Balanço da Greve Nacional dos Petroleiros
6 de junho de 2018
Preparativos da Greve
Entre o final de abril e a segunda semana de maio, os petroleiros – base da Federação Única de Petroleiros (FUP) – de todo o país aprovaram indicativo greve.
A principal reivindicação era o combate à privatização, pois, em menos de dois anos foram vendidos 29 ativos (campos de exploração do pré-sal, geradores de energia térmica, etc.) e mais outros 20 estavam em fase de negociação. Um dos destaques dessa luta que se avizinhava era combater o plano de se vender 4 refinarias.
A FUP corretamente sinalizava que a população sofria com a elevação dos preços de combustíveis (gás de cozinha, gasolina e diesel, principalmente). Entendia que para barrar esses planos de venda era necessário impedir a política de preços de Temer e do presidente da Petrobrás Pedro Parente.
Essa atual política de preços exige que, cada vez mais, as refinarias produzam menos e elevem mais os preços para tornar mais atrativa a entrada de outros investidores no mercado interno. A variação do dólar e do preço do barril de petróleo passaram a ser repassados diariamente aos derivados nacionais de petróleo.
Conselho Deliberativo da FUP de 17 de Maio: O primeiro grave erro
Mesmo com apoio da maioria esmagadora dos Petroleiros, a FUP se reuniu em maio e não avançou. A reunião do Conselho Deliberativo não fez o que era esperado pelos trabalhadores, que queriam resistir. Não marcou uma data de mobilização e também não preparou a mobilização. Sua principal decisão foi marcar uma nova reunião para 12 de Junho, em que seria marcada, talvez, uma data de greve.
Isso aconteceu mesmo com alguns Seminários de Greve tendo sugerido para FUP fazer informativos amplos à população, envolver outras categorias, fazer manifestos aos engenheiros e supervisores, preparar cartilhas com orientações precisas aos grevistas, etc.
A decisão “equivocada” da FUP teve como consequências o começo de algumas lutas pulverizadas pelas bases do país: Corte de rendimentos de 8h e alguns casos de 16h, em bases sem articulação umas com as outras e a perda de “protagonismo” na bandeira para reduzir o preço de combustíveis para os caminhoneiros.
A greve de caminhoneiros, iniciada no dia 21 de maio, uma das greves mais fortes do país, teve contradições, apoio de empresários, influência de elementos de direita, mas carregava em seu meio as reivindicações de caminhoneiros trabalhadores sem direitos, superexplorados, etc.
A dificuldade histórica da FNP se mantém
Ao longo dos anos, a FNP não conseguiu ser o que se propõe, uma Federação Nacional. Sempre fez um trabalho melhor que o da FUP em sua própria base, mas ainda não conseguiu expandir além disso.
Nesse contexto de erro da FUP, surgiu uma primeira tentativa da FNP de avançar na luta e passou a ir nessas várias bases (da FUP) que seriam as primeiras a serem vendidas. Isto via acordo/convite dos próprios sindicatos da base.
Tentou-se construir uma unidade de dirigentes medianos, dado que não se conseguiu um acordo de cúpula. E não se teve qualquer iniciativa real de acordo pelas bases.
O resultado foi o fortalecimento e não ampliação das lutas pulverizadas. Que em meio a forte greve dos caminhoneiros, conseguiu dar audiência até internacional a alguns diretores sindicais petroleiros.
A denúncia da política “entreguista” de Parente começou a “romper a bolha”. A população começou a se perguntar porque as refinarias estavam produzindo menos diesel do que poderiam enquanto o país estava importando mais e com um preço mais caro? Porque o preço do petróleo que é nosso é reajustado em dólar, se continuamos recebendo em real?
Nova Reunião do Conselho Deliberativo da FUP e novo erro
O erro das grandes centrais sindicais em meio a greve dos caminhoneiros e sua falta de ação em não disputar o momento se tornaram patentes no caso da FUP. Já não se tratava mais de protagonismo, a cada dia em que atrasa ação, o movimento dos caminhoneiros ganhava mais influência de elementos de direita.
A luta por reduzir o preço dos combustíveis é cada vez mais simplificada e passava a ser para reduzir impostos do diesel, mesmo que isso custasse outros impostos e preços para a população.
Vendo o quanto estava errada em seu calendário anterior, a FUP marcou uma nova greve de “advertência” para dia 30 de maio, greve por tempo determinado – 72h.
Além da ridícula proposta de advertência em meio ao caos do país, a data da greve foi agendada para um momento em que dificilmente a greve de caminhoneiros não estaria em refluxo ou mesmo encerrada. Desconsiderando, inclusive, o inimigo que enfrentava e suas possíveis manobras legais.
Como se estivesse blefando, a FUP não preparava sua base, não orientava os trabalhadores, nem delimitava bem o impacto que queria causar.
O Inimigo se movimenta
Mostrando que não estava para brincadeira, o governo/direção da Petrobrás conseguiu uma liminar para considerar a greve abusiva, antes mesmo de se iniciar e multas astronômicas ameaçaram as entidades sindicais.
O efeito foi devastador e as direções de bases importantes, que estavam na lista para serem as primeiras a serem vendidas, recuam.
A FUP tentou manter a greve, mas, após uma nova liminar que aumentava a multa – sua reunião online encerrou o indicativo de 72h e no dia seguinte, ou seja, com 48h – suspendeu a greve.
Trabalhadores pelo país passaram a receber ameaças e convocações escritas para retornarem ao trabalho. Algumas bases quebraram a “unidade da FUP” pela direita (infelizmente, não é a primeira vez que isso ocorre dessa forma) e voltaram a trabalhar na própria noite.
A FNP também não conseguiu manter a greve em algumas bases e também teve o retorno dividido.
3° dia da Greve
No último dia de greve apenas 4 bases resistiram parcialmente. MG, SE, RJ (capital) e PA. Contudo, todas suspenderam antes das 72h. MG foi a única que teve o doce sabor de somente suspender a greve após a renúncia de Parente.
Próximos passos
Esse foi somente o primeiro jogo do campeonato, em que os trabalhadores marcaram um gol aos 45′
do segundo, após todo o tempo sem nem arranhar a área e com várias ameaças de gol adversário.
A renúncia de Parente é resultado de um conjunto de fatores, que relaciona a greve de caminhoneiros, as denúncias de petroleiros, a tentativa de greve de 72h, a resistência, o desgaste de Temer junto à população, os preços dos combustíveis, etc.
Contudo, nada indica que os projetos do governo foram destruídos, pelo contrário, o discurso é de que as vendas de refinarias serão apenas engavetadas para um próximo momento e que a política de preços será mantida.
Mesmo com esse gol, temos que estudar as falhas no jogo, para que o inimigo não as usem num próximo momento.
A FUP mostrou que não está à altura dos desafios (disse que faria uma greve de advertência e foi advertida). A FNP mostrou que com seus problemas internos não consegue reverter as falhas da FUP. Temos um problema de técnico.
Temos um grave problema com a Justiça, que até então mantém um direito constitucional e democrático na ilegalidade. Parece que o Juiz torce para o outro time.
Os trabalhadores não conseguiram ainda estabelecer uma rede de contatos nacionais, nem ter medidas que elevem seu patamar de organização. Acabou o tempo de teatros, o jogo daqui para frente é pesado.
Temos que confiar uns nos outros em luta. É hora de voltarmos a encher os sindicatos, os seminários, controlar e preparar bem os próximos passos. A greve de caminhoneiros explicitou a importância dos combustíveis, os petroleiros podem e devem levantar essa bandeira para a defesa do papel social da Petrobrás e ter um papel importante na história do país. Chega de servir para os lucros de acionistas internacionais!