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Jornal 85: Greve dos petroleiros: a disposição de luta e a traição da FUP


6 de dezembro de 2015

No dia 13 de novembro, iniciou-se o desmonte da greve dos petroleiros, não porque a categoria não tinha mais disposição de luta ou porque as reivindicações tenham sido atendidas, mas porque a Federação Única dos Petroleiros (FUP filiada à CUT com 12 sindicatos) deliberou que a greve tinha que acabar. E foi em uma reunião de portas fechadas entre a direção da FUP e os representantes da empresa.2

A pauta da greve

A greve tinha como pauta a luta contra a privatização (venda de ativos e desinvestimento) e a manutenção de direitos que a empresa insistia em retirar (alguns retroagindo à 2007). Após 2 semanas de greve a empresa apresenta nova proposta que era revalidar o Acordo de 2013 (ou seja, recuando da retirada de direitos), reajustar 9,53% e jogar a questão do desinvestimento para um Grupo de Trabalho para estudos por 60 dias e envio de relatório para direção da empresa (mais enrolação do que coisa concreta…).

Os petroleiros nas diversas assembleias de base pelo país já haviam informado aos representantes da FUP que era uma questão moral. A reivindicação era de abonar os dias parados e de constar no acordo que não haveria punições aos grevistas, dado que foi a intransigência da empresa – jogar nas costas dos trabalhadores a conta da corrupção e a retirada de direito − que levou os trabalhadores à greve. Mesmo assim a FUP manteve seu indicativo de aceitar o acordo do RH e do governo.

Várias bases foram sendo levadas pelas diretorias dos sindicatos à suspensão da greve, com diversas manobras. Na Bahia e no Unificado de São Paulo, antes mesmo de receberem o acordo na íntegra, assembleias relâmpago suspenderam a greve no mesmo dia do indicativo, sem esperar as assembleias do restante do país ou mesmo discutir com os trabalhadores de outras bases, aceitaram a proposta da empresa e voltaram a trabalhar.

Começa a rebelião de base

No dia 14, grevistas de base de sindicatos ligados à FUP, organizados (via WhatsApp, Facebook e piquetes) deram uma resposta contundente a burocracia governista. Os petroleiros de Minas Gerais por 89% dos votos na primeira assembleia, no Norte Fluminense − a principal base, responsável por mais de 60% da produção de petróleo − por 76% dos votos e em Duque de Caxias com 64% mantiveram a greve contra o indicativo da FUP e contra a diretoria desses sindicatos.

Pressionadas pela base, diretorias dos sindicatos do Ceará e do Espírito Santo se dividiram, e uma parte passou a defender a rejeição da indicação da FUP/RH. Nesses estados a greve também é mantida, contra a vontade da FUP. No ES o percentual chegou a 92% pela greve.

O recado foi dado tanto à FUP − os trabalhadores não queriam sair desta greve de cabeça baixa − quanto à direção da empresa: estavam dispostos a continuar a greve.

FUP e empresa iniciam a operação desmonte

A direção da empresa e a FUP iniciam a operação para acabar com a greve. Passam a refazer assembleias e enchê-las de fura greve e realizam assembleias em setores de não grevistas. Manobras que bem lembram as de Cunha na Câmara. Mais uma vez, contra as diretorias dos sindicatos e suas manobras, parte da categoria resiste.

Nas bases onde empresa e FUP foram derrotadas, inicia-se uma campanha de desmoralização dos grevistas. Alguns dos diretores do sindicato começam a enviar mensagens assediando os grevistas, amedrontando os mais fracos com ameaças de demissão, falsas estatísticas de misteriosas previsões de “perdas futuras”.

O esforço das direções sindicais ligadas a FUP para desmontar a greve foi tanto que em muitos lugares a direção do sindicato simplesmente sumiu, abandonando os trabalhadores nos piquetes.

Sem conseguirem acabar de vez com a greve após dias da ameaças e, com uma proposta da empresa de “formar uma comissão e discutir” (das quais participam os sindicatos), os dias parados e a não punição em janeiro, a greve termina em MG, depois no Norte Fluminense. Espírito Santo resiste, mas terá de suspender também já que a principal base havia recuado.

O sentimento geral dos trabalhadores é de que não foram derrotados, foram traídos.

Nas bases da Federação Nacional dos Petroleiros (-FNP – 5 sindicatos cada um com sua filiação CSP−Conlutas/CUT/independente) a greve se iniciou antes dos demais com muita força e mobilização dos trabalhadores e se sustentou até o desmonte da greve no Norte Fluminense.

São muitas as lições desta que foi a maior greve dos últimos 20 anos. A primeira é a falência da FUP como organização capaz de liderar os trabalhadores contra o capital, devido sua insistência em colocar os interesses do governo acima dos interesses da categoria.

A FUP não está à altura das tarefas que se desenham. Construir uma alternativa de classe e antigovenista é fundamental para a classe operária se organizar e defender os direitos ameaçados e a privatização (venda de ativos) que ainda está em andamento.

O desmonte da greve foi a maior traição da história da FUP até hoje e deixou evidente para a vanguarda a farsa do seu discurso. Como acreditar que uma greve “histórica” com reinvindicações políticas e econômicas termina com uma promessa de um estudo num Grupo de Trabalho (sem garantir que não serão vendidos ativos e sem recuperar os que já tiveram a venda aprovada)?

A defesa do inimigo feita pela FUP, sua insistência em defender governo que é quem privatiza e tenta tirar direitos, a mando do capital, tornaram a FUP obsoleta.

É verdade que se mantiveram direitos do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), porém o acordo é inferior à de diversas categorias, os dias parados não foram abonados, penalizando os grevistas e também não está garantido que não haverá futuras retaliações.

Construir a alternativa pela base

Outra lição é a força demonstrada pela auto-organização dos petroleiros. O uso das “novas” mídias, permitiu o contato de trabalhadores pelo país e o debate intenso na base. O uso dos piquetes ajudou a envolver mais a vanguarda. Em MG, no NF e no ES foram os próprios trabalhadores de base organizados que derrubaram o indicativo da FUP.

Também ficou evidente os limites da FNP. Ainda que com um bom trabalho em suas bases, ela não conseguiu se tornar alternativa nacional neste momento. Não tirou política em tempo de aproveitar a rebelião de base, não organizou as oposições para o combate e vacilou na denúncia política do governo Dilma.

Os desafios dos próximos rounds são muitos. A venda de ativos não se deteve, a terceirização, e com ela o rebaixamento de direitos, segue e a possibilidade de repressão e perseguição aos lutadores também não pode ser descartada.

Por isso, umas das principais tarefas que temos é buscar formas de organização da base, para se colocar em alternativa a burocracia sindical e também preparar para as próximas lutas.

A luta contra a Privatização

Sabemos bem os efeitos da privatização. Os resultados podem ser sentidos por toda população como no caso da Samarco (Vale – estatal que foi privatizada por FHC), estreitando ligações com a Petrobrás. “A Vale é comandada por Murilo Ferreira, presidente licenciado do CA [Conselho de Administração] da Petrobrás que, estranhamente, afastou-se da estatal, alguns dias antes de ser anunciada uma suspeita negociação para venda de 49% da Gaspetro à Mitsui. A multinacional japonesa é uma das controladoras da Vale e, portanto, tinha relação hierárquica direta com Murilo.”(FUP).

A busca pela expansão do lucro não se detém nem mesmo com a destruição de vidas e do meio ambiente, como ocorreu com o rompimento da barragem que estava sob responsabilidade da Samarco em Mariana (MG) causando diversos prejuízos ambientais em Minas Gerais, Espírito Santo. O desenvolvimento sob o domínio do capital é destruidor e ele não precisa passar por esse controle. No socialismo será possível aliar desenvolvimento com a preservação de todas as formas de vida porque ele visará a satisfação das necessidades humanas e não lucro.

-Pela reestatização integral da Petrobrás (100%), sob controle, dos trabalhadores e pela retomada do monopólio estatal do petróleo. Nenhum direito a menos!