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O repúdio aos atentados do Estado Islâmico e os métodos da luta de classes


1 de outubro de 2017

Nos últimos dois anos tivemos vários atentados reivindicados por grupos como o Estado Islâmico, a maioria dentro do continente europeu. As formas têm sido variadas, desde explosão até os atropelamentos em avenidas e ruas muito movimentadas.
Em 2015 na Turquia. Em 2016 os mais violentos foram na Bélgica e na França. Esse ano, na Inglaterra, ocorreram por três vezes: em 22 de março próximo ao parlamento inglês um homem atropelou diversas pessoas e atacou agentes de segurança com uma faca, deixando 4 mortos; em maio um atentado à bomba no Show de Ariana Grande em Manchester com 22 mortos; no dia 3 de junho um ataque com uma van na London Bridge deixou mais 7 mortos. Em 17 de agosto, foi em Barcelona com 13 mortos. O último foi em 1º de outubro, quando um homem esfaqueou a matou duas mulheres na principal estação de trem de Marselha, na França.
Todos têm em comum o fato de as vítimas serem a população em geral sem qualquer distinção.

Terrorismo vai dialogar com quem?

Os atentados foram formas muito utilizadas por grupos que se colocavam no campo da esquerda, como o IRA -que lutava pela independência da Irlanda do Norte em relação ao imperialismo inglês, que subjuga há centenas de anos o povo irlandês; o ETA – na luta pela constituição de um Estado basco na região da fronteira entre Espanha e França. Concordemos ou não com essa tática, é importante reconhecer que esses grupos tinham alvos militares ou políticos.
A partir dos anos 2001 a derrubada das torres gêmeas nos Estados Unidos encorajou vários grupos islâmicos a adotarem essa tática de luta, seja para enfrentarem as invasões em seus territórios ou mesmo para derrotar o “inimigo ocidental” em seu solo.
Foi a partir desse momento que surgiram e se fortaleceram vários grupos, primeiro ligados à “Al-Qaeda” e agora o “Estado Islâmico”. Ambos cresceram no lastro do repúdio aos Estados Unidos e outros países invasores e usurpadores do petróleo no Oriente Médio. Como dissemos acima, a tática desses grupos já não visa o enfraquecimento militar dos inimigos, mas causar temor entre a população de forma indistinta.
Se o terrorismo de “esquerda” já é uma tática complicada porque não consegue dialogar com a classe trabalhadora e os oprimidos, o terrorismo fundamentalista (em qualquer de suas versões) é muito mais complicado, tanto por seus objetivos de impor uma concepção reacionária quanto pelo fato de transformar toda a população em potencial vítima.

O Estado Islâmico é uma organização reacionária e fascista

O Estado Islâmico é uma organização reacionária e fascista. Os métodos utilizados quando dominava cidades como Mossul no Iraque se assemelhavam aos das forças de ocupação como decapitação e tortura. A violência contra as mulheres, a imposição de uma religião oficial considerando como inimigos até mesmo algumas vertentes mulçumanas são algumas das práticas desse grupo, que servem para caracterizá-lo como uma força contrária aos interesses dos trabalhadores.
A base de seu crescimento está na situação política no mundo árabe e principalmente do Oriente Médio.  A invasão liderada pelos Estados Unidos e OTAN no Iraque, na Líbia e em outros países, as atrocidades provocadas pelo exército israelense contra o povo palestino alimentaram o ódio da população da região, que somado a falta de uma alternativa de massas à esquerda com força para enfrentar esses vários problemas, abriram espaço para o surgimento desses grupos.
Essas ações e esse modo de agir, longe de servir para resolver os problemas que os trabalhadores árabes enfrentam, na verdade, servem de justificativa para os estados imperialistas continuarem suas ações militares.
O atentado às torres gêmeas em 2001 em que morreram milhares de pessoas – maioria era trabalhadores e trabalhadoras- foi usado para ganhar apoio mundial para a invasão no Afeganistão e Iraque, abrindo um longo período de ofensiva imperialista sobre os povos do Oriente Médio e ampliação do controle sobre o petróleo e fortalecimento dos regimes mais reacionários da região, como é o caso da Arábia Saudita e Israel.
Também abre espaço para a propaganda islamofóbica e principalmente contra os imigrantes árabes nos países imperialistas, que passam a serem perseguidos. Ou seja, o Estado Islâmico e os grupos reacionários que adotam esse método, servem, de fato, aos interesses dos setores mais reacionários, alimentando essa visão racista que coloca a chamada civilização ocidental em posição de superioridade para legitimar o imperialismo com intervenções, guerras e genocídios que perpetram em outros países, como Afeganistão, Iraque, Líbia e que foram destruídos.

Repudiar esses atentados, mas também repudiar o uso que a direita faz deles

Esses grupos, como o Estado Islâmico, não têm como meta a emancipação desses povos, pois são movimentos reacionários muitas vezes armados e financiados pelos Estados Unidos. Osama Bin Laden e sua Al Qaeda foram uma criação do serviço secreto estadunidense para enfrentar os russos no Afeganistão.
Mesmo quando não há essa relação direta, aos países imperialistas interessa a existência de grupos com esse perfil reacionário, pois também servem para controlar a revolta popular e também servir de desculpa para a continuidade das invasões. Ao fim e ao cabo esses grupos, na prática, só têm como objetivo sabotar a lutas de libertação nacional dos povos árabes contra os invasores.
Assim, ao mesmo tempo que repudiamos esses atentados contra a população também demonstramos o nosso repúdio aos grupos da direita e aos governos que utilizam desses atentados para a imposição de medidas de restrições democráticas como é o caso da França, que decretou “estado de emergência”, medida que permite, sem autorização judicial, investigação criminal, imposição de toque de recolher, fechamento de comércio, etc.

A saída é a mobilização da classe trabalhadora

Ao mesmo tempo em que repudiamos veementemente os ataques desses grupos reacionários, entendemos ser importante demarcar a nossa posição contrária a essa tática de ação, mesmo quando realizada por setores de esquerda, ainda que atualmente sejam poucos que praticam essa tática.
Defendemos que ao invés de mártires e ações individuais, somente a auto-organização da classe trabalhadora – também do ponto de vista militar – é a forma de combater e derrotar a burguesia e o imperialismo.
E cabe outra questão que é o fato de não apoiarmos qualquer medida de repressão por parte do Estado contra os setores de esquerda que utilizem essa tática. Por exemplo, defendemos a liberdade imediata a todos os militantes bascos presos na França e na Espanha. Ou seja, mesmo não concordando com essa forma de luta, não nos aliamos aos governos burgueses.
Quando a classe trabalhadora se organiza e se mobiliza os efeitos são enormes, pois coletivamente enfrenta a patronal e abre a possibilidade concreta de mudar as coisas, de ter vitórias econômicas e quando há as condições objetivas e subjetivas até a tomada do poder.
Nós nos colocamos contra o terrorismo mesmo quando o objetivo é de “esquerda”. São saídas individuais e via de regra direcionadas a um único alvo, político ou militar. Para nós é a classe trabalhadora organizada e mobilizada que pode cumprir as tarefas da revolução, da luta contra o capitalismo.
O poder da burguesia e o Estado capitalista não se sustentam em cima de indivíduos e seus cargos. Esses são passageiros, cumprem um ou dois mandatos e depois são substituídas por outros.  O poder da burguesia se sustenta a partir de um conjunto de relações sociais determinadas pela exploração sobre o trabalho alheio. Assim, em um atentado que elimina um presidente ou ministro pode até haver no momento uma comoção e até pode provocar um certo medo nos capitalistas e políticos burgueses, mas logo encontram outra pessoa para substituir e seguir a exploração.
Outra questão importante é colocada por Trotsky em relação aos efeitos junto a classe. Um ato terrorista está desprezando o papel das massas e de sua consciência, diminuindo o papel histórico de derrotar o capitalismo e que cabe a ela cumprir. Pergunta ele:
“Se para alcançar os objetivos basta armar-se com uma pistola, para que serve esforçar-se na luta de classes? Se um pouco de pólvora e um pedaço de chumbo bastam para perfurar a cabeça de um inimigo, que necessidade há de organizar a classe? Se tem sentido aterrorizar os altos funcionários com o ruído das explosões, que necessidade há de um partido? Para que fazer passeatas, agitação de massas, eleições, se é tão fácil alvejar um ministro desde a galeria do parlamento?”
É a posição histórica dos marxistas, de se apoiar na luta de massas e na mobilização direta da classe trabalhadora para enfrentar o capital, fortalecendo e ajudando a impulsionar a organização independente da classe. É a forma que vimos para ajudar o desenvolvimento de uma consciência socialista no interior da classe trabalhadora.