o capital e com a burguesia recuam aceitando “acordos” que na prática significam duríssimos ataques aos trabalhadores.

Por outro lado, a vitória do “Não” no Plebiscito, a greve Geral de 24 horas e as manifestações contra a aprovação do pacote pelo parlamento expressaram a disposição de luta dos trabalhadores marcando uma retomada das lutas na Grécia, dessa vez se enfrentando o governo do Syriza.

Há um grande avanço que é a rejeição massiva da austeridade, mas o mesmo avanço ainda não ocorre no campo da gestação de alternativas socialistas, embora haja experiências de luta e organização independentes em curso. A construção dessa alternativa é mais necessária devido ao fato de que a extrema direita também se organiza e se apresenta com pseudo-saídas xenófobas e de ataque frontal aos direitos dos trabalhadores e direitos sociais alcançados nas décadas passadas. Apontar uma saída socialista para a Grécia é necessário também para se enfrentar a extrema direita que cresce em várias regiões do mundo.

É preciso um amplo chamado a que os trabalhadores e setores oprimidos nos demais países em dificuldades juntem-se em uma federação de estados revolucionários da Europa que indique um caminho para os demais países rumo ao socialismo.

 

Confederações e Coalizões Sindicais

PAME (Frente Militante de Todos os Trabalhadores), cuja direção é majoritariamente do KKE.

ADEDY (Confederação de Sindicatos dos Funcionários Públicos)

POE-OTA: sindicato nacional dos funcionários municipais

 

Organizações Politicas

Plataforma de Esquerda do Syriza, formada por ex-militantes do Partido Comunista da Grécia, maoistas e nacionalistas de esquerda. Se opôs ao acordo com a Troika e defende a saída do Euro, o não pagamento da dívida e a desvalorização da moeda para retomar alguma competitividade nas exportações. Mas seu programa não inclui a ruptura e expropriação da burguesia grega o que só pode levar a capitulações e a não conseguir apontar uma saída revolucionária e independente por parte dos trabalhadores. Além disso, por mais que tenham, críticas seguem no governo.

 

Partido Comunista da Grécia (KKE) – Tem peso no movimento sindical dirigindo a coalizão de sindicatos PAME.

 

ANTARSYA “Motim” – Apresenta-se como “frente de esquerda anticapitalista, revolucionária, comunista e da ecologia radical”. Composta por 10 organizações e militantes independentes ligados à Frente de Esquerda Radical (MERA) e à Esquerda Anticapitalista Unida (ENANTIA) de diferentes tradições da esquerda, desde o Partido Comunista da Grécia até o maoísmo e o trotskismo.

 

Anarquistas: o movimento anarquista tem tradição e força na Grécia, sendo um fator de luta contra a implementação dos planos da Troika no país. No entanto, inclusive por que não se propõe a isso, não tem conseguido apontar um programa e uma saída anticapitalista para o país. Tem ênfase nos trabalhos de base locais e em redes de comunicação e solidariedade.