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As lutas das mulheres da classe trabalhadora e a necessidade de enfrentamento


1 de dezembro de 2017

A América Latina é a “região mais violenta do mundo contra as mulheres fora de um contexto de guerra” (PNUD). É triste começar um texto com esta constatação, no entanto, é necessário para reafirmarmos o quanto o sistema capitalista cria desumanidades e que, embora sejam impossíveis de serem superadas em seu interior, necessitam ser duramente combatidas. O capitalismo e os modos de produção divididos em classes sociais que o antecederam colocam a mulher em condição de subserviência e dominação para a manutenção da propriedade privada e, por isso, entendemos, que a total libertação das mulheres é possível com o fim do capitalismo.

A realidade das mulheres brasileiras: uma breve descrição

A realidade para as mulheres brasileiras, especificamente, não é uma das melhores… Apesar de pequenos avanços conquistados ao longo da história não são suficientes para alegar que homens e mulheres (entendendo homens e mulheres socialmente construídos) são socialmente iguais. E o que presenciamos cotidianamente é a intensificação dessas desigualdades.
No que tange a violência contra a mulher os números são alarmantes: São cerca de 12 assassinatos por dia. São mais de 40 mil estupros por ano e estupros coletivos são cerca de 10 por dia. Somados a isso, as mulheres precisam lidar diariamente com fato de não terem o controle sobre seus próprios corpos. Se tratando da liberdade ao aborto ainda temos diversos entraves no campo político, ideológico e moral: fechasse os olhos para as demais questões concretas das necessidades das mulheres, o aborto seguro permanece uma delas. São mais de 850 mil casos por ano de aborto clandestino, sendo que a cada dois dias uma mulher morre vítima do método clandestino e inseguro. O que o torna uma das principais causas de mortalidade materna no país.
Além desses altos números de violência, a mulher trabalhadora conta também com o alto índice de desemprego (14,9%, no segundo semestre), típico de períodos de crise em que é uma das primeiras a ser colocada à disposição pelo capital para forçar ainda mais o rebaixamento do nível salarial, para que assuma vagas precárias sem direitos e para que em seus lares se responsabilize pelos serviços que a família não mais terá condição de arcar.

Um ano intenso de luta

Não é à toa que as mulheres têm se organizado pelo mundo em manifestações, greves e em várias entidades para se unirem e se fortalecerem em luta contra a opressão, a intensificação da exploração e o machismo. As mulheres da classe trabalhadora se posicionaram de alguma forma contra a ordem vigente, demonstrando o potencial dessas lutas na luta de classes. É a relação classe e luta das mulheres que potencializa a luta contra o modo de produção que vem destruindo as nossas vidas.
No 8 de março deste ano, a Greve Internacional Contra a Violência Machista e a Desigualdade de Gênero, com o chamado “se nossas vidas não valem, que produzam sem nós” em mais de 40 países, colocou a classe trabalhadora em movimento em vários cantos da América Latina e do mundo. Além disso, levantou questões profundas que se chocam aos interesses do capital. Isso porque as mulheres assumem um duplo papel na esfera da reprodução social: ela produz e reproduz. Esse fator nos faz compreender a atual importância da luta das mulheres contra o capitalismo e faz entender a necessidade do confronto dos limites dessa sociedade em atender as reivindicações das mulheres.
No Brasil, logo após o Dia Internacional de Luta da Mulher, ocorreu o 28 de abril com a maior Greve Geral dos últimos anos. E lembrou, inclusive, a 1ª Greve Geral no país ocorrida há 100 anos e iniciada com trabalhadoras têxteis de São Paulo. Em linhas gerais pelo mundo, foram greves, atos e mobilizações que insistiram na importância da luta contra as várias formas de violência à mulher e o fato de o trabalho no mercado formal ser apenas uma parte do trabalho da mulher sob o capitalismo, que para manter a exploração necessita do trabalho doméstico não remunerado para a reprodução da sociedade e das relações sociais.
Durante todo esse ano não foram poucas as mobilizações das mulheres organizadas e dos movimentos feministas pelos mais diversos motivos, demonstrando o quanto tem sido necessário reagir aos grotescos abusos e retrocessos do atual momento. Chegamos no último mês de novembro com milhares de mulheres em manifestações contra a PEC 181, que além de buscar impedir a interrupção da gravidez mesmo em caso de estupro, por considerar a vida inviolável desde a concepção, o Projeto de Emenda Constitucional, tenta criminalizar o aborto também nesse caso. Algo que já era indiscutível para as mulheres em situação de violência.
Isso indica também o quanto o Estado brasileiro patriarcal busca, a todo momento, se alinhar às forças reacionárias para controlar o corpo e a vida da mulher a fim de submetê-la e subjuga-la, necessidade também do capital para impor à classe trabalhadora a intensificação da exploração, nesse momento, inclusive, com as reformas.

O caminho é intensificar a organização e as lutas

Não tem sido fácil lutar pela sobrevivência (emprego, estudo, moradia, etc.), contra a ofensiva do governo sobre os cortes no orçamento público e o corte dos serviços públicos (bolsas estudos, transporte, postos de saúde, etc.), ter que enfrentar o avanço da direita que é machista, racista e homofóbica e, ainda, combater o machismo cotidianamente e em cada ação.
Nesse sentido, a unidade da mulher da classe trabalhadora no dia a dia e nas lutas tem sido fundamental para intensificar os enfrentamentos e necessita de maior organização tanto para seu fortalecimento quanto para construir caminhos anticapitalistas de superação desta sociedade, para que enfim possamos obter uma liberdade substantiva. As lutas que se seguem apontam o caminho, mas ainda é insuficiente. É preciso avançar.
As lutas imediatas também são importantes nesse primeiro momento e por isso não podemos aceitar ou baixar a cabeça para os desmandos de setores reacionários que buscam retirar nossos direitos duramente conquistados e dominar os nossos corpos. Não podemos permitir que o número de assassinatos de mulheres continue! Não podemos permitir que precarizem ainda mais as nossas vidas. A exploração do trabalho, o trabalho não pago, a jornada tripla, o machismo, o racismo e a homofobia, existentes no capitalismo, têm feito da vida da mulher algo distante das necessidades humanas. É necessário revertemos isso, com organização e com a luta!

Mirar a Revolução Russa e o importante papel das Revolucionárias

Esse ano faz exatamente 100 anos da Revolução Russa e apesar das críticas e divergências que existem em torno do debate sobre esse processo, uma coisa não podemos negar, a Revolução Russa abalou o mundo. E dizer isso é também afirmar que nos trouxe um acúmulo histórico em diversos sentidos, como por exemplo o papel das mulheres para a Revolução acontecer, para os avanços que proporcionou ao mundo e pela indicação do caminho à emancipação humana.
Após 100 anos da Revolução é inegável quão avançadas eram as pautas que tocavam nos direitos das mulheres. Pautas como o direito ao aborto seguro, o fim do trabalho doméstico, o divórcio livre, o direito à Educação e ao trabalho, a vida pública, etc. Já eram pautas concretas do movimento de mulheres tanto fora quanto no interior do Partido Bolchevique. Pautas que eram vistas como prioridades, pois se se quisesse uma sociedade verdadeiramente livre era preciso que todas as pessoas humanas tivessem livres de suas alienações.
Hoje, percebemos que as pautas históricas do movimento de mulheres continuam na ordem do dia, assim como o horizonte da emancipação humana. É por isso que defendemos a importância da luta das mulheres tanto nas reivindicações imediatas, contra as reformas, contra a direita quanto no enfrentamento aos limites do capital, que não pode conceder essa liberdade e tampouco esses direitos sem muita luta.
Afinal não se trata apenas de mulheres ganharem o mesmo salário que os homens simplesmente – o que pode ser importante a curto prazo, na atual conjuntura de crise que tende a precarizar ainda mais as condições de emprego e de aumento da pobreza – mas se trata de lutarmos por uma sociedade em que sejamos “ socialmente iguais e humanamente diferentes” até que tenhamos mulheres livres!
É neste sentido que afirmamos que a luta pela emancipação humana passa pelas mãos da mulher, pois uma sociedade que se propõe emancipada, mas na prática seus setores oprimidos continuam oprimidos, não revela essa liberdade substantiva. Da mesma forma que as condições para tal liberdade perpassa uma por revolução social contra o sistema capitalista e só a unidade da classe trabalhadora em conjunto com todos os setores oprimidos da sociedade é capaz de um enfrentamento radical ao sistema do capital nas lutas e na vida cotidiana.
Viva a luta das mulheres trabalhadoras!