Desde março de 2019 o Espaço Socialista e o Movimento de Organização Socialista se fundiram em uma só organização, a Emancipação Socialista. Não deixe de ler o nosso Manifesto!

A austeridade pesa mais para a mulher trabalhadora


21 de fevereiro de 2016

grecia-nao-somos-idiotas-somos-m-1

Precarização e Desemprego para as mulheres na Europa da austeridade

(texto subsídio para o debate de conjuntura internacional da Conferência do Espaço Socialista, em Outubro de 2015)

Thais Menezes

Estourada a crise de 2008, a contra tendência que o capital encontrou para tentar seguir seu curso de valorização foi dessa vez a chamada política de austeridade, uma política de retirada de direitos e cortes nos investimentos públicos que tem como consequência direta um profundo rebaixamento das condições de vida da classe trabalhadora.

Mesmo com muita luta e em um cenário de greves gerais pela europa, as políticas de austeridade foram implementadas em diversos países da Europa, com a desculpa de resgatar as economias nacionais. O que se viu foi o contrário, a Europa sangra aos poucos e as condições de vida dos trabalhadores se rebaixam desesperadoramente. Apesar das primeiras manifestações da crise terem afetado primeiramente o emprego dos homens, com o desenrolar da crise, a situação das mulheres, como setor já mais explorado da classe trabalhadora, se agravou ainda mais como consequência dessa política. Dentre as medidas, os cortes nas despesas públicas e os aumentos dos impostos se destacam nesse debate. O emprego é afetado diretamente no setor público e impacta também todo o setor privado. A já massacrante desigualdade salarial entre homens e mulheres se agrava ainda mais desde o estourar da crise.

O relatório da OIT “Tendências Mundiais de Emprego das Mulheres 2012” afirma que:

“No período anterior ao da crise, entre 2002 e 2007, a diferença entre a taxa de desemprego mundial entre mulheres (5,8%) e homens (5,3%) era de 0,5 ponto percentual. Já no decorrer da crise, de 2009 a 2012, o índice subiu para 0,7 ponto percentual. As mulheres registram 6,4% de desemprego e homens 5,7%.O órgão também indica que no mundo metade das mulheres trabalham com serviços, um terço na agricultura e um sexto na indústria. Nos países desenvolvidos, cerca de 85% delas estão concentradas nas áreas de Saúde e Educação. Para a OIT, isso indica que há mais limites para as mulheres em suas escolhas de emprego. Ao redor do mundo há cerca de 1,3 bilhão de mulheres no mercado de trabalho. Isso equivale a menos de 40% do total de 3,3 bilhões de trabalhadores.” (Portal CTB.ORG )

Em Portugal, por exemplo, de 9% em 2008, sobe para 15,7% em 2014. Na Espanha, já em 2010, o salário das mulheres já era 78% mais baixo que o dos homens. Sob o domínio da Troika, estudos de 2014 comprovam que as mulheres portuguesas são a maioria nas situações mais precarizadas como no setor afetado pelo desemprego de longa duração, pelos contratados temporários, trabalhos de tempo parcial, trabalhos que pagam apenas o salário mínimo e maioria também entre os trabalhadores que sofrem de doenças profissionais.

Em 2012 os reflexos da crise internacional e das políticas de austeridade já mostravam  maior desemprego entre as mulheres  do que entre os homens em dez países da União Europeia: Eslováquia, Eslovênia, Espanha, França, Grécia, Itália, Luxemburgo, Malta, Polônia e República Checa. Na Espanha e na Grécia, mais de um quarto da mão de obra feminina estava sem emprego já em 2011.

Por ocuparem historicamente pelo mundo os postos de trabalho mais precarizados, serem alvo do trabalho informal e temporário, as mulheres são as mais vulneráveis e quando surgem as recessões são as primeiras a cair no desemprego. Na Grécia, por exemplo, a partir de maio de 2011, a taxa de suicídio entre as mulheres aumentou quase 36% e se manteve até 2012. Grécia  (Fonte: revista médica BMJ Open, http://bmjopen.bmj.com/content/5/1/e005619). Pesquisas apontam que a queda de 1% do PIB aumenta a mortalidade infantil, de cada mil meninas nascidas vivas, 7,4 morrem. Para os meninos esse número cai para 1,5 mortes.

Os cortes nos investimentos públicos também têm maior impacto na mulher trabalhadora. Afetam o já ínfimo suporte que o estado pode vir a garantir ou não no sistema capitalista com serviços básicos. O corte dos programas sociais se traduz em ataques que incidem diretamente nas famílias. A chamada “juventude sem futuro” europeia sobrecarrega ainda mais as mulheres.

Em Portugal, de 2009 a 2012, meio milhão de crianças perderam o direito ao abono e família e 60% dos jovens entre os 18 e os 34 anos vive em casa dos pais. O enxugamento do estado volta a transformar a família no maior pilar de apoio dos trabalhadores, relegando às mulheres um caminho de retorno à dependência familiar, um retrocesso sem tamanho nas lutas das mulheres para sair da esfera privada. O legado da austeridade é devastador e seus impactos ainda serão sentidos por muitos anos.

 

Referências

http://www.europarl.europa.eu/atyourservice/pt/20150201PVL00059/Women-and-Gender-Inequalities-in-the-Context-of-the-Crisis

http://www.esquerda.net/dossier/os-cortes-de-rajoy-mulheres-suportam-parte-pior/22244

http://www.mas.org.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=803:tres-anos-apos-a-entrada-da-troika-qual-e-a-situacao-das-mulheres-em-portugal&catid=141:mulher&Itemid=604#a2

http://www.envolverde.com.br/economia/as-mulheres-sao-as-mais-afetadas-pelas-medidas-de-austeridade/

http://www.rtp.pt/noticias/economia/austeridade-agrava-situacao-das-mulheres-no-mercado-de-trabalho_n612772#sthash.wLczPiU3.dpuf

http://portalctb.org.br/site/noticias/internacional/18582-mulheres-sofrem-mais-com-desemprego-mundial-aponta-oit

http://www.dialogosdosul.org.br/as-mulheres-sao-as-mais-afetadas-pelas-medidas-de-austeridade/12062013/