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Jornal 71: A causa Palestina e a máquina de guerra Israelense


2 de setembro de 2014

A gênese do movimento sionista que culmina na constituição do Estado de Israel remete ao começo do século XX, em que o fundo financeiro internacional, que contou com a ativa participação de banqueiros, como Lord Rothschild, permitiu à aquisição de terras na Palestina. Com o apoio do imperialismo britânico, intifada12o projeto sionista se transformou em realidade a partir de 1923 e encontrou seu coroamento em 1948. Nesse período além de terras, os sionistas criaram suas organizações políticas e militares na região. De maneira que ao fim da Segunda Guerra Mundial, os sionistas estavam plenamente preparados para enfrentar os exércitos árabes (ROTTA, 2012).

No contexto da Guerra Fria, incitada pelo governo Truman, a criação do Estado de Israel serviria plenamente para fortalecer a política intervencionista dos EUA no Oriente Médio. Observa-se que as decantadas doutrinas Truman e sionista, serviram para forjar os elementos necessários para intervenção judaica e norte-americana na região. No entanto, é preciso desmistificar o caráter nacionalista e religioso do processo de constituição do Estado de Israel, pois ninguém melhor do que os próprios judeus para entender que o capital não tem pátria, pois estes viveram durante quase todo o período de desenvolvimento do cristianismo sem uma faixa de terra fixa e como estavam impossibilitados de possuir bens imobiliários na Idade Média, aprenderam a viver preferencialmente da atividade comercial e a constituir as bases para o desenvolvimento do capital mercantil ou comercial, atividade que se constituiu como fundamental ao processo de superação das relações de produção feudal e ao pleno desenvolvimento das relações essencialmente capitalistas.

O nacionalismo e a noção de que “os judeus precisam de um lar ou uma pátria” serve somente aos propósitos de manipulação da consciência das massas, e nesse aspecto, tem o mesmo efeito alienante que o fascismo exerce sobre elas; pois os sionistas, enquanto homens de expressiva fortuna, não careciam de pátria, à proporção em que o capital é a sua terra pátria. E o capital abre todas as portas e permite que os capitalistas vivam confortavelmente nas melhores regiões desse planeta. Os banqueiros que financiaram o processo de constituição do Estado de Israel não precisavam nem precisa de terra, porque possuem as melhores terras e as melhores mansões existentes nos EUA, Alemanha, Inglaterra etc. A história do Brasil mostra isso, afinal, quem foram os primeiros senhores de engenho? Quem foram os grandes comerciantes de escravos e das distintas mercadorias? E hoje, quem é o segundo homem mais rico do Brasil? A família Safra não precisa da terra dos palestinos para viver ou para plantar. Mas o Banco Safra certamente precisa da indústria da guerra, como precisa das riquezas minerais e naturais que existem no Oriente Médio. E o Banco Safra tem influência na política econômica brasileira suficiente para facilitar o intercâmbio comercial belicista entre Brasil e Israel.

O sionismo não passa de uma ideologia que serve aos propósitos do imperialismo americano e aos interesses do sistema financeiro de procedência sionista. A intensificação do conflito faz parte do projeto de ampliação da hegemonia norte-americana no Oriente Médio e dos banqueiros sionistas. E é preciso não esquecer que o capital está numa crise que envolve todos os seus complexos. E a crise de expansão e acumulação não pode ser resolvida; no entanto, ela pode ser adiada. E o que os homens de negócios que propagam a ideologia sionista buscam é lançar para bem longe as saídas estruturais para seu paciente terminal, e a melhor medida reparadora para o capital se chama guerra em pequena escala, (embora com intensa brutalidade, destruição e mortes) haja vista que uma guerra em grande escala pode conduzir a III Guerra Mundial e a destruição da humanidade.

A colonização israelense do território palestino

A formação do Estado de Israel implicou na alteração das correlações de forças presentes no Oriente Médio, transformando a região num verdadeiro barril de pólvora. O terror propiciado pelo Estado de Israel intensificou a luta entre judeus e árabes por território, recursos hídricos e minerais. A formação da Organização para Libertação da Palestina (OLP), pelos Estados árabes, brotou na necessidade de minimizar os efeitos deletérios da presença crescente do Estado sionista na região. O momento marcante desse avanço foi a Guerra dos Seis Dias (1967), em que Israel, valendo-se do elemento surpresa, controlou as colinas de Golã (pertencentes à Síria), do Monte Sinai e Faixa de Gaza (controlada pelo Egito), a Cisjordânia (controlada pela Jordânia) e Jerusalém Oriental. Isso implica a ampliação de sua área de controle de 20 mil quilômetros quadrados para 102 mil quilômetros quadrados. Apesar dos protestos da ONU contra o movimento imperialista israelense, a determinação de devolução dos territórios ocupados, segundo a resolução 242 da ONU, nunca foi acatada pelo Estado terrorista. Isso conduziu a realização da ofensiva dos países árabes (Egito e Síria) contra Israel em outubro de 1973 (Guerra do Yom Kippur). (LAMAS, 2004).

A guerra serviu para estreitar a participação das grandes potenciais econômicas na região e culminou na formação da OPEP (Organização dos Países Produtores de Petróleo), servindo de marco expressivo da gênese da etapa histórica de crise estrutural do capital, em que o caráter perdulário do capital ganharia corolários especiais. A posição irreversível do Estado de Israel em relação aos territórios ocupados impediu qualquer acordo de paz entre árabes e judeus entre 1967 e 1978. Nesta data acontece o Acordo de Camp David, em que Israel entrega a Península do Sinai ao Egito e com isso consegue neutralizar uma das forças mais expressivas do conflito. Em 1983, foi a vez de firmar Acordo com o Líbano, mediante promessa de retirar suas forças militares do país em troca da desintegração do apoio às ações da resistência Palestina em território libanês. No entanto, a presença dos exércitos israelenses nessa parte do oriente serviu para constituir organizações de resistências internas, como o Hezbollah. Mas, as forças armadas israelenses somente se retiraram do Líbano dezessete anos depois (2000). (LAMAS, 2004).

Nos territórios palestinos, o movimento de resistência se intensifica em 1987 com as intifadas organizadas pela OLP. Na perspectiva de encontrar uma saída pacifista para o conflito, a OLP acaba reconhecendo o direito de existência do Estado de Israel e o mesmo deveria acontecer estrategicamente da parte israelense. Nessa perspectiva foram firmados acordos entre 1993 e 1999, pela mediação de Arafat e Rabin, em que fica acertado gradual retirada das tropas israelenses dos territórios ocupados, a constituição de uma Autoridade Nacional Palestina (AP), uma política para resolver o problema dos refugiados palestinenses (4 milhões de pessoas) e que os problemas territoriais não poderiam ser resolvidos pela força. E como nenhum dos acordos foi respeitado ao longo dos cinco anos, tentou-se um novo acordo em 2000, em Camp David (EUA), mas fracassou devido à insistência de Israel em manter os palestinos em quatro territórios separados e negar: 1) a possibilidade de soberania palestina em suas fronteiras; 2) autonomia de seu espaço aéreo; 3) limitação de seus recursos hídricos. (LAMAS, 2004).

Na primeira década do século XXI assistiu-se a intensificação da expansão israelense no território palestino, e ainda a construção de um muro de proteção separando Israel da Cisjordânia, repetindo o feito operado na Faixa de Gaza. O conflito se intensifica porque Israel aproveita a construção do muro para invadir inúmeros quilômetros da Cisjordânia e desrespeitar os limites estabelecidos pela linha verde fronteiriça estabelecida em 1967 (LAMAS, 2004). Apesar das críticas da comunidade internacional à violação dos direitos humanos e aos preceitos instituídos pela ONU, e também pela ilegalidade decretada pela Corte Internacional de Justiça à constituição do referido muro, Israel não recuou um centímetro sequer de propósitos de ocupação militar dos territórios palestinos. Assim, o fracasso das negociações no final do século XX ajudou a intensificar a onda de violência da região entre 2000-2005, em que as intervenções belicistas de Israel foram seguidas pela segunda intifada e um conjunto de atentados orquestrados pelo Hamas e Fatah. Com isso a direita, agrupada em torno do Likud, fortaleceu-se ainda mais.

O projeto expansionista sionista tem como letimotiv a guerra, pois esta é única maneira de superar suas fronteiras estabelecidas entre o rio Jordão e o Mar Mediterrâneo e expandir seu território para os rios Nilo e Eufrates. Nesse contexto, a Palestina é tão somente a primeira barreira do projeto da grande Israel. E o processo de definhamento dos territórios palestinos é plenamente atestado pelos dados: “Alias, os palestinos tinham 100% das terras, passaram a ter 45% em 1947, cerca de 35% em 1967 e com as negociações de paz de 1993, hoje possuem controle de menos de 22 da Palestina histórica” (TOLEDO, 2014, p. 2)

Ao contrário de Israel, não existe uma organização palestinense (OLP, Autoridade Palestina, Hamas e Fatah) que não tenha demonstrado interesse pela pacificação da região. O Hamas, por exemplo, abriu mão de mandato obtido nas eleições parlamentares de 2006 em nome da busca de uma solução negociada para o conflito, em que entregou o poder político para representante da OLP e da AP de Mahmoud Abbas; diferentemente do partido da extrema-direita israelense (Likud) representado por Netanyahu, que afirma claramente não aceitar a existência de um Estado palestino soberano. Isso implica que Israel não abre mão do controle da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, lembrando que Jerusalém fica estabelecida no interior da Cisjordânia. Reconhecer a autonomia deste território seria uma perda irreparável para os propósitos econômicos e estratégicos do poder sionista e um enfraquecimento do discurso religioso.

O complexo industrial-militar israelense e seu terror de Estado

O clima de tensão na região tende a agravar-se, porque a paz não interessa ao quarto maior complexo industrial-militar do planeta, que emprega aproximadamente 22% de sua força ativa de trabalho e que acumula mais de 7,4 bilhões apenas com a exportação de seu sistema de defesa e assessoria militar. Diante de tal potência bélica, nenhuma das nações vizinhas pode sentir-se em segurança perante o Estado sionista, uma vez que a quebra dos protocolos internacionais e das resoluções da ONU constitui-se como démarche da referida potência bélica. O direito reconhecido por Israel é somente o direito baseado na força. O imperialismo israelense está plenamente articulado aos preceitos belicistas norte-americanos. E conta ainda com o apoio incondicional da União Europeia e da OTAN.

Enquanto os israelenses possuem o 5º maior exército mundial, os palestinos estão proibidos de constituir qualquer exército, e sua luta defensiva é formada por armas artesanais, enquanto isso o exército israelense conta com os modernos artefatos químicos e nucleares. O exército é superior ao conjunto dos exércitos árabes e segue completamente o desenvolvimento do complexo industrial-militar norte-americano. Enquanto a defesa palestina é somente uma tentativa desesperada de resistência, não possuindo nada da complexidade do arsenal contemporâneo, a máquina de destruição e morte de Israel conta com aviões caças F16, helicópteros Apache, tanques, blindados, porta-aviões, e todo um sistema (aviões-Heron TP, mísseis, veículos-Guardium, navios-Protector) não tripulados. Este sistema tem como fundamento a tecnologia norte-americana conhecida como aviões-espiões ou invisíveis, que são capazes de escapar do sistema de radar usualmente utilizado. Esses aviões não tripulados atuam com poderio ofensivo capaz de produzir danos incalculáveis aos palestinos.

Além disso, o exército mortífero de Israel possui as multifuncionais máquinas aéreas de apoio à infantaria como: Hermes, desenvolvido pela Elbit Systems, e o Skylark. A parafernália mais avançada da indústria bélica, exportada ou fabricada pelo seu complexo industrial-militar, desrespeita completamente os direitos humanos e as convenções internacionais acerca dos prisioneiros de guerra. O terrorismo é abertamente praticado pelo Estado, em que constantemente se humilha, tortura e mata prisioneiros (adultos, jovens e crianças). A tortura e o assassinato de crianças e mulheres denotam o claro interesse sionista de exterminar os palestinos. Os dados apontam que três de cada dez palestinos assassinados são crianças.

Isso revela o caráter contraditório da história. Um povo que no passado foi vítima da perseguição e dos campos de concentração, agora adota os mesmos procedimentos contra outro povo. Na verdade, não se trata da natureza de um povo, mas da natureza do capital e da necessidade de sua expansão e acumulação, em que os seres humanos simplesmente são destituídos de valor. O projeto sionista dos grandes banqueiros é no fundo o projeto sociometabólico de reprodução do capital, em que a guerra comparece como uma de suas atividades mais lucrativas.

A expansão do Estado sionista é somente uma das expressões do caráter destrutivo e perdulário do capital. O bombardeio da Faixa de Gaza pela viação israelense, região formada por aproximadamente 1,7 milhões de pessoas em condições subumanas, constitui-se como genocídio e crime contra a humanidade. E o que é crime de guerra, de um lado, é laboratório para se testar a eficiência de seus produtos bélicos, do outro.cartoon 2009 Obama_boycotts_racism_summit_by_Latuff2

A máquina da guerra serve para justificar a necessidade de expansão do complexo industrial-militar. O projeto dos banqueiros sionistas de ampliação territorial é somente um exemplo da natureza destrutiva do capital. E que o referido sistema sociometabólico somente pode intensificar e agravar os problemas da humanidade, ou seja, ele somente pode intensificar a barbárie, pois está estruturalmente impossibilitado de solucionar os problemas estruturais da humanidade.

Conclusão

Ao invés de elevar as condições de vida da humanidade, o capital prefere semear a guerra. Ao invés de emancipar o povo palestino do estado de exceção em que está enredado, o capital somente pode aprofundar o genocídio e o extermínio de seres humanos. O genocídio dos palestinos praticado pelo Estado de Israel serve para revelar a natureza de todo Estado. Por isso, não se constitui nenhum exagero afirmar que o extermínio de crianças palestinas em Gaza é somente prelúdio do projeto de extermínio da humanidade pelo capital. Os exércitos israelenses não matam apenas jovens e adultos, assassinam crianças indefesas e inocentes. Isso denota o estado de barbárie e desumanidade desses tempos hodiernos. Por isso, a humanidade deve erguer-se hoje contra o Estado de Israel como deve erguer-se contra o capital, que recorre permanentemente ao Estado para criminalizar os trabalhadores e os movimentos sociais em todo o mundo.

Lutar não é um crime. Os palestinos têm todo o direito de resistir à ofensiva israelense. Crime é o que o Estado de Israel está fazendo. Crime é o que o capital está fazendo, pela mediação do aparato repressivo do Estado, com os trabalhadores em todo o mundo, inclusive no Brasil. Enquanto o Estado de Israel representa barbárie e destruição da humanidade, a defesa da causa palestina representa o direito do resistir contra o capital e o imperialismo orquestrado pela máquina de guerra alimentada pelos banqueiros sionistas.

Referências bibliográficas

LAMAS, Bárbara Gomes. Palestina e Israel: acordos de Oslo, Camp David II e Mapa da Paz. Conjuntura Internacional, PUC – Minas, 2004. Endereço. http://www.pucminas.br/imagedb/conjuntura/CNO_ARQ_NOTIC20050802162917.pdf. Acesso em 02 de agosto de 2014.

ROTTA, Helen Rocha. A doutrina Truman e a criação do Estado de Israel: o lobby judaico na política americana. Revista Historiador, no. 05. Dezembro de 2012.

TOLEDO, Thomas. 10 mentiras de Israel contra os palestinos. Endereço: http://cebrapaz.org.br/site/todas-as-noticias/1043-10-mentiras-de-israel-sobre-o-genocidio-contra-os-palestinos-por-thomas-de-toledo.html. Acesso em 04 de agosto de 2014.