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Síria: 7 anos de guerra civil e de avanços no massacre à classe trabalhadora


14 de abril de 2018

Desde a Primavera Árabe, em 2011, na Síria se estabeleceu uma série de confrontos que culminou numa guerra civil entre o Exército Sírio, comandado pelo ditador Bashar Al Assad, e a oposição síria que tem se organizado em diversos grupos políticos armados.

De lá para cá, muitos grupos têm se levantado e entrado em embate na região reivindicando interesses políticos, econômicos, religiosos e, inclusive, liberdades democráticas (http://espacosocialista.org/portal/2013/09/siria-nem-bombardeio-e-nem-intervencao-do-imperialismo/).

Concomitante a essa situação, temos governos imperialistas buscando influência política na região diante dessa instabilidade para conquistar mais território (região é importante rota comercial) e, consequentemente, suas reservas de petróleo e gás. Não é à toa, por isso, que EUA, Rússia, Turquia, Catar e Arábia Saudita têm dado apoio político e têm feito financiamento de armas aos vários grupos, de acordo com os interesses de cada um dos diversos grupos armados e atuantes.

Entre os dois lados em combate nessa guerra civil está a classe trabalhadora síria sendo massacrada e sofrendo os mais diversos atentados com gerações de crianças nascendo, crescendo e morrendo em meio a esse terror.

Bashar Al Assad e sua ditadura: o domínio totalitário da Síria

Bashar Al Assad está no governo sírio desde o ano 2000. Substituiu seu pai, Hafez Al-Assad, que governou o país por 30 anos, até a sua morte. Segue estritamente a tradição secular de opressão e violência contra qualquer força que se oponha ao regime totalitário.

Após o início da guerra civil, Al Assad recebe apoio da Rússia, principalmente, no embate e enfrentamento aos opositores do regime e mantém a ofensiva sobre eles.

Em uma última ação, entre fevereiro e março de 2018, na região de Ghouta Oriental próximo a Damasco, as tropas sírias e russas realizaram ataques aéreos e terrestres, bombardeios, que mataram mais de 1000 civis e expulsaram cerca de 20 mil pessoas que buscam refúgio em outros locais.

Assim, Assad vai pouco a pouco restabelecendo o controle total do país. O Exército já domina 55% do território sírio. E mantém importantes regiões inteiras, como Damasco, sob seu domínio, o que possibilita avançar em seu projeto totalitário, conservador e de domínio sobre a região.

Grupos fanáticos religiosos e a oposição a Al Assad

Nos levantes contra Bashar Al Assad vários grupos têm se organizado e mantido o enfrentamento ao regime totalitário. Porém, apesar das diferenças, muitos desses grupos têm em comum a tradição salafista que é um braço ultraconservador sunita. Umas das várias correntes do islamismo mundial. Esses grupos, cada um com seu respectivo líder religioso, aglutina seus fiéis e realizam os combates não só por questões políticas, mas principalmente em nome da fé, de uma concepção de política ou de Estado amparado na interpretação do alcorão.

São mais de 40 grupos armados, cada um com uma quantidade de combatentes que varia de algumas centenas a milhares. Devido às necessidades bélicas consolidaram duas frentes amplas para os embates: Jaish al Fatah (Exército da Conquista) e Fatah Halab (Conquista de Aleppo). Em ambas também predomina o salafismo.

No Jaish al Fatah (Exército da Conquista) haviam diversos grupos e a dissidência da Al Qaeda na Síria, a Frente Fatah al Sham, é um deles. As denúncias são de que esses grupos recebem financiamentos (ainda que indiretos e algumas vezes não declarados) do Catar, da Turquia e dos EUA.

A Fatah Halab (Conquista de Aleppo) contava em suas fileiras algumas frações salafistas do Exército Livre da Síria (ELS). O Exército Livre da Síria é uma dissidência do Exército Sírio oficial que se levantou contra Al Assad. Possuem também financiamento bélico da Turquia. Nessa frente predomina diversos grupos islâmicos como o Jeish al Islam, financiado pela Arábia Saudita.

Além desses, em ação isolada, há o Estado Islâmico (ISIS, em inglês), formado por um grupo dissidente da Al Qaeda, no Iraque. É um grupo de origem sunita. Religioso, fundamentalista, extremista e conservador e se fortaleceu como um dos grupos de oposição.

Extremista religioso, esse grupo, segue uma linha do islamismo chamada sunita e defende a aplicação da sharia, conjunto de leis que regulam o comportamento das pessoas e preveem penas como o de chicoteamento de mulheres consideradas “pecadoras”. Prega a morte para quem não seguir as doutrinas do Islã, a partir de sua concepção. Seu auge foi em 2014 com a conquista de um vasto território que incluíam cidades da Síria e do Iraque. O financiamento vinha principalmente da Turquia e da Arábia Saudita, regimes reacionários.

O conflito político e as grandes potências

A Síria é uma importante produtora de petróleo e gás e também uma importante rota em direção a Europa. Não é à toa que importantes potências econômicas mundiais como EUA e Rússia realizam financiamentos para a continuidade dessa guerra. Os interesses na região são meramente econômicos.

Apesar de os campos de gás natural e petróleo serem considerados de produção em pequena escala, a Síria possui o destaque econômico por sua própria localização. O seu território fica entre o Irã que produz gás natural e petróleo em larga escala e o território europeu que é um dos maiores consumidores desses produtos.

A Rússia é responsável pelo fornecimento de 30% do gás natural usado na Europa hoje. Dessa forma, tenta garantir que a Gazprom (Empresa russa de gás natural) seja a responsável pelo fornecimento desse produto extraído do Irã para o mercado europeu, num acordo já realizado com o governo de Al Assad que garante também a construção de um gasoduto.

No entanto, os EUA também buscam a construção de um gasoduto para o fornecimento de gás natural, desde as reservas do Qatar e do Irã, atravessando a Jordânia e Síria até chegar na Turquia. Essa estratégia tem o apoio da União Europeia, que busca independência da influência russa no tabuleiro energético da região.

Dessa forma, fica evidente os interesses nos financiamentos realizados para os grupos armados na Síria: de um lado, a Rússia que busca aumentar seu poder econômico e imperialista na região em acordo com Al Assad. De outro, os EUA e a UE que disputam o controle dessas reservas naturais e buscam dar apoio bélico para os grupos rebeldes, numa tentativa indireta de enfraquecer a Rússia. Ambos os grupos utilizam a guerra civil na Síria como forma de escoar seu armamento, aumentar a produção de armas, o desenvolvimento tecnológico nessa área e garantir o rendimento do capital. Enquanto isso, é a vidas da classe trabalhadora que está sendo dizimada em nome do lucro imperialista e dos grandes capitalistas.

Resistência curda: a luta por seu território

Há de se considerar ainda a importante luta do povo Curdo na região, que tem sido por sua independência e procura se manter como polo de resistência. O maior grupo étnico sem Estado no mundo é de curdos. São mais de 40 milhões de pessoas vivendo numa região entre diversos países como Irã, Iraque, Síria, Turquia, Armênia e Azerbaijão.

Devido à instabilidade política na Síria e as disputas, os curdos da região conseguiram se organizar e realizam importantes enfrentamentos, especialmente contra o Estado Islâmico, na luta por territórios. Foram fundamentais para impedir e derrotar o avanço militar do Estado Islâmico.

Possuem seus próprios exércitos na defesa de sua autodeterminação: o YPG (masculino) e YPJ (feminino, em uma importante luta numa região predominantemente dominada por homens e suas tradições religiosas, com o patriarcado, a violência e o machismo buscando impedir a auto-organização e a luta das mulheres).

Hoje uma parte dos curdos está cada vez mais próxima de acordos com os EUA, algo que na prática inviabiliza sua independência política e a constituição de um Estado Nacional. Ainda assim, sua atuação tem sido um importante polo de debates e lutas sobre a organização desse território.

Qual a saída para a Guerra Civil na Síria?

A guerra civil na Síria opõe setores da burguesia síria. Trata-se de uma disputa para ver quem vai ficar com as riquezas naturais e explorar o povo sírio.

A situação da classe trabalhadora na Síria mostra a gravidade do uso de um território como estratégia para políticas de expansão e de domínio dos países imperialistas, que buscam controlar territórios inteiros se apossando de seus recursos naturais, a qualquer custo, para aumentar suas taxas de lucros e seus recursos financeiros.

Assim, toda luta contra o capital e seus agentes é fundamental para que em cada canto do mundo nenhum povo sofra mais com guerras promovidas pelo sistema capitalista.

Destacamos que o que ocorre na Síria não é nenhuma revolução, pois a propriedade privada não está questionada, a classe trabalhadora não está organizada de forma independente e com seu programa anticapitalista. É, como dissemos, uma guerra civil financiada pelo capital! Somente com o fim do sistema do capital as guerras terão fim.

Isso se mostra pelo fato de não ser a classe operária a dirigir esse processo; por não haver uma luta consciente e um programa da classe trabalhadora contra a burguesia; por não haver organismos de poder da classe trabalhadora em seu conjunto e por não haver organizações revolucionárias (ainda que exista um processo incipiente na região curda) em unidade nessa luta. Assim, são necessários o apoio e a solidariedade mundial da classe trabalhadora ao povo sírio, para que enfrentem todos os ataques que o grande capital impõe na região.

Nem Assad nem oposição burguesa são a solução!
Fora o imperialismo da Síria! Contra os bombardeios!
Abaixo a ditadura de Assad!
Fora o imperialismo do Oriente Médio! Fora as tropas e recursos imperialistas da Síria!
Contra as ideologias fundamentalistas! Contra a opressão das mulheres!
Pela resistência do povo curdo e sua autodeterminação!
Por uma alternativa socialista dos trabalhadores!