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Jornal 87: A origem do Zika


13 de março de 2016

Fernando Emmanuel

4O vírus assim chamado recebeu este nome por ter sido encontrado em macacos da Floresta de Zika, na Uganda, em 1947 – a transmissão aos símios era realizada através da picada de mosquitos. No final do século XX, o ser humano entra nesse ciclo: passa a ser um “hospedeiro acidental”. Se nos macacos as doenças transmitidas pelo vírus aparentemente não lhes causavam mal algum, em mulheres e homens o vírus causava doenças e complicações ainda pouco compreendidas, mas que se tornaram um problema de saúde internacional, por conta de sua acelerada migração.

A doença chega a América do Sul, provavelmente em 2014, porém foi somente em 2015 que confirmou-se o primeiro caso de Zika no Brasil (na cidade de Camaçari, na Bahia). Os grandes aglomerados de pessoas, que é fruto do crescimento desordenado das cidades, e se conforma – principalmente – em áreas periféricas e marginalizadas são os principais pontos de proliferação do vírus no país. Esse quadro é ocasionado pela forte especulação imobiliária, da qual a cidade é palco, uma vez que, ao enxergar as terras unicamente como fonte de lucro, ignora-se a necessidade de saneamento básico, água canalizada e/ou coleta regular de lixo, facilitando, desse modo, o desenvolvimento da doença.

O mosquito e os sintomas: Zika, Dengue e febre Chikungunya

O principal transmissor dos vírus da Dengue, Zika e da febre Chikungunya é o mosquito Aedes aegypti, cujo ciclo da vida é de aproximadamente 40 dias e alimenta-se de sangue preferencialmente humano. Ele já pode ser encontrado em 70% dos municípios brasileiros e seus ovos são capazes de resistir por mais de um ano.

Os sintomas da Dengue, do Zika vírus e da febre Chikungunya são semelhantes: a febre, dores na cabeça, nos olhos, músculos e, em casos mais graves, sangramentos e queda da pressão arterial. No Zika vírus, há dores musculares, na cabeça, inflamação nos olhos e manchas na pele. Na febre Chikungunya, além dessas dores, há fortes dores permanentes nas articulações, prejudicando na movimentação. Os atos preventivos veiculados são importantes para o combate ao mosquito, porém, enquanto a população cuida do âmbito pessoal (eliminando os focos da sua casa), vemos a política dos municípios, estados e do governo federal como um abandono ao combate da proliferação do mosquito em ambientes propícios – a questão do saneamento básico. Essa ausência de enfrentamento, questão histórica em nosso país, agrava ainda mais essa situação, já alarmante, por se tratar de um vírus, até então, desconhecido para nós.

No caso particular da Dengue, são identificados quatro tipos diferentes de vírus (sorotipos 1, 2, 3 e 4). Quando uma pessoa é infectada, por exemplo, pelo sorotipo 1, o seu corpo produz defesas, que a deixa imune a esse vírus (sorotipo 1) para o resto da vida; todavia, essa pessoa pode ser infectada pelos outros sorotipos (2, 3 e 4) – o que demonstra a seriedade da doença e seu potencial de perpetuação no tempo.

O Zika e a microcefalia

Nos últimos meses, surgiu um pavor ocasionado pela possível relação entre o vírus da Zika e o surto de casos bebês com microcefalia (quando a circunferência de suas cabeças é menor do que o habitual, medindo 32 cm ou menos) e a Síndrome de Guillain-Barré (ataque súbito dos nervos das pernas e dos braços que causa uma fraqueza progressiva e pode levar à paralisia desses membros). Embora a OMS (Organização Mundial da Saúde) afirme que nada indica que vacinas vencidas, inseticidas ou mosquitos transgênicos causem a microcefalia, para a Organização dos Médicos Argentinos, o surto de microcefalia está ligado a um componente químico, produzido pela Sumitomo Chemical, juntamente com a Monsanto (chamado Pyriproxyfen).

Da mesma maneira que se dá em outros ramos de produção de nossa sociedade, essas grandes empresas veem a indústria química como meio de se ampliar seus lucros. O componente químico citado anteriormente é utilizado pelo governo federal nas áreas no qual o mosquito tem grande incidência, sendo diluído na água que a população utiliza, ou seja, ainda mantém política de controle epidemiológico na erradicação do mosquito e não investe nas políticas de prevenção, que são menos custosas e mais eficazes, porém geram menos lucros aos grandes empresários, como os da Monsanto. Por se tratar de uma nova doença em desenvolvimento no Brasil (tendo sua incidência inicial entre abril/maio de 2015), o Zika vírus vem se proliferando, tendo a disseminação de forma acelerada: já tomou conta do país inteiro, chegando – inclusive – a maioria dos países da América do Sul, já tendo também casos na América Central e do Norte, o que causa espanto por conta de sua “misteriosa” rápida disseminação. Essa possível relação entre Zika vírus e microcefalia é bastante preocupante, pois no Brasil os números de casos de microcefalia já passam de quatro mil.

A microcefalia e o aborto

Com o surto de microcefalia, ocorreram vários casos de abandono de mulheres grávidas pelos seus parceiros. No Brasil o aborto não é legalizado: percebemos que apenas quem tem dinheiro pode fazer – mesmo que ilegalmente – um aborto seguro em uma clínica particular. Em contrapartida, as mulheres que não tem condições financeiras recorrem a clínicas clandestinas, trazendo danos à saúde e risco de vida. Tudo isso reacende o debate sobre a legalização do aborto na sociedade brasileira: começamos a ver as primeiras manifestações de deputados da bancada da bíblia, que já está propondo um aumento da pena para o crime de aborto em casos de microcefalia.

Defendemos a legalização do aborto, pois entendemos que proibir e não dar a assistência médica necessária é punir quem não tem dinheiro; também lutamos para que essa decisão seja uma escolha pessoal da mulher e não do Estado burguês:

Pela não criminalização do aborto!