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A luta da população LGBT+ contra a opressão e a exploração do capitalismo


1 de junho de 2018

O dia 28 de junho é o Dia do Orgulho LGBT+ (lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual, todas as formas de expressão, de identidade de gênero e de sexualidade não convencionais). Essa data é marcada por um episódio de enfrentamento dessa população aos policiais que queriam coagi-las, em Nova York (EUA), no bar Stonewall Inn. Após essa situação, a data se instituiu como o Dia do Orgulho LGBT+ e o mês de junho como o mês do Orgulho LGBT+.

Stonewall hoje e sempre, vivo na memória LGBT+!

O ano era 1969 e em Nova York o alvará para a venda de álcool em bares gays era negado, por isso a máfia realizava essa transação. Portanto, sempre ocorriam “batidas” policiais buscando sua parte no suborno, além de se aproveitarem e praticarem a violência contra a população LGBT+ que frequentava os bares com coerções, intimidações e provocações.

O dia era 28 de junho e o novo comandante da polícia, Seymor Pine, não concordava com essa corrupção e queria prender todos os envolvidos em crimes de lavagem de dinheiro, para isso realizou o fechamento de bares gays da cidade como o Damierboard e o Tele-Star.

O local era o bar Stonewall Inn, na rua Christopher, no bairro de Greenwich Village, por volta da 1h30 da madrugada e em uma dessas batidas policiais ocorreu a prisão de algumas LGBTs+ que se incomodaram com a abordagem policial. Na época era obrigatório o uso de pelo menos 3 peças de roupa “adequadas ao gênero”, logo, além de garçons e proprietários, a polícia prendeu também várias travestis e lésbicas.

Enquanto aguardava o reforço para levar as pessoas presas, o restante das LGBTs+ saiu e rodeou o camburão. Uma travesti foi agredida e revidou ao ataque policial, uma lésbica resistiu à prisão e provocou o público ao redor questionando se ninguém faria alguma coisa e uma drag queen também resistiu à prisão atacando um policial.

Esse foi o estopim para que a multidão ao redor começasse a revidar e realizasse o enfrentamento direto aos policiais. O inspetor Pine e seus oficiais se refugiaram dentro do bar. As LGBTs+ arrancaram um parquímetro e queriam derrubar a porta para enfrentá-los. Uma das histórias contadas diz que a ativista transgênero Sylvia Rivera arremessou o primeiro coquetel molotov contra os policiais, mas sabe-se que vários foram lançados.

As LGBTs+ entraram em estado de fúria. Começaram jogando moedas, depois garrafas e logo viraram carros, jogaram pedras, estilhaçaram janelas, queimaram objetos… Foi lindo!!!

A drag queen ativista Marsha P. Johnson chegou a quebrar o para-brisa do carro policial com sua bolsa! O bar foi incendiado e o confronto durou cerca de 45 minutos.

Logo chegou o Corpo de Bombeiros e a Força de Patrulha Tática (uma unidade militarizada criada para conter os protestos da população negra do Harlem) e acabou o protesto. Foram levadas 13 pessoas presas. O restante deu os braços e saiu em coro cantando, atrás da polícia.

No dia seguinte, os jornais menosprezaram o fato. O jornal Village Voice informou que o protesto ocorreu pela morte da atriz Judy Garland. Mas, mesmo sendo uma atriz querida pelo público LGBT+, o fato é que o protesto foi em luta pelos direitos LGBTs+ e contra toda opressão que sofrem em seu cotidiano, tanto pela violência quanto a desvalorização na sociedade. No dia seguinte retornaram ao bar e mantiveram o confronto por vários dias.

Esse episódio teve repercussão mundial e trouxe à tona a importância da luta LGBT+. Foram criadas organizações explicitamente homossexuais como a Frente de Libertação Gay e a Aliança de Ativistas Gays, assim como a criação dos jornais Out! e o Gay Power dedicados a essa temática.

No dia 28 de junho de 1970, um ano após o início da batalha de Stonewall, as ativistas LGBTs+ da região realizaram a primeira Parada do Orgulho Gay (hoje chama-se Parada do Orgulho LGBT+). Instituindo este dia como a data que marca a luta pela defesa da diversidade de gênero e sexualidade, o Dia do Orgulho LGBT+.

O patriarcado e o capitalismo que massacram as LGBTs+ todos os dias

A luta contra a opressão às LGBTs+ não surgiu no episódio de Stonewall, há registros anteriores de muitas outras ações e organizações. No entanto, a opressão, esta sim, existe há muito mais tempo.

A forma como se compreende a constituição das identidades e das sexualidades hoje, tendo como padrão a cisgeneridade e a heterossexualidade, impõe o apagamento da diversidade que de fato existe.

Para compreender a forma como a diversidade enfrenta tantas resistências e preconceitos é necessário retomar, ainda que muito brevemente, a forma como se organizou a sociedade até os dias atuais, pois só assim podemos entender como se formou essa normatização de nossas identidades, corpos e de nossos desejos.

Muitos estudos indicam que as comunidades primitivas (período que a humanidade extraia de forma direta da natureza a satisfação das necessidades, tanto na América como na África) já possuíam outros entendimentos sobre gênero e identidade sexual. Nessas sociedades já se apresentavam diversas manifestações de relações homossexuais.

Além de que em muitas também se encontraram travestis, sendo muito reverenciadas e respeitadas como importantes entidades nas tribos. É o caso dos Berdaches, pessoas cuja identidade de gênero não coincidia com o gênero físico. A identidade compunha seu espírito (dado anteriormente ao nascimento), enquanto a sexualidade poderia ser homossexual ou heterossexual.

Importante comentar que essas sociedades não tinham a figura masculina como centro da organização parental, mas, sim, a da mulher. Logo, não importava quem era o pai, mas como a família materna se organizava para cuidar dos filhos, seja pelas avós, tias, etc.

Com o desenvolvimento de novos instrumentos, aumenta a produção e o ser humano passa a produzir além do necessário, surgindo a necessidade de armazenar bens. A partir daí, não precisava depender totalmente dos fenômenos da natureza para sobreviver já que poderia organizar a plantação e a criação de animais em quantidades suficientes para a alimentação da comunidade em qualquer período.

Com isso surge a propriedade e a acumulação privada de recursos, levando a humanidade a outro patamar. Para garantir o controle privado desse excedente, surge a propriedade privada, o Estado e também a violência. É nesse processo que o patriarcado e a divisão social e sexual do trabalho se desenvolvem. Foi como resultado do desenvolvimento das forças produtivas que os homens passaram a subjugar fisicamente as mulheres e os filhos, pois para manter a riqueza acumulada e a futura herança, o “patriarca” precisava saber quem eram seus filhos legítimos. Logo a mulher foi tendo seu espaço restringido e controlado pelo homem para que se tivesse a certeza que os filhos gerados por ela fossem, de fato, dele. É nesse contexto histórico que surge o casamento heterossexual e monogâmico constituindo o sistema patriarcal, que controla os afetos e desejos de homens e mulheres.

Outra mudança importante é que os corpos passam a ser direcionados só à reprodução, onde, segundo a ideologia construída, não caberia outras relações que não a heterossexual. E nesse novo esquema o prazer e o desejo também não tem espaço.

A conexão com a religião para que se compreendesse o sexo e o desejo como pecaminosos foi um passo para a consolidação desse processo, de modo que as religiões monogâmicas foram fundamentais para a consolidação ideológica do patriarcado.

O modelo de família “doriana” (unida, apegada, senso maternal, não se permitir horas livres, etc.) foi extremamente necessário para que a sociedade pudesse se consolidar com a estrutura de apropriação privada dos recursos.

Na sociedade burguesa as famílias de trabalhadores, mesmo não tendo posses, também seguiram esse modelo pela pressão da burguesia e seus mecanismos de controle do proletariado. Assim, criava leis que legitimavam esse modelode família como única possível e jogava a culpa nos trabalhadores por não seguirem esse padrão. Usava ainda a moral religiosa, chantageando-os a seguirem os preceitos sagrados (que ela definia como “sagrados”) para a obediência civil, senão teriam suas almas condenadas.

Cabe destacar que essa estrutura “beneficiou” ao homem heterossexual burguês, que pode ter controle sobre os corpos das mulheres sem praticar a monogamia, já que haviam os bordéis para a “satisfação masculina” e para a sua poligamia. Enquanto isso, a esposa se mantinha em casa fiel ao marido e cuidando dos filhos.

Assim, tanto as sexualidades não heterossexuais e as identidades de gênero que não são cisgêneros foram colocadas à margem da sociedade, criminalizadas e consideradas pecaminosas.

Isso não significa que deixaram de existir, mas que as práticas eram realizadas escondidas ou inibidas e levaram pessoas ao sofrimento (muitos casos até ao suicídio) ou, ainda, se criavam práticas de resistência e enfrentamento ao sistema social para que a diversidade pudesse ter novamente seu espaço na sociedade.

O que é o quê?

Nesse curto espaço não temos como expor todos os elementos sobre as questões de sexualidade e gênero, mas esperamos que seja um início para a compreensão acerca dessas nomenclaturas:

Sexo: Diz respeito ao órgão genital e ao corpo que nascemos (com pênis – masculino; com vagina – feminino).

Identidade de gênero: Compreende uma construção social a partir de constructos que se definem historicamente na sociedade, resvalando na individualidade de cada pessoa. Pode uma pessoa se constituir enquanto homem, mulher ou fugir a esse binarismo e se entender enquanto outras possibilidades de ser. Pode até se manter na transição de ambos os gêneros apresentados. A identidade de gênero nada tem a ver com o sexo de nascimento. Assim, pessoas que nascem com pênis e se constroem como mulheres são travestis e transgêneros. Já pessoas que nascem com pênis e se constroem como homens são pessoas cisgêneros.

Orientação sexual: É a forma como a pessoa constrói a sua sexualidade e afetividade. Seja homossexual (pessoa que se sente atraída por outras do mesmo gênero), heterossexual (pessoa que se atrai por outras do gênero que não é o seu), bissexual (pessoa que sente atração por homens e mulheres) e pansexual (pessoa que sente atração por qualquer pessoa independente do gênero), dentre outros. É errado dizer “opção sexual”, pois a sexualidade não é uma questão de escolha, faz parte do desenvolvimento da identidade de uma pessoa. Assim, é impossível que a pessoa se “cure” ou se adéque a outra sexualidade, necessita sim trabalhar o reconhecimento e o fortalecimento de si para enfrentar os preconceitos.

A luta contra a opressão e a violência às LGBTs+

Hoje vemos o crescimento da visibilidade para as LGBTs+ na TV, na literatura, na música, etc. Porém, temos cada vez mais a violência LGBTfóbica, que ocorre em nosso cotidiano e possui cada vez mais dados alarmantes.

Segundo o Disque 100 (Disque Direitos Humanos), no ano de 2017, foram registradas 193 denúncias de violência praticadas contra essa população. Representam 127% a mais que no ano anterior, o que equivale a 16 denúncias por mês!

Lembramos que em 2016 o Brasil já havia recebido o título de país que mais mata LGBTs+ no mundo! Ainda cabe destacar que esses dados se referem aos coletados oficialmente.

Já os dados coletados de forma independente como da ONG Grupo Gay da Bahia (GGB), que acompanha a muito mais tempo que o Governo Federal, informa o registro de 445 homicídios de LGBTs+ no Brasil em 2017. É bem superior aos dados do Disque 100, evidenciando que o próprio Estado encoberta, negligencia e subnotifica os crimes LGBTfóbicos…

É importante lembrar que a violência em geral está aumentando no país, especialmente pelo aumento do desemprego e diminuição de verbas para as políticas públicas. Isso tem diminuído a renda da população e levado cada vez mais para a pobreza extrema.

No entanto, a violência LGBTfóbica acarreta não apenas a ação bruta de um homicídio, um tiro ou uma facada como em outros crimes, carrega ainda uma violência adicional praticada pelo ódio e intolerância às pessoas que não seguem o padrão heterossexual e/ou cisgênero. A violência simbólica, própria do patriarcado, corrobora com homicídios e agressões explícitas por manter cotidianamente o silenciamento sobre piadas, rejeições e exclusões de certos ambientes.

Um casal de homossexuais que andam de mãos dadas em público, uma demonstração de afeto (como um abraço), a própria existência de uma travesti ou transexual nas ruas já são passíveis de xingamentos, pedradas, pauladas e até de um homicídio!

Cabe destacar que a violência se pratica não só fisicamente, mas de diversas formas e que inibem uma LGBT+ a lidar com sua identidade e/ou sua orientação sexual.

Desse modo, a ONG GGB também avaliou que jovens rejeitados pela família têm 8,4 vezes mais chance de cometer suicídio. O que vimos em 2017 é que, além dos homicídios registrados, ocorreram 58 suicídios de LGBTs+ no Brasil.

A homofobia que persegue em cada esquina

Uma pesquisa recente mostrou que, na cidade de São Paulo, 43% das pessoas entrevistadas são contra manifestações de afeto como beijos e abraços entre homossexuais em locais públicos, tal qual heterossexuais praticam. Ainda, 30% se mostraram nem contra e nem a favor e somente 22% se mostraram favoráveis! Em contrapartida, 51% dos homossexuais entrevistados já informaram que sofreram homofobia em lugares públicos, sendo 46% no transporte público. (Fonte: Ibope)

Com isso, podemos entender que a homofobia cresce na proporção da intolerância e do preconceito.

Lesbofobia: a prepotência do patriarcado!

Mulheres lésbicas sofrem duplamente: pela homofobia e pelo machismo, que promovem a imposição da servilidade ao homem justamente por não se disporem a ter homens em suas relações sexuais-afetivas.

Em 2017, cerca de 43 lésbicas foram violentadas. Além dessa violência que não é somente física há a violência sexual machista do “estupro corretivo”, que homens praticam para tentar mostrar a elas “como devem sentir prazer” violando, assim, seus corpos e a identidade lésbica.

É necessário enfrentarmos o machismo em todas as suas formas: pelo fim da lesbofobia!

A bifobia existe!

A orientação bissexual tem muita dificuldade de ser compreendida enquanto uma possibilidade de existência, pois sofre preconceito tanto na sociedade em geral quanto no próprio meio LGBT+ que não reconhece a possibilidade de uma pessoa ter relações com homens e mulheres.

Por isso, a “passibilidade hetero”, que coloca as pessoas bissexuais como mais propensas a serem heterossexuais e, assim, não sofrerem preconceitos não passa de falácias.

Estudos da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres mostram que bissexuais têm muito mais dificuldades de aceitarem a sua orientação sexual, tendo 64% mais chances de que homossexuais de terem distúrbios alimentares, 37% mais chances de praticarem a automutilação e 26% mais propensas de desenvolverem quadros depressivos.

Portanto, é fundamental reconhecer que a bifobia existe e mata as pessoas bissexuais também!

O impedimento da existência T: A Transfobia

O Brasil é o país que mais mata travestis e pessoas transexuais ao redor do planeta! Segundo a ONG Transrespect, nosso país é o responsável pelo assassinato de 40% de todas as travestis e transexuais nos últimos 10 anos em todo o mundo!

Em 2017, 191 pessoas sofreram violência transfóbica. Só para se ter noção do tamanho da violência no país, se comparado aos EUA, uma pessoa trans tem 12 vezes mais risco de morrer de forma violenta no Brasil que em solo estadunidense!

Entre as 58 denúncias registradas, até o mês de maio de 2018, pelo Disque 100, foram 41 contra pessoas travestis e transexuais!

O ódio à população T leva à intensa marginalização e condena a não ter acesso à Educação, Saúde, moradia e muitas vezes nem ao nome social! Possuem uma expectativa de vida no Brasil, em média, de 35 anos (menos da metade da média nacional de 75 anos!).

Não aceitamos isso! A luta por direitos de travestis e transexuais é urgente! Pela garantia e pelo o direito de viver!

Respeitamos e devemos conviver com cada pessoa a partir do que se é e sem julgamentos, pois enquanto nós trabalhadores nos matamos, nossos patrões riem da nossa cara e continuam sugando nosso trabalho. Paz entre nós, guerra aos senhores!

A luta contra a opressão: o Movimento LGBT+!

A todo momento querem impor o silenciamento, como na Rússia que no dia-a-dia criminaliza as manifestações LGBT+, mas, durante a Copa do Mundo liberou os símbolos LGBTs+. Isso não é respeito. É só uma forma de aumentar o consumo, ou seja, estão interessados no dinheiro!

Sabemos que o movimento LGBT+ lida com diversas polêmicas e contradições como a cooptação de alguns setores ao aparatos do Estado (o mesmo que massacra e legitima a violência contra essa população), assim como outras são seduzidas ao poder do Pink Money, mercado de produtos direcionados ao público LGBT+. Buscam usar essas identidades como massa de consumo e buscam “patrocinar” ações que, no fundo, servem para criar formas de explorá-las também!

Precisamos resgatar Stonewall e todas as lutas que as LGBTs+ travaram em nossa história!

Porém, precisamos nos reconhecer enquanto população marginalizada e excluída desse sistema que nos oprime e explora. Precisamos usar nossas forças para enfrentar todo tipo de preconceito. Somos parte da classe trabalhadora e precisamos nos unir! Queremos uma sociedade livre! Lutamos pelo socialismo!

Defendemos um movimento LGBT+:

a) de luta – de atuação na realidade e que tenha a concepção de que só a luta poderá garantir a conquista dos direitos do movimento LGBT+;

b) antigovernista – ou seja, de oposição aos governos burgueses de plantão e contra a política aplicada por esses governos para o setor;

c) classista – formado por trabalhadores/as e de defesa dos interesses da classe trabalhadora;

d) socialista – que luta pela revolução socialista e por uma sociedade livre de todo tipo de opressão (de gênero, sexual e racial).

Se você tiver interesse em debater esses temas, nos conhecer mais ou sente a necessidade de se organizar, entre em contato e venha construir o Espaço Socialista conosco!