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A condição da mulher trabalhadora na sociedade capitalista


5 de março de 2018

Como mulheres, por onde estamos e por onde andamos – em casa, no trabalho, nos locais de estudo, nas baladas, nas ruas, nos relacionamentos afetivos, enfim, por todos os lados em nosso cotidiano – nos deparamos com as consequências de vivermos em uma sociedade patriarcal capitalista machista.

Essa afirmação, que nos parece tão comum nos dias de hoje, considera a dura realidade em que vivemos (referindo-nos diretamente à mulher da classe trabalhadora) e a necessidade urgente da transformação e superação dessa realidade.

O capitalismo não é aceitável. Não é aceitável que o fato de sermos mulheres em uma sociedade que busca transformar tudo em mercadoria para troca, a fim de manter privilégios para poucas e poucos (classe dominante). E como isso, tenhamos que nos deparar com a intensificação da exploração de nossa mão de obra para manter esses privilégios, sem que nos oponhamos.

Não é aceitável vivenciarmos a constante imposição do aumento da jornada de trabalho, que ultrapassa o limite das nossas forças físicas diariamente e que nos enfraquecem sem que reajamos antes que muitas de nós se tornem até mesmo incapazes para o trabalho. Enquanto isso, essa sociedade nos impõe, ao mesmo tempo, que mantenhamos o nosso próprio sustento cada vez mais cedo na vida e trabalhemos até cada vez mais tarde durante a vida.

Não é aceitável que para aumentar a exploração o empresariado pague salários mais baixos para as mulheres, ainda que façam os mesmos serviços que os dos homens.

Não é aceitável que em pleno século XXI, diante também do avanço da direita, tenhamos que nos deparar com o fortalecimento do poder do homem em situações tão cruéis para a mulher e tão covardes e confortáveis para a uma parcela dos homens. Parcela essa que pratica a violência e permanece ilesa enquanto outra parcela que convive ou se depara com várias formas de violência contra a mulher se silencia.

E essas afirmações partem de dados indicados em pesquisas:

Em que 48% dos entrevistados se sentem humilhados em ter que cuidar da casa enquanto a mulher trabalha fora. Em que 78% dizem não interferir em brigas de casal ou interferir apenas se houver violência extrema. Em que 61% julgam que a mulher se deixou fotografar e que tem culpa (culpabilização) quando o homem compartilha as imagens íntimas sem autorização. Em que 27% acreditam que, em alguns casos, a mulher pode ter culpa por ser estuprada, quando se registra 1 caso de estupro a cada 47 minutos em um estado como São Paulo.

Não é aceitável que a sociedade retroceda a tal modo que garanta ao Estado e ao homem decidir sobre o corpo da mulher enquanto, nós mulheres, arcarmos com consequências fatais disso: Quando se busca aprovar um Projeto de Lei que proíbe o uso de medicamentos como a pílula do dia seguinte, quando se criminaliza o aborto mesmo em caso de estupro e ainda possibilita que a mulher cumpra pena de detenção de 1 a 3 anos. Enquanto isso, o homem permanece ileso como se não fosse parte integrante e fundamental de situações como essa.

Não é aceitável vivermos todos os dias com as consequências das desigualdades em que poder do homem e do machismo buscam manter o controle sobre a vida da mulher e também o controle sobre o momento da morte.

Podemos observar isso quando os dados registram que a cada 2 horas uma mulher é assassinada no Brasil (Feminicídio), quando se registra que mais de 50% desses casos de assassinatos são cometidos por familiares e mais de 30% são cometidos por parceiros ou ex.

E podemos considerar ainda que esses assassinos, certamente, cobravam confiança, respeito e sentimentos de carinho.

Não é aceitável que em 2016, o Brasil tenha batido recorde em assassinatos da população trans com cerca de 144 mortes. E que em 2017 tenha superada os números com 185 assassinatos, ou seja, uma pessoa trans é morta a cada 48 horas no país.

O preconceito baseado na identidade de gênero (Transfobia) traz também a violência do Feminicídio observável no perfil dessas vítimas: 95% eram mulheres trans ou travestis, 42% eram negras e 120 eram profissionais do sexo.

Enfim, não podemos aceitar que toda essa situação faça da nossa vida algo em que o prazer de viver deixe de existir e que esse sistema que explora e cria desigualdades siga decidindo sobre a nossa vida, a nossa intimidade, continue existindo e ainda lucre com isso.

Como o capitalismo cria e se alimenta de desigualdades

Para compreendermos como o sistema capitalista explora, cria desigualdades e ainda lucra com isso podemos dar como um exemplo a Reforma Trabalhista aprovada em 2017, no Brasil.

Baseada em um falso discurso de modernização da legislação do trabalho, na verdade, o que se legalizou foram as formas de contratação que impõem às trabalhadoras e trabalhadores as precárias condições de vida.

Por exemplo, um salário menor com mais horas de trabalho, falta de garantias trabalhistas básicas como o salário mínimo, a jornada de 8 horas diárias e 44 horas semanais, os 30 dias corridos de férias, a perda do direto à insalubridade para gestantes, o limite para pagamento de horas extras dentro do mês e fim da carteira assinada com o contrato intermitente no caso das Domésticas, entre outras.

Para as mulheres que já recebem cerca de 20% a menos pelo mesmo trabalho que um homem, a nova legislação irá precarizar ainda mais a condição de trabalho, senão, expulsálas de seus empregos em vários setores da economia.

Dessa forma, percebemos que a facilidade em empregar e demitir que para os capitalistas significar “modernizar” as relações de trabalho cairá como uma bomba na vida das mulheres. E tem sido sempre assim, em cada momento de crise mais profunda uma parcela das mulheres é retirada do mercado trabalho. Realmente isso não é aceitável.

Com isso inicialmente haverá também a intensificação da tripla jornada de trabalho para a mulher. Isso porque a jornada de trabalho da mulher não se resume ao trabalho fora de casa.

O seu esforço físico-mental continua com todas as obrigações do serviço de casa. Essas horas após o trabalho fora de casa, que estão sendo ainda mais reduzidas, deveriam ser descansar, se recompor, se alimentar bem, se preocupar com o vestir, etc., mas, não é assim.

Além disso, esse nível de responsabilização e preocupação é aumentado se tiver filhos, se tiver cuidados com idosos, se estudar, etc. configurando a tripla jornada  para a mulher, em que o tempo livre vai ficando cada vez mais escasso.

Segundo dados do IBGE de 2017, numa pesquisa pela qual se buscou investigar outras formas de trabalho distintas da ocupação remunerada, constatou-se que as mulheres dedicam, em média, cerca de 20,9 horas semanais aos cuidados com o lar, enquanto os homens dedicam 11,1 horas semanais.

Portanto, em períodos em que o capitalismo está em crise mais intensa, podemos observar que os capitalistas não se contentam apenas em manter suas taxas de lucros, intensificam suas várias formas de exploração para que seus altos lucros sigam, para isso se utilizam também do desemprego com taxa maior entre as mulheres.

Além de aumentar a exploração para trabalhadoras e trabalhadores nos seus locais de trabalho, demitem uma grande parcela para completar essa Reforma Trabalhista e se utilizam de outras reformas como a Previdenciária que saiu da pauta do Congresso Nacional, mas, provavelmente voltará.

Com isso, podemos entender que a intensificação da exploração está diretamente associada a intensificação da opressão da mulher. Poderíamos dar vários outros exemplos aqui, no entanto, é necessário entendermos a opressão e o machismo tão fundamentais para o capitalismo e tão destruidores da vida da mulher trabalhadora.

A opressão para a exploração e para o lucro

A opressão da mulher não é algo que existiu em todas as sociedades e em todos os momentos da história como demonstram as pesquisas científicas da antropologia, arqueologia e história.

No entanto, o capitalismo, além de se apropriar do nosso trabalho para manter os privilégios de algumas e alguns (que são a classe dominante) se utiliza também da idade, da força física, do sexo, da cor da pele, etc., para criar e reforçar diferenças entre homens e mulheres para aumentar a opressão e a exploração sobre a classe trabalhadora.

A opressão sobre a mulher da classe trabalhadora sufoca, oprime, violenta, busca demonstrar autoridade, humilha, reprime e, como vimos, a mulher além de carregar o peso da exploração do modo de produção capitalista ainda sofre com as consequências de viver também em um sistema patriarcal.

Esse sistema é necessário para que o poder do homem seja central para reforçar diferenças, para reforçar a necessidade da monogamia e possibilitar intensas manifestações individuais e coletivas de ações machistas, em que se busca propagar ideias e impor, através das várias formas, a violência e a inferioridade da mulher da classe trabalhadora.

A opressão sobre a mulher trabalhadora tão necessária ao capitalismo representa também a possibilidade da diferença salarial entre homens e mulheres (maior tempo de trabalho excedente), justificada pelo empresariado com a afirmação de que a tem mulher posição inferior ao homem, ou seja, ainda é imposto pelos capitalistas esse tipo de situação para manter maior lucro.

E essa diferença ainda aumenta quando se refere à realidade da mulher negra da classe trabalhadora. Essa é uma das formas de violência que está associada às demais como a sexual, psicológicas, patrimonial, moral, etc.

Portanto, as lutas das mulheres durante séculos para pôr fim à opressão e à exploração não têm sido fáceis, mas, têm sido importantes e necessárias para a nossa existência e para que a humanidade continue se mantendo.

A mulher na sociedade capitalista e as lutas

Nas últimas décadas as mulheres no mundo conquistaram espaços com maior participação na vida pública, política e no mercado de trabalho. No entanto, a opressão, o patriarcado, o machismo e o capitalismo ainda não foram superados.

Como vimos, tem sido algo corriqueiro para as mulheres da classe trabalhadora ocuparem postos de trabalho com remuneração menor que as dos homens, sofrendo com maior taxa de desemprego, como vítimas de violência doméstica, sexual, psicológica, da repressão, etc.

Além disso, se deparam ainda com a perseguição de políticos e governos que buscam poder sobre o corpo da mulher (inclusive com a PEC 181/2015), são privadas de frequentar espaços públicos por medo de danos à integridade física, estupros, etc.

Isso demonstra que a lógica de inferiorizar a mulher em relação ao homem está presente nas sociedades de classes, em que a mulher da classe trabalhadora tem o seu tempo livre cada vez mais reduzido, a sua força de trabalho cada vez mais desvalorizada, sendo oprimida e explorada para sustentar a sociedade do lucro.

Os espaços conquistados pelas mulheres da classe trabalhadora se dão com muita luta. No Brasil, a participação das mulheres nas lutas gerais e nas lutas que conquistaram mais emprego, Delegacias da Mulher, Casas-Abrigo, legislação como a Lei Maria da Penha, maior escolaridade, maior participação na vida política e na militância de esquerda, etc. ainda estão bastante limitadas. E com o avanço da direita essas conquistas ainda correm o risco de retroceder.

Não podemos permitir retrocesso em conquistas que levamos décadas em lutas. Necessitamos manter reivindicações que cada mulher, em cada local de trabalho, estudo, moradia e por todo o seu cotidiano necessitam para a sua própria sobrevivência e para que as mulheres de conjunto e toda a classe trabalhadora possam se fortalecer.

Dia internacional de lutas e greves pelo fim do capitalismo

Entendemos que somente conseguiremos superar a opressão com uma transformação social que elimine a propriedade privada e que elimine a exploração do ser humano pelo ser humano.

No entanto, isso não significa que as lutas imediatas e presentes no nosso dia a dia não sejam necessárias, são sim importantes e necessitam do objetivo fundamental que é a transformação radical dessa sociedade.

Sociedade essa que tem o lucro como o centro de tudo e que necessita urgentemente ser superada por uma sociedade que tenha as necessidades humanas e nossas vidas no comando da dinâmica do viver.

Nesse sentido, a cada 8 de Março (Dia Internacional de Luta da Mulher e Greve Internacional de Mulheres) podemos reforçar o quanto é importante lutarmos para construirmos outra sociedade. Contribui para isso as pesquisas, índices mais recentes e a vida real de cada mulher da classe trabalhadora.

Nesse dia de luta, podemos observar, mais uma vez, várias crueldades do capitalismo como o machismo, o racismo, a homofobia e como a divisão em gêneros, tipos de feminismos, etc., mesmo em um momento que a classe trabalhadora ainda se mantém distante da unidade na luta.

Portanto, algumas reivindicações necessitam ser reforçadas para que cada mulher e homem da classe trabalhadora as incorpore nas lutas gerais, nas manifestações do 8 de Março e nas lutas que as mulheres enfrentam no cotidiano:

► Anular a Reforma Trabalhista e arquivar definitivamente a Reforma da Previdência;

► Reduzir a jornada de trabalho sem reduzir o salário; Salário igual para trabalho igual; Fim da dupla e tripla jornada com a divisão das tarefas domésticas entre todos da casa; creches, escolas e universidades públicas, gratuitas de qualidade para filhas e filhos da classe trabalhadora;

► A mulher deve decidir sobre o seu próprio corpo, em todos os sentidos; Descriminalizar e legalizar o aborto em caso de estupro, de má formação do feto, de risco à saúde e à vida da mulher e por decisão da mulher;

► Por uma sexualidade livre de preconceitos religiosos, de raça, de orientação sexual e não submetida às imposições do sistema capitalista;

►Fim da violência contra a mulher e da violência doméstica, que contribuem e é parte da opressão capitalista; verbas públicas para aplicação da Lei Maria da Penha em qualquer momento da agressão e para atender denúncia; unidade da classe trabalhadora contra todas as formas de opressão, desigualdade e machismo contra a mulher, que fortalecem a sociedade capitalista.

► Fim ao sistema capitalista que explora, oprime, cria desigualdades e alimenta todas as formas de violência contra a mulher e toda a classe trabalhadora.

No 8 de Março, necessitamos reforçar essas reivindicações e insistirmos na necessidade de combatermos e superarmos a sociedade capitalista pois, consideramos que a opressão, a posição de inferioridade pregada sobre a mulher, inclusive por muitas religiões, o machismo e as várias formas de violência não são próprios ou naturais do ser humano.

No entanto, entendemos que todos esses problemas são partes integrantes do funcionamento cotidiano capitalista a fim de manter a nossa dominação e, portanto, devem ser combatidos.

Assim, construir a unidade entre as mulheres da classe trabalhadora para fortalecer a organização e a luta nos locais de trabalho, estudo e moradia para reivindicar direitos, para manter e avançar em conquistas também necessita ser parte integrante do cotidiano.

Dia internacional de lutas e greves pelo fim do capitalismo

Entendemos que ninguém nasce machista, isso é uma construção cotidiana e violenta necessária para “mostrar quem é que manda” e contribuir para manter o patriarcado, humilhar a mulher e facilitar a exploração, assim, individualizar e coletivizar a comportamentos machistas, racistas e homofóbicos.

Combater entre nós, classe trabalhadora, essas práticas é passo fundamental para contribuirmos com a luta contra a opressão. E insistirmos para que essas práticas tenham fim é contribuir para o fim desse sistema que explora e necessita disso tudo para continuar existindo.

A luta contra a opressão e a exploração necessita se dar de todas as formas em nosso dia a dia e necessita da classe trabalhadora organizada e unificada contra os programas da burguesia, dos governos burgueses, do Congresso e do Judiciário que são preparados para continuar e intensificar esses níveis opressão e exploração.

Sejamos nós a construir a sociedade capaz de atender as necessidades humanas e capaz de humanizar o nosso dia a dia. Sejamos nós a construir a sociedade socialista.