Greve dos metroviários, o que eu tenho a ver com isso?
29 de junho de 2014
Nas últimas semanas, os trabalhadores de São Paulo foram surpreendidos com a paralisação parcial das linhas de metrô da cidade. Diferentemente dos tão comuns problemas técnicos e lotações do dia a dia do transporte público, dessa vez o motivo foi que os trabalhadores que fazem o metrô funcionar, os metroviários, resolveram cruzar os braços e interromper seu trabalho para lutar por melhores condições de trabalho e vida e por um transporte publico digno.
A televisão falou muito mal da greve e infelizmente os trabalhadores se contaminaram com esse discurso e muitos ficaram contra os metroviários. A justiça, para favorecer mais uma vez os patrões, decretou que a greve era abusiva. Mas, é preciso ver além da pobreza de informações que vem da tv e entender o que de fato aconteceu.
Lutar é um direito! Abusivo foi o governo!
Desde o início de maio os metroviários tentavam diálogo com o governo. O próprio TRT (Tribunal Regional do Trabalho), em 26 de maio, orientou a empresa a pagar reajuste de 9,5%, 30% de adicional de periculosidade para aqueles que atuam na operação, dentre outras verbas. Mas o metrô não aceitou a orientação do TRT. Diante disso, os metroviários continuaram sua luta e fizeram um desafio ao governo, “liberação das catracas ou greve!”. Ameaçaram então liberar as catracas para pressionar a empresa e o governo e ao mesmo tempo não prejudicar os usuários. Mas logo o governo os proibiu, dizendo que isso “afetaria o equilíbrio financeiro do metrô”. Percebe-se, assim, que foi o governo quem optou pela greve, deixando para os metroviários apenas duas alternativas: aceitar uma imposição de condições rebaixadas de trabalho ou lutar pelos seus direitos. Desse modo, a greve foi o único caminho, decretada após muita tentativa de diálogo, sem nenhuma surpresa, como tentou fazer acreditar a mídia.
O que se pôde ver é que quando é pro trabalhador receber seus direitos dos patrões caloteiros, a justiça demora anos, mas pra declarar a greve abusiva é rapidinho, é decretada de um dia para o outro.
Infelizmente os metroviários não conseguiram tudo o que reivindicavam. Foi difícil manter a greve, pois o governo colocou funcionários do administrativo do metrô para substituir os trabalhadores da operação que faziam greve. Essa atitude irresponsável do governo deixou muitas estações funcionando com funcionários despreparados e sem nenhum segurança, a mercê de assaltos, estupros e acidentes. Mais um abuso do governo, não dos trabalhadores!
Como se não bastasse tudo isso, o governo mandou a polícia para bater nos grevistas, efetuou prisões e como prova de como é violento demitiu por justa causa 42 metroviários, mostrando que o lucro da empresa é para o governo mais importante que a própria vida dos trabalhadores.
A greve incomoda realmente a quem?
Durante a greve dos metroviários, os trabalhadores em geral reclamaram de terem demorado uma ou duas horas a mais para se deslocar pela cidade. A televisão, controlada pelos patrões, fez questão de falar o tempo todo que a greve prejudicava os trabalhadores, jogando todos contra os metroviários. Uma semana depois, no dia do jogo Brasil x México, a maioria de nós fomos obrigados a trabalhar meio período. Aconteceu que praticamente todos os trabalhadores da cidade saíram de seus serviços exatamente ao mesmo tempo, entre 12h e 1 da tarde. O transporte público da cidade não suportou e mostrou mais uma vez que não é capaz de atender às nossas necessidades. Nesse dia do jogo, muitos levaram 3, até 4 horas para chegar em suas casas. O impacto do jogo do brasil foi muito maior do que o da greve dos metroviários, mas o trabalhador não se revoltou, aceitou isso e ainda ficou feliz, pois estava saindo “mais cedo” para assistir futebol. Igualmente, a televisão não demonizou a FIFA por atrapalhar a vida dos trabalhadores. Portanto, devemos prestar mais atenção nessas coisas. A greve incomoda realmente aos patrões,pois afeta seus lucros e tira seu controle sobre os trabalhadores, e por isso eles tentam nos jogar contra qualquer trabalhador em greve. Não somos burros e não vamos aceitar essa manipulação!
Um dia será a nossa vez
Assim como os metroviários, todos nós sofremos com péssimas condições de vida e trabalho. Quantas vezes não somos injustiçados em nosso trabalho? Quantas vezes não somos obrigados a pagar a condução do próprio bolso, porque a empresa diz que só paga uma, quando paga? Quantos anos passamos vendo o preço dos alimentos aumentarem e o nosso salário não, ou aumentando menos que a inflação ? Quantas vezes somos insultados, feitos de idiotas e humilhados pelos nossos chefes e não podemos nada falar ? Tudo isso é injustiça contra nós, trabalhadores, e quando quisermos lutar contra tudo isso, vamos precisar da compreensão de outros trabalhadores. O governo e a tv dizem que não. Cada um que entra em greve é acusado de abusivo, vândalo, e de atrapalhar a sociedade, chegou até a demitir por justa causa! Temos então que ficar reféns dos empresários? É isso que querem pra nós? Diferente do que a televisão nos faz pensar, temos que permitir que qualquer trabalhador lute por melhores condições de vida, como fizeram os metroviários em sua greve. É muito importante respeitarmos a luta de qualquer categoria e apoiá-las como se fosse a nossa. Cada vez que uma greve de um colega de outra categoria é derrotada, nossas chances de ter nossas condições de trabalho melhoradas na nossa categoria diminuem também. Já os empresários, cada vez que nos derrotam, ficam mais ricos e mais fortes. Não somos empresários, somos trabalhadores! Nossa força é uma só, temos que ter solidariedade entre nós!
Assim como os metroviários, dizemos: “Chega de sufoco, assédio e corrupção”!
Por um transporte público gratuito, de qualidade e que sirva aos interesses dos trabalhadores e não dos patrões!
Lutar não é crime! Abusiva é a demissão! Readmissão já dos 42 metroviários!
Todo apoio a todos os que lutam por melhores condições! Todo apoio às greves e aos metroviários!
Por transporte, trabalho e vida dignos!
Por uma sociedade que sirva aos interesses dos trabalhadores, lutamos!
Este texto faz parte do Boletim Fora do Ar – Edição 4