Fora do Ar nº 1 – Essa Copa é do patrão / Somos todos manifestantes, somos todos Santiago!
23 de março de 2014
Março de 2014 | Edição nº 1
Essa Copa é do patrão!
Quando o Brasil foi confirmado para receber a Copa do Mundo de 2014, o plano do PT era usar a Copa para fazer propaganda do país e da sua administração, para mostrar ao mundo que o Brasil está no “rumo certo”. Para que o plano dê certo para o governo, a Copa tem que ser um sucesso, o povo brasileiro tem que ficar contente com isso, esquecer momentaneamente os problemas e reeleger Dilma em 2014. Todo o esforço do governo e dos poderosos, através das suas televisões, jornais, propagandas, tem se concentrado em fazer as pessoas engolirem essa versão, como se a Copa fosse simplesmente uma grande festa. Esse era o plano. Mas como dizia o saudoso Mané Garrincha, “faltou combinar com o adversário!” O adversário no caso somos nós, os trabalhadores, em especial os jovens, que não se contentaram com essa mentira. No país do futebol, a população começou a pedir transporte público de qualidade, educação, saúde, moradia, fim da corrupção.
As manifestações começaram em junho de 2013, em plena Copa das Confederações, e desde então não pararam mais. Mesmo com a violência da polícia e as mentiras das televisões e jornais (que dizem que os manifestantes são vândalos, etc.), as manifestações continuam acontecendo, e vão continuar, porque o país NÃO está no “rumo certo”. Apesar de toda a propaganda do governo e dos poderosos, a Copa vai muito bem, mas o povo vai mal. O transporte público continua caro, lotado, demorado, as escolas continuam péssimas, faltam professores, e os que estão em sala de aula são mal remunerados e sobrecarregados, as pessoas continuam morrendo nas filas dos hospitais, milhões de brasileiros nas periferias das grandes cidades moram em barracos sem a menor condição. Quem tem emprego é super explorado, trabalha demais, por um salário de menos, se afoga em dívidas no banco, no cartão de crédito, nos carnês, tem que aturar a cobrança e o abuso dos patrões, por causa do medo de ser demitido. Essa é a realidade do trabalhador. Centenas de pessoas perdem suas casas e sem garantias (nas 12 cidades que terão jogos da Copa) para dar lugar às obras dos estádios. Além do Itaquerão, houve mortes e superexploração dos operários em outros estados. Há estádios sendo construídos em cidades que nem sequer tem time de futebol na 1ª divisão, como Brasília, Cuiabá e Manaus, só para dar dinheiro para as construtoras!
O trabalhador sofre, os políticos roubam e os poderosos festejam. O PT usa metade do orçamento do governo para pagamento da dívida pública e para ajuda às grandes empresas. A FIFA, que organiza a Copa do Mundo, é só mais uma dessas empresas beneficiadas, já que o governo gastou mais de R$ 30 bilhões com a Copa. Os governos do PSDB brigam com o PT, mas fazem a mesma coisa, privatizam, entregam dinheiro público para grandes empresas, etc., e também levam uma fatia da corrupção, basta ver o escândalo do metrô de São Paulo. Esses partidos estão do lado dos poderosos, não nos representam! Essa Copa do Mundo não nos serve! Não aceitamos o desvio do dinheiro público! Esse dinheiro é nosso, tem que ser para melhorar as nossas condições de vida e não para favorecer empresários! Lutamos por uma vida justa e sem divisão entre ricos e pobres!
NÃO À COPA DOS EMPRESÁRIOS!
CONTRA O REPASSE DO DINHEIRO PÚBLICO À EMPRESAS!
POR SAÚDE, EDUCAÇÃO, TRANSPORTE E MORADIA DIGNOS!
NÃO ÀS REMOÇÕES!
CONTRA A REPRESSÃO ÀS MANIFESTAÇÕES! LIBERDADE PARA QUEM ESTÁ NA LUTA!
CADEIA PARA OS CORRUPTOS!
Somos todos manifestantes, somos todos Santiago!
Todxs lutadores que saem nas ruas e se manifestam, usando de seu direito devem refletir sobre o incidente que resultou na morte do cinegrafista Santiago, ferido em manifestação no Rio de Janeiro. Sem cair na manipulação da TV e dos jornais, lamentamos e sempre lamentaremos profundamente que trabalhadores sejam feridos. Com esse triste evento os governos e as empresas de comunicação aproveitaram para reforçar sua campanha contra a juventude, que já está cansada de promessas eleitorais, dizendo ainda mais o de sempre: que os jovens são vândalos e criminosos. As manifestações de junho de 2013 deixaram uma rica experiência de luta os jovens que não têm nada a perder nem o que esperar dos governos. Sabemos que Santiago não foi o primeiro e nem será o último trabalhador vítima de confrontos com a repressão, em São Paulo temos o exemplo recente de Fabrício Alves. Devemos considerar que a propaganda da grande impressa e de quem lucra bilhões com os gastos da copa é muito mais poderosa que nossa capacidade de falar para um grande número de pessoas. A juventude trabalhadora e pobre é e sempre foi espancada e assassinada quando reclama por melhores condições de vida, mas a mídia diz o contrário, pois é “pau mandado” dos empresários. Diferente de Junho de 2013, quando as manifestações se popularizaram, neste ano temos vivido vários meses de intensos bombardeios de propaganda para que a população ficasse contra os atos de revolta.
Atualmente existe no Congresso Nacional o projeto de Lei antiterror e o projeto de lei do crime de desordem, que propõem no fundo impedir as manifestações além de prever penas de até 30 anos de prisão. Tal é a hipocrisia dos políticos que Paulo Maluf é procurado em 181 países e por aqui é deputado federal. Percebemos que contra esses tipos de vândalos não há empenho em “tomar medidas enérgicas”. Vivemos um momento decisivo. Estamos às vésperas de uma Copa do Mundo que desviará da saúde, educação e transporte R$ 8,9 bilhões só em construção de estádios. Nossa luta não começa nem termina na passeata, na destruição de uma agência bancária ou mesmo no enfrentamento com a PM. Nossa combatividade deve também mostrar o projeto da sociedade que queremos, nos juntar com todos os setores explorados que só têm a perder com a realidade atual. Os professores, trabalhadores da saúde e transporte coletivos, movimentos por moradia e terra estão entre as categorias que ano após ano enfrentaram o desmonte dos serviços públicos, especulação imobiliária, baixos salários e péssimas condições de trabalho em nome do lucro dos banqueiros. Devemos também impulsionar atividades em comum com estudantes em defesa da escola pública, pela redução das mensalidades, pelo acesso à universidade pública e
gratuita de qualidade. Cada ato e manifestação devem ser pensados como apenas um momento da luta que precisa pertencer à todos os explorados e indignados com a corrupção e o descaso com as necessidades de quem trabalha. Vamos buscar o apoio de quem não pôde ir às manifestações até agora, por medo ou confusão. Para tanto, precisamos ser simples na abordagem das pessoas e explicar exatamente o que significa cada reivindicação, que não queremos Copa sem direitos, que não aguentamos mais ser tratados como animais enjaulados em trens, metros e ônibus, nem como moribundos nos hospitais. Chega de tudo isso! Vamos nos organizar, explicar, convencer! Temos o direito de nos defender de qualquer tipo de agressão, seja da polícia ou do patrão! Chega de ser agredido todo dia pagando caro pra andar em coletivos superlotados e de sentir dor nas filas dos postos de saúde enquanto políticos fazem farra com nossa miséria! Vamos mostrar que as manifestações continuam enquanto continuar a miséria e o desvio de dinheiro público.
Essa Copa não é nossa, essa Copa é do patrão!
Padrão FIFA para todas as escolas, hospitais e transporte!
Em defesa de todos os manifestantes, esta luta é de todos nós, trabalhadores!