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A estratégia da derrota – José Luis


23 de setembro de 2012

Este texto é uma contribuição individual, não necessariamente expressa a opinião da organização e por este motivo se apresenta assinado por seu autor.

A ESTRATÉGIA DA DERROTA

José Luis – Funcionário Publico – ABC

 

O senso comum diz que nem sempre o melhor caminho é o mais curto. A isto aplica-se as organizações operárias no século XX. Apesar de lutar com heroismo e intensamente neste período levou a derrotas históricas, principalmente por falta de uma direção conciene, como um trabalho de Sífiso(1).O tema que está em discussão é o Entrismo, que é um dos temas pouco estudado pelos historiadores e organizações políticas. Esta tática consiste em que uma pequena organização infiltra-se em um partido que tem grande influência de massas. Seu objetivo é cooptar um grande número de militantes e quadros, constituindo-se uma fração que disputa a direção deste partido. Como o processo pode ocasionar uma crise, vai de encontro a uma ruptura, resultando a saída desta organização entrista, fortalecida com um grande número de menbros, rumo a um grande partido revolucionário de massas, este é o objetivo principal da tática do entrismo.

Tática esta proposta por Trotsky nos anos de 1934/35 em relação aos partidos socialistas em que um grande setor da juventude foi atraído por estes partidos na Europa(2). Nos anos 50, a IV Internacional sob direção de Michel Pablo orientou que fizesse o entrismo nos Partidos Comunistas(3), na Argentina esta tática degenerou-se a ponto de fazer entrismo no peronismo, partido burguês com peso de massas e no sindicalismo em 1953 sob a direção de Nahuel Moreno, chegando a apoiar o candidato de Peron – Arturo Frondizi em 1958, o então candidato da UCR(nesta época o peronismo estava na clandestinidade) um tradicional partido de direita que sempre teve política antioperária. A consigna do jornal da organização de Moreno – “Palabra Obrera” era o lelma: “Sob as diretivas do General Perón e o Comando Superior Peronista”(4). Nos anos 70 no Brasil, toda a esquerda faz o entrismo no M.D.B, partido de “oposição” consentida pela ditadura.

Não é preciso de uma tese monumental para explicar o fracasso do entrismo. A própria história mostra a ausência de um “grande partido revolucionário de massas” originado deste projeto. O entrismo é uma tática militarista que aplicado no plano político demonstrou ser um grande fiasco. Os motivos são óbvios: – Ao realizar o entrismo, não analisou a reação do inimigo, isto é as direções dos partidos de que não aceitariam passivamente esta invasão. A reação pode ser explicada por três fases: cooptação; desmoralização e expulsão. – Cooptação: consiste em atrair os quadros mais capcitados das organizações entristas a serviço da direção do partido, como cargos partidários, parlalmento e até cargos públicos, quando este partido alcançar o poder, a História mostra inúmeros exemplos de ministros, parlamentares e burocratas que teve sua origem política de pequenas organizações de esquerda que fizeram entrismo nos grandes partidos reformistas, vide o exemplo dos menbros do governo do PT. – Desmoralização: A organização entrista tem que submeter-se a disciplina do partico e militar com pouca autonomia e com a cooptação de seus quadros principais, estas organizações fragilizam-se, entram em crise e chegam até dissolver-se dentro do partido, levando a desmoralização dos seus militantes de base e quadros médios que levou todo o seu trabalho mais a contribuição financeira de seus menbros (cotização) em proveito da parte da direção cooptada que os usou para trair os que ajudaram a ascenderem no partido em que fizeram o entrismo. – Expulsão: quando esta organização entrista não ser mais “util” e entrar em conflito com a direção deste partido, ocorre a expulsão desta corrente, ao qual a história demonstrou que seu ganho político foi insignifante, nulo ou pior: – saiu debilitado desta experiência.

PT: O cavalo de Tróia para a classe trabalhadora no Brasil

No Brasil, o entrismo teve características “sui generis”, devido ao seu atraso político e econômico, nunca teve um grande partido reformista de massas. No final dos anos 70, com a ascenção das greves o sistema político bipartidário da ditadura (MDB x ARENA) implodiu, abrindo a possibilidade de criação de novos partidos. A esquerda estava fragmentada em dezenas de siglas rivais entre si, originárias do trotskismo e do stalinismo (este em acelerada decomposição no Brasil a nível mundial). Estas organizações optaram pelo entrismo e não existindo um partido reformista de massas, trataram então de cria-lo – O Partido dos Trabalhadores, cuja criação foi um caldeirão político político constituido por inúmeras correntes de esquerda, políticos egressos do extindo MDB, setores da Igreja Católica e de um setor da burocracia sindical que passou posteriomente a entrar em conflito de interesses com a então ditadura militar. Esta burocracia sindical merece uma atenção a parte. Criada após a desarticulação do velho peleguismo getulista e do Partido Comunista pelo golpe de 64. Criou-se uma nova burocracia sindical esta estreitamente ligada as multinacionais que dominaram a economia brasileira após 64, da qual muitos dirigentes freqüentaram curso sob patrocínio da Social Democracia na Alemanha e nos EUA sob a direção da CIA, sendo sua maior representatividade na região do ABC. Intimamente ligado ao capital internacional, devotos anticomunistas, com seus próprios interesses, distante de sua base que os sustentavam : a classe operária. No início das greves do ABC era comum a direção do Sindicato, colocar seguranças na porta do Estádio da Vila Euclides em São Bernardo impedindo a entrada de distribuição de panfletos e venda de jornais de esquerda, seguidas de declarações de despolitização das greves.

Com a reação violenta da ditadura, que reprimiu e interveio nos sindicatos, esta burocracia da um giro à esquerda, numa questão de sobrevivência política, passam a fazer oposição ao regime e também a construir o PT tomando conta da sua direção. È esta burocracia que as correntes de esquerda levaram ao poder, sendo o seu líder principal elevado a condição de “Messias” da classe trabalhadora. Outro setor mais a direita da burocracia permanece fiel a ditadura e juntamente com os restos do stalinismo, entra no PMDB e cria sua base sindical. (Unidade Sindical, que originou a atual Forçã Sindical). Com um programa inicialmente progressista e antiimperialista o PT foi construído com esforço hérculeo com militantes da base das organizações de esquerda, os militantes deste período hão de lembrar as filiações de porta em porta e até as vendas das famosas “estrelinhas do PT” e de até de contribuição do próprio bolso destes militantes, muitos dos quais chegaram a perder seus empregos e até a própria vida na construção deste partido. Paralelamente as direções destas organizaçoes foram ao poucos cooptado pela direção do PT que desde o início desvirtou-se de seu papel de lutar pela classe trabalhadora e luta contra o imperialismo, servido aos interesses da burocracia sindical e de políticos profissionais. Este entrismo ” a brasileira” passa a ocorrer de modo inverso, muitas dessas organizações passam a ser absorvidas pelo partdo com a extinção de seus jornais e dissolução de suas frações. O PT foi oposição dentro dos marcos do regime da moribunda ditadura ao governo Sarney. A partir de 1988, com a conquistada das prefeituras e um grande número de parlamentares, passa a ser base de sustentação do regime, onde governam passam a segur a rista os ditames do FMI, levando a classe trabalhadora a pagar a crise econômica criada pela burguesia nacional e internacional. Com a queda dos regimes ditos “socialistas” do leste da Europa e da URSS, o PT completa seu giro à direita e passa a ser a criatura que virou inimiga de seu criador – os trabalhadores. Sua capitulação final se da no Governo Collor, o mais corrupto da história brasileira, realizaram o “pacto social” através de seu braço sindical a CUT através das “Camaras Setoriais”, que engessou o movimento sindical abrindo caminho paa as privatizações e ataque ao nível de vida da população, promoveu a abertura indiscriminada das importações tendo como conseqüência o fechamento de fábricas e desemprego massivo de trabalhadores, O PT com o discurso de “manter a governabilidade foi o último a apoiar a deposição de Collor, expulsando a Convergência Socialista por esta ser a primeira organização ao apoiar o movimento de “Fora Collor”, mais tarde expulsou a Causa Operária, cujas organizações constituiram em pequenos partidos com pouca expressão política e sindical, contrariando a previsão da tática entrista, não houve grandes rupturas massivas. As demais organizações de esquerda que não se dissolveram no PT, tornaram-se seitas satélites que seguem incondicionalmente as diretrizes do PT. Como a Democracia Socialista que participou do Governo Lula no Ministério da Reforma Agrária atuando em proveito do agronegócio contra os camponeses sem-terra. O Trabalho cujos dirigentes ocuparam ministérios e até envolveram em atos de corrupção como da pasta do Turismo, Não passam de organizações eleitoreiras que iludem seus militantes de base (5). Em 2002, com a incapacidade dos partidos da burguesia de governar, o PT conquista o poder (com apoio do PSTU – ex Convergência no 2º turno), passa a dar continuidade do modelo neoliberal, implantando nos anos 90, em manter os grandes lucros dos bancos, a política de desindustrialização através das importações massivas e favorecer o agronegócio em prejuízo dos pequenos produtores e da populãção em geral como o incentivo as múltis do agrotóxico e concentração de terras a monocultura em detrimento a produção de alimentos. O Capital Internacional tem mais confiança no PT do que nos partidos tradicionais da burguesia brasileira, por seu papel principal de controlar os sindicatos e movimentos sociais. O PT segue o mesmo papel trágico de outros partidos reformistas de base operária, de de voltar contra a própria classe operária que o criou. Sua base de direção e seu braço sindical (CUT) desempenha o mesmo papel da qual foi criado na ditadura: – de ser o capataz do imperialismo contra os trabalhadores e até contra a prórpia burguesia nacional, quando esta passa a ser obstáculo aos interesses do capital internacional, a exemplo da desnacionalização da indústria automobilistica, falência do setores têxteis e calçadista, devido as importações predatórias.

A Conclusão de que o entrismo foi juntamente com a política de frentes populares (coalização de partidos comunistas e socialistas com a burguesias nacionais) uma tragédia para a classe trabalhadora no século XX. Cooptação, desmoralização e finalmente traição de suas direções entristas, fortaleceu os aparatos contra-revolucinários e seus agentes. Este artigo é uma pequena amostra a novas gerações de lutadores a não repetir os erros do passado, temos que construir organizações com nossos prórprios recursos e não depositar nenhuma confiança em movimentos ou partidos reformistas por maior influência de massas que possua.

José Luis, funcionário público – Santo André-SP

(1)Personagem da mitologia grega que por ter escapado do Inferno teve como castigo pela fuga empurrar uma pedra ao alto da montanha, quando terminava o trabalho, a pedra despencava morro abaixo, sendo Sífiso obrigaod a recomeçar. A expressão indica esforço inútil e dispendioso.
(2)Cadernos de Formação 5 pagina 41 – Convergência Socilista – 1985.
(3)Artigo da CMI Brasil – Ato em Homenagem a Nahuel Moreno e sua política de entrismo no peronismo – 02.3.2007
(4)Entrismo sui generis -Wikipédia ´Relatório de fevereiro de 1952, em que Pablo insiste na evolução à esquerda do stalinismo, cuja política entrista nos PCs levou a dissolução de vários partidos trotkistas.
(5)Inspirado no Boletim do pstu.org.br – o trotskismo no Brasil, publicado em 17/06/2008.