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Nota de apoio à luta dos Professores e demais funcionários públicos do Paraná e de repúdio a ação violenta do Governo Richa, da Polícia Militar e dos Parlamentares para impor leis contra a classe trabalhadora!


4 de maio de 2015

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Novamente, no Paraná, Professores e demais funcionários públicos, em 29 de abril, tentaram barrar o Projeto de Lei que coloca em risco a aposentadoria. Mais de 20 mil trabalhadores cercaram a Assembleia Legislativa que votaria o projeto, sob as ordens do governador Beto Richa.

Mordida de cachorro, gás lacrimogêneo, balas de borracha, gás pimenta. Tiros, bombas jogadas de helicóptero e o aparato com cerca de 2000 mil policiais militares, da capital e vindos do interior tentaram impor a nova lei.
Com essa situação e esse clima de guerra foi aprovado o Projeto de Lei (com 31 votos favoráveis e 20 contrários) e sancionado no dia seguinte. Deputados, policiais e o governo, a partir de brutal repressão, impuseram aos Professores e demais funcionários do estado do Paraná verdadeiro massacre.
Foram quase 200 trabalhadores feridos. Alguns (ver depoimento abaixo) foram alvejados por balas. Até 7 balas! Na perna, barriga, garganta, rosto e mesmo no olho.
Toda essa ação foi realizada sob ordens diretas do governador que, mesmo depois do massacre, aprovou e justificou a ação policial. Consideramos essa ação uma das mais violentas (das últimas décadas) já patrocinadas por forças policiais.
E não nos iludimos de que essa repressão é algo “anormal” nessa “democracia”. Tem sido muito comum a perseguição a ativistas, prisões, ações policiais contra manifestantes, enfim, é uma democracia com a cara da burguesia: bem autoritária.
O governo estadual (PSDB) parou de contribuir com fundo de previdência (Caixa pública do Estado) e o déficit aumenta a cada dia. Com a aprovação dessa nova Lei, o governo irá transferir os 33.556 beneficiários de aposentadoria e pensão, com mais de 73 anos, para o Paraná-Previdência, que conta com as contribuições do funcionalismo e do Estado. Ou seja, os próprios servidores pagarão a aposentadoria que deveria ser paga pelo governo estadual. 2015-04-30 08.14.34
É a velha lógica capitalista: diante de crises, retiram-se direitos e conquistas dos trabalhadores para se manter a exploração .
Mas, essa política não se restringe ao Paraná. É parte integrante dos ajustes que os governos federal e estaduais (PT, PMDB, PSDB, etc.) estão fazendo, não para garantir direitos sociais, mas para cobrir o rombo criado por seus próprios governos e para ter um superávit, que será enviado aos banqueiros e agiotas oficiais através do pagamento dos juros das dívidas.
Reconhecemos, saudamos e nos somamos à luta dos Professores e demais trabalhadores públicos do Paraná! Diante desses brutais ataques reafirmamos o direito democrático de resistir e se organizar para barrar qualquer projeto que vá contra os direitos conquistados! Ressaltamos a falácia do regime democrático burguês e seus parlamentares, que chegam a isolar a “casa democrática” para votar, de portas fechadas e escoltada pela Polícia militar, leis contra a classe trabalhadora.
Estamos, incondicionalmente, ao lado dos Professores e demais trabalhadores do serviço público Paraná! Reivindicamos a quem trabalha e luta a construção de ações práticas de apoio e fortalecimento das greves e manifestações! Repudiamos, veemente, a ação do governo Beto Richa e dos parlamentares que agem como fascistas, massacrando quem resiste e luta.
Unir as lutas dos trabalhadores contra os cortes de direitos e por uma sociedade que faça valer a necessidade da maioria!
Publicamos abaixo três relatos (com fotos das lesões) de professores do Paraná, vítimas das balas disparadas pela Polícia Militar. A leitura dispensa comentários.

Professora I. R.

Os professores e demais servidores lutam por um direito adquirido há mais de 20 anos. Muitos estão à beira de se aposentar, já planejaram suas aposentadorias, deram suas vidas e sua saúde pelo árduo trabalho que nem sempre é valorizado. Neste momento, lutamos democraticamente para a retirada desse projeto descabido do Governo Carlos Alberto Richa, que visa confiscar aproximadamente R$ 8 bilhões do Paraná Previdência, fundo destinado à aposentadoria dos servidores públicos estaduais, para cobrir os rombos que ele mesmo tem feito no Caixa público do Estado do Paraná.
O atual governo não usa transparência nas operações financeiras e – uma vez que tem a maioria na Câmara dos Deputados e também exerce influência sobre o poder judiciário – se sente no direito de fazer o que bem lhe aprouver. Diante dessa situação problemática que está ocorrendo desde o início do ano, estamos vivendo momentos estressantes. Muitos professores, embora ausentes no manifesto do dia 29, mas que acompanharam através do noticiário, estão abalados psicologicamente por estarem de mãos atadas contra o mando e desmando do governo.
Eu me juntei aos milhares de professores e demais servidores para a manifestação em frente à Assembleia Legislativa do Paraná. Imaginávamos que poderíamos usufruir da democracia e exercer nossa livre expressão ao defender nossos direitos. Fomos agredidos covardemente no solo e pelo ar com bombas, gás lacrimogêneo, spray de pimenta, cacetadas e balas de borracha. Atiradores estavam posicionados do alto de um prédio e num helicóptero e lançavam as bombas em cima do povo que recuava.
O Governador do Estado usou a Polícia Militar para literalmente varrer o Centro Cívico, fomos chamados de vândalos, baderneiros e “black blocs”. Vale lembrar que após a manifestação não foi observado nenhum dano ao patrimônio público. É direito garantido ao povo acompanhar as sessões da Câmara dos Deputados, mas ao invés disso, fomos tratados como bandidos por aqueles que já foram alunos do sistema público de Educação e que têm seus filhos estudando nos colégios estaduais.
Fui atingida por uma bala de borracha na perna e muitos outros colegas de profissão foram feridos com bombas e cacetadas. A dor física não se compara à dor de sermos tratados como arruaceiros. Estamos muito envergonhados com a situação atual do estado do Paraná. Espero que sirvamos de exemplo para nossos alunos, que se tornem críticos e façam valer a democracia.

Professor R. L. S.

Sou acadêmico do Curso de Educação Física da Unicentro, no campus Irati. Serei breve no relato, pois foram quase três horas de massacre.
Estava desde segunda feira em Curitiba e somente quinta à noite voltei da manifestação pelos direitos dos servidores públicos, pois logo após encerrar o massacre, aproximadamente 17:30 h, fui para o Hospital dos Trabalhadores e fiquei lá durante um período.
Na hora do massacre fiquei indignado e fui para frente tentar fazer algo, resistir, ajudar, tentar furar o bloqueio e acabei conseguindo ficar entre os pelotões do choque e PM. Aí ajudei um pessoal que estava deitado no chão apanhando e levando bomba, tiro e jato d’agua. Na tentativa de ajudar meus colegas acabei sendo alvejado por 7 tiros de bala de borracha, sendo algumas a queima roupa, 1 estilhaço de bomba e uma pedrada. Fiz B.O. com o exame de corpo delito.
Fotos dos ferimentos em anexo.2015-05-01 21.46.06-1

Professor A. H.
Sou professor do Estado do Paraná há 4 anos. Quero deixar registrado que não sou sindicalizado e nem militante político.
No dia 29 de abril recente estive na manifestação com meus colegas de escola motivados pelo Projeto de Lei contra os professores do Estado. Eu e mais duas colegas iniciamos uma volta no local, assustados com o efetivo de policiais presentes. Estava tudo pacífico e não evidenciei até este momento nenhum abuso por parte dos manifestantes e nem dos policiais. Cerca de 20 minutos aproximadamente, afastei-me das colegas e fiquei próximo à grade de proteção a qual, de um lado, estávamos nós manifestantes e, do outro, os policias com todo seu aparato (escudos, armas, cassetetes, entre outros) Fiquei pouco mais de 5 minutos observando o local à minha volta. Lembro claramente de professores e estudantes falando palavras de ordem e alguns colegas de profissão tentando atingir verbalmente os policiais próximos da grade, fielmente concentrados e não perdendo a postura diante da situação.
Quero deixar claro que em nenhum momento tais colegas feriram a honra e a dignidade dos policiais. Tudo ocorreu muito rápido. Lembro que o carro de som falou algo sobre o Projeto de Lei e o grupo que estava concentrado na grade de proteção tentou invadir a área cercada pelos policiais. Aos meus olhos, não foi uma situação planejada e organizada pelos professores e muito menos motivada pelas palavras oriundas do carro de som. Esta situação foi tão inesperada e quando me dei conta do que estava acontecendo eu estava no meio de uma guerra, mas sem armas na mão e muito menos com sentimento de ódio. Meu instinto no momento foi tentar ajudar de alguma forma os companheiros que estavam feridos com balas de borracha e os quais se encontravam desorientados pelas bombas de efeito moral. Comecei a filmar o que estava ocorrendo, abandonei o local em que eu me encontrava (próximo à grade), pois o fluxo de pessoas correndo era enorme. Haviam pessoas caídas na minha frente, então parei para ajudá-las.
Enquanto acontecia tudo isso, eu até esqueci que meu celular estava gravando. Só me toquei quando ele caiu e me abaixei para pegá-lo. Ao levantar senti uma dor terrível na perna direita, porém, não consegui perceber o que me atingiu. Tudo acontecia muito rápido e o barulho era intenso. Percebi um grupo de pessoas que estava sentado na pior posição desse confronto e sem pensar agi de forma imediata e fui ao encontro desse grupo enquanto identificava se havia algum ferido. O barulho de armas continuava e parecia metralhadoras que não paravam de disparar. Algumas bombas caíram ao meu lado, a policia estava muito próxima a mim. Embora em nenhum momento os 2015-05-01 21.37.07policiais próximos tentassem me ferir com cassetete, me manter naquela posição era completamente inviável, pois com o efeito das bombas de efeito moral era insuportável ficar ali. Ao sair dessa posição fiquei completamente desorientado e comecei a andar sem rumo, perdido sem saber o que fazer. Quando consegui me recuperar observei ao meu redor que a multidão estava dispersa, mas no meu entendimento, não podíamos abandonar a praça. Devíamos ficar “ALI” mostrando que somos fortes e resistentes e que não era a ação da polícia que iria nos desmotivar. Em grupo, começamos a nos organizar dando as mãos fazendo um cordão de isolamento, porém de costas para os policiais, com o intuito de manter os professores manifestantes longe dos policiais posicionados, para que ninguém ultrapassasse aquele limite, teoricamente seguro para nossos colegas. Foi quando de forma INIMAGINÁVEL, CRUEL, INDIGNA E MEDÍOCRE a polícia voltou a atacar, sem motivo, sem causa, sem justificava, com bombas que explodiam ao nosso lado, balas de borracha eram atiradas em nossa direção, senti que fui alvejado no ombro, panturrilha e tornozelo pelas balas. Quando os ânimos pareciam se acalmar, tentávamos novamente realizar o mesmo procedimento do cordão de isolamento e, mais uma vez, a polícia agia de forma cruel, desumana espancando os professores de forma humilhante com cacetadas.