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Jornal 73: Urnas abertas, votos contados. Trabalhadores perdem


17 de outubro de 2014

Fim do primeiro turno. Agora é hora de começarmos a pensar o que esse processo eleitoral expressou, pois é importante para a definirmos as tarefas de continuidade das lutas.
Depois das jornadas de junho, essas eleições representam o primeiro grande acontecimento em que poderíamos identificar o nível de consciência política das massas de trabalhadores. Era grande a expectativa se teríamos ou não um comportamento de questionamento do processo eleitoral ou dos políticos tradicionais. E procurando responder a essa inquietação apresentamos um balanço inicial sobre o resultado do primeiro turno das eleições e a nossa proposta tática para o segundo turno: Voto nulo.

A RUPTURA COM O PT: INDO PARA A DIREITA?
No nosso jornal 70 (http://espacosocialista.org/portal/?p=3165) já tínhamos colocado que estava em curso uma ruptura com o PT, no plano político e também no sindical, inicial e cheia de contradições. Destacamos também que era “uma ruptura incompleta: Primeiro, porque é só pela negativa e não é acompanhada da construção de uma alternativa. Segundo, que muitas vezes se expressa de forma despolitizada e abre espaço para a direita capitalizar ou avançar, como as pesquisas eleitorais expressam”.
Nos grandes centros econômicos do país, o conteúdo dos votos para presidente foi de oposição ao governo federal e ao próprio PT. Para ficarmos em alguns exemplos: em São Paulo há literalmente uma “onda” contra Dilma e o PT (Dilma teve só 25% dos votos do maior colégio eleitoral do país), no Sul os votos de Aécio superaram os de Dilma. Somados os votos de Marina e Aécio superam em 17%. Essa foi a menor votação no PT desde 1989. A bancada federal do PT foi a que mais encolheu: de 88 para 70 deputados.
Outro fato importante de demonstração da ruptura com o PT é o fato de Dilma ter perdido a eleição na região do ABC paulista, tradicional espaço petista. Nas fábricas também vão se expressando descontentamentos com a direção cutista. São derrotas e mais derrotas. O comprometimento da CUT com as empresas tem feito com que façam acordos cada vez mais desfavoráveis aos trabalhadores.
Claro que esse processo ainda não levou o PT às lonas. A eleição de Pimentel em Minas, a possibilidade de fazer até 7 governadores com o segundo turno e o próprio fato de Dilma ter sido a mais votada com possibilidade de reeleição mostram que o partido ainda tem uma base eleitoral importante. Mas, cada vez mais deslocada para regiões mais periféricas do país, o que muitos atribuem aos programas sociais que o governo tem na região (51% dos beneficiários são dessa região).

UM VOTO CONSERVADOR
Toda aquela indignação das jornadas de junho foi para as urnas em forma de um voto, majoritariamente, conservador. Em todas as esferas 70% dos aptos a votarem compareceram às urnas, mantendo um quórum bem elevado.
A eleição do fascista Alckmin no primeiro turno; a vantagem de Pezão no Rio de Janeiro (legitimando as UPPs); Bolsonaro, Russomano, Feliciano entre os mais votados; o aumento da bancada da bala (delegados e policiais) e Serra, Ronaldo Caiado eleitos para o senado, dentre outros tantos exemplos, são demonstrações do caráter conservador e reacionário do Congresso Nacional que saíram das urnas.
Isso tudo demonstra que a direita conseguiu aparecer como a mudança. Primeiro, Marina com o discurso da nova política (não resistiu muito, pois a cada tema que surgia mostrava que era igual aos demais) e depois Aécio com o discurso de mudança.
Essa constatação continua no segundo turno para presidente também. Dilma e Aécio são expressões desse conservadorismo. Duas opções que são, em essência, contra os trabalhadores. No debate econômico, por exemplo, não há diferenças substanciais. Se Aécio já nomeou o neoliberal Armínio Fraga, Dilma já disse que vai trocar o ministro da fazenda por alguém da área empresarial.
Temos convicção de que os partidos burgueses são impossibilitados de fazer qualquer tipo de mudança que favoreça o trabalhador. O papel que cumprem na gestão do Estado é o de criar as condições necessárias para o capital garantir a sua reprodução.
Infelizmente, o incrível atraso na consciência de classe e a desinformação dos trabalhadores são razões para que propostas e discursos mentirosos como esses tenham apelo.

UMA COMPOSIÇÃO IDEAL PARA A BURGUESIA VOTAR MEDIDAS CONTRA OS TRABALHADORES
O resultado dessas eleições é também fruto de uma nova conjuntura que se abriu depois da Copa. O baixo crescimento, o aumento da inflação e uma maior competitividade no mercado mundial exigem do capital mecanismos que diminuam o custo da produção para melhor disputar o mercado mundial.
A derrota da greve de Metroviários, a diminuição das lutas em quantidade e intensidade (a greve de Bancários durou 5 dias, com pouco mais de 2% de aumento real), o papel da direção governista do movimento sindical que sabota greves (como em Correios de São Paulo, em que a direção do sindicato passou por cima da decisão da assembleia que havia votado greve) são novos elementos que facilitaram o trabalho da direita.
Essa combinação de pouca mobilização e o resultado eleitoral forma uma conjuntura bem favorável à burguesia. Seja Dilma ou Aécio, o próximo governo contará com uma base parlamentar bem comprometida com o projeto do capital, facilitando a implementação das reformas almejadas pelo empresariado.
Avaliamos que o próximo governo (Dilma ou Aécio) cumprirá uma agenda de brutais ataques à classe trabalhadora para atender as necessidades do capital.

ESQUERDA: ÀS RUAS, DE FORMA UNIFICADA
A campanha dos partidos de esquerda, em que pese ter apresentado alguns temas (como a questão da homofobia) não se debruçou sobre as dificuldades que a classe trabalhadora vai continuar enfrentando e fez uma campanha bem dentro dos limites da democracia burguesa.
Mais do que posicionar-se pelo voto nulo no segundo turno entendemos que a intervenção da esquerda deva se concentrar na discussão programática para ganhar politicamente a classe para enfrentar os ataques.
Não podemos fazer balanços e não tirarmos as conclusões. A vitória da burguesia nas eleições já era esperada, afinal, era dona do jogo, da regra, do campo e do juiz. Agora cabe a nós, da esquerda, reencontrarmos o caminho das lutas e o nosso campo de batalhas: as ruas. Organizar a classe trabalhadora por reivindicações imediatas, contra os ataques aos nossos direitos e por uma consciência de esquerda.

SEGUNDO TURNO: VOTO NULO
Mais uma vez, como é natural nesse sistema eleitoral burguês, teremos no segundo turno duas candidaturas do capital, que receberam centenas de milhões dos bancos, empreiteiras e agronegócio.
Diante desse quadro, como trabalhadores e ativistas conscientes, temos que rejeitar qualquer voto em Aécio como expressão de uma possível “mudança”, pois será certamente uma mudança reacionária contra os trabalhadores.
Mas, também não podemos cair na cilada do “mal menor” e votar em Dilma. Não podemos ceder a essa ilusão, pois apesar de algumas diferenças entre os dois partidos e blocos as diferenças são muito menores do que aquilo que os une.
Ambas as candidaturas são de partidos responsáveis por gerenciar o projeto do capital para o país, como foi o caso de privatizar (ou manter privatizadas) – ainda que por formas diferentes – parte fundamental da riqueza do país; realizaram as reformas para o capital (previdenciária: PSDB em 1998 e PT em 2003), impuseram uma política de arrocho ao funcionalismo público e a corrupção se manteve nos mesmos níveis.
Agora, o aprofundamento da crise, a composição reacionária do Congresso e as declarações de ambos os candidatos e seus assessores apontam para o mesmo sentido. Por mais que existam diferenças entre as formas concretas de governo do PT e do PSDB, ambos serão governos contra os trabalhadores e vão realizar uma série de ataques logo após a posse.
Assim, mesmo sabendo da enorme pressão do “Voto Útil” em Dilma é nosso dever marcar uma posição de defesa da independência de classe dos trabalhadores frente aos patrões e candidatos que de uma forma ou de outra representam os interesses dos empresários e do capital.
Como parte da campanha petista vamos ouvir várias frases prontas contra o voto nulo: “vai deixar a direita chegar ao poder”, “vai aumentar a repressão”, “vai acabar com os programas sociais.”
Argumentos falaciosos. Ninguém duvida que o PSDB seja parte da mais pura direita. No entanto, a direita tem sido levado ao poder também pelas mãos do PT, a fim de demonstrar unidade entre os projetos de governo para o país. Todos os ministros da agricultura, por exemplo, foram ligados ao agronegócio, setor de posições de direita (como da senadora Kátia Abreu, PMDB). Já é considerável o aumento da repressão aos movimentos sociais, a articulação para a não concessão de direitos como a legalização e descriminalização do aborto e para a não criminalização da homofobia. Além das bancadas fundamentalistas, a direita está entre os principais aliados do PT.
Em relação à repressão foi o próprio governo do PT que criou a Força Nacional, tropa de elite militar, utilizada para conter manifestações (como as contra a Copa) e para invadir favelas e manter projetos reacionários e antipopulares, como é o caso das UPPs.
Os programas sociais de renda (Bolsa Família, etc.) representam apenas 0,5% do PIB (cerca de 25 bilhões de reais) por ano, um gasto pequeno (1/40 do que é pago ao sistema da Dívida pública e ainda mantém sob controle político um imenso contingente de pobres). É provável que Aécio mantenha esses e outros programas como o PROUNI, o Minha Casa Minha Vida, etc., que beneficiam também ao empresariado.
Em relação às privatizações ambos os candidatos privatizam, apenas com diferenças de forma e mediações.
Outro fato que demonstra que Dilma representa um projeto do capital, tanto quanto Aécio, é que sua campanha até agora foi a que mais recebeu doações (investimentos) das empresas.
No momento atual, em que ocorre um processo de ruptura com o PT, fruto de uma experiência prática com o governo burguês desse partido e com sua atuação nos sindicatos, é fundamental não nos deixarmos levar pela política do “mal menor”, pois pode conduzir a um mal tão maior quanto o que já estamos visualizando.
Não nos esqueçamos de que em 98, no segundo turno das eleições para o governo de São Paulo, o próprio PT chamou voto em Covas (PSDB) contra Maluf (PP) alegando que o PSDB era o “mal menor”. Esse mal menor virou o mal maior e agora se elegeu no primeiro turno com Alckmin.
Precisamos resgatar as nossas propostas e exigirmos os direitos que contemplem de fato as necessidades dos trabalhadores, e não nos guiarmos pelo mal menor, sob pena da consciência de classe das massas de trabalhadores ir retrocedendo cada vez mais.
Mesmo com dificuldades a tarefa principal dos lutadores é contribuir para que os trabalhadores percebam que tanto Aécio quanto Dilma são nossos inimigos e que precisamos nos organizar para enfrentar as duras lutas que virão tanto em um governo quanto no outro. Votar nulo é dizer que nenhum nos representa e que poderão ser impedidos de governar com a unidade e a luta dos trabalhadores!