Desde março de 2019 o Espaço Socialista e o Movimento de Organização Socialista se fundiram em uma só organização, a Emancipação Socialista. Não deixe de ler o nosso Manifesto!

Resistindo nas periferias e nas ruas contra o extermínio e por outra sociedade!


23 de março de 2014

latuff3

Cansadxs! Assim nos sentimos! Assassinatos, falta de emprego, dificuldade para permanecer estudando.

Os governos? Seguem reforçando o racismo e o preconceito!
As

organizações do Movimento Negro governista? Seguem silenciando diante das migalhas do PT!
As organizações de esquerda? Continuam paralisadas sem unificar a luta da população negra da classe trabalhadora!

Mas, não calarão a nossa voz!

E assim o sumiço do ajudante pedreiro Amarildo, após ser preso e torturado no Rio de Janeiro, comprovou o nível de preconceito, do governo do estado e da polícia da UPP que, além de tudo, buscaram reafirmar que quem mora na periferia e é negro tem associação com o crime e deve ser exterminado.

O faxineiro terceirizado, Ricardo Ferreira Gama, trabalhador da UNIFESP de Santos, que foi assassinado com oito tiros, por “encapuzados”, dois dias depois de ser preso e torturado por policiais também indica o quanto que a polícia é racista, pois não basta prender.
A auxiliar de limpeza, Cláudia da Silva Ferreira, baleada pela polícia, no Rio de Janeiro, foi arrastada por cerca de 300 metros, o que não indica apenas descuido, mas a crueldade do racismo e do machismo existente na sociedade.

Esses casos que permanecerão impunes, como tantos outros, demonstram o quanto é necessário que a população negra da classe trabalhadora tome em suas mãos a tarefa de transformar essa sociedade. O capitalismo não reserva nada diferente disso para a nós.
Uma faxineira, um faxineiro e um servente de pedreiro além de serem da classe trabalhadora tinham em comum o fato de estarem à margem da sociedade e na morte compartilham outro fato que não é qualquer um: foram vítimas do Estado brasileiro, racista desde a sua origem.
Cláudia, Ricardo, Amarildo – trabalhadores assassinados pela Polícia. Essa é a política sistemática do Estado brasileiro, exterminar o povo preto e pobre das periferias!

Essa ação de extermínio tem sido compartilhada pelos governos do PT/PMDB/PCdoB/DEM/PSDB e todos os demais partidos os apóiam e intensificada desde a abolição.

O Mapa da Violência 2012 não deixa margem para dúvidas, ser negro no Brasil é ter 132% de chances a mais de morrer de forma violenta do que ser branco. A maior parte das mortes é através dos órgãos de repressão do Estado.

Chama à atenção que a morte da população negra pobre não é apenas física, mas também se manifesta de forma psicológica. Ao ser excluído do mercado formal de trabalho, sendo relegada aos piores empregos sem garantias sociais e com baixíssimos salários, a população negra passa a ser excluída também do acesso ao consumo de bens, móveis e imóveis e serviços de toda natureza. Essa situação vai minando sua autoestima a ponto de não encontrar nem forças nem motivos para lutar por uma vida digna não se enxergando enquanto raça, nem como parte integrante de uma classe explorada. Dessa forma não luta por seus direitos.

O genocídio da população negra é de responsabilidade do Estado capitalista e de seu regime democrático burguês. Precisamos reagir, não nos calarão!

Violência de outras formas, lutaremos!

Também precisamos ter forças para lutar contra os programas de bolsas de toda natureza, que o governo do PT tem distribuído a fim de calar a voz da população negra da classe trabalhadora, já que a maior parte dos beneficiados são mulheres, chefes de família.

Lutar contra a falta de investimento em infraestrutura nas periferias, tais como Saúde, Educação, moradia, áreas de esporte e lazer, pois enquanto passamos necessidades com as bolsas miséria, o governo do PT/PSDB e seus aliados gastam bilhões de reais de dinheiro público para financiar a construção de estádios e os jogos da Copa.

É necessário também enfrentarmos o preconceito e o racismo no mercado de trabalho. Sabemos que negros são, via de regra, os últimos a serem contratados e os primeiros a serem demitidos. E mesmo assim o movimento sindical quase nada tem feito na luta por direitos para os trabalhadores e trabalhadoras negras, pois além de ganharmos menos não ocupamos proporcionalmente os postos de trabalho com todas as garantias e direitos.

Precisamos de vida digna! Todos esses direitos foram conquistados historicamente com muita luta pela classe trabalhadora, no entanto, a burguesia busca, cada vez mais, retirar investimentos dos serviços públicos e sacrifica a população negra e pobre para garantir seu padrão de riqueza com a exploração. Reação, é o que precisamos!

O Movimento Negro e Sindical governista não falam em nosso nome!

Como expressão das Jornadas de Junho foi rearticulado em São Paulo o Comitê contra o genocídio da juventude negra. Agregou diversas correntes, mas infelizmente os setores ligados ao governo buscaram tirar a possível radicalidade da luta. Ainda assim, alguns integrantes do Comitê foram perseguidos pela repressão policial, o que demonstra a nítida intolerância do Estado com os movimentos sociais. Mas, infelizmente também não contou com o respaldo da CSP-Conlutas, mesmo com a imensa quantidade de jovens negras e negros despertando para a luta.

É urgente uma campanha de denúncia contra a repressão e o Estado brasileiro por ser responsável pelo genocídio da população negra pobre e de todo o Movimento Negro e Sindical que silenciam diante desse extermínio!

A CUT e as demais centrais governistas não lutam pelas reais necessidades dos trabalhadores de conjunto e não fará, de forma alguma, com a parte negra da classe trabalhadora. Estão procurando conter as lutas para não afetarem os interesses do empresariado, por esse motivo não participaram das manifestações de Junho. É inaceitável que setores da CUT como a CUT Pode Mais negocie com a CSP-CONLUTAS sem romper com o governo.

É urgente também que a esquerda, principalmente os sindicatos ligados à CSP-CONLUTAS desenvolva uma campanha nacional pela empregabilidade da população negra da periferia, com a imediata aplicação de cotas proporcionais no setor público e no setor privado de trabalho. Os sindicatos devem levar esse debate para as periferias através de suas categorias, como professores de escolas públicas onde estudam os filhos da classe trabalhadora.

É necessário disputar a consciência dos trabalhadores contra as ações do governo do PT/PSDB e dos governos de extrema-direita. Essa ação deve ser todxs e não apenas dos negros e negras da CSP-CONLUTAS.

É necessário também uma campanha pela imediata aplicação das cotas proporcionais para negros e negras nas universidades públicas, especialmente em São Paulo em que governo do PSDB busca ainda aprovar o projeto do PIMESP para afunilar mais a forma de acesso. Sabemos que o PROUNI tem servido mais para desviar dinheiro público para as grandes universidades particulares do que para democratizar os espaços acadêmicos, além de buscar formar a mão de obra barata para sustentar a margem de lucro do capital.

Nesse sentido, precisamos discutir ainda se a CSP-CONLUTAS deve continuar recolhendo assinaturas de apoio a projetos que não buscam aplicar as cotas proporcionais, como em São Paulo, ou construímos abaixo-assinados que fomentem a discussão na base dos sindicatos, nas escolas de periferia e nas entidades ligadas a CSP-CONLUTAS sobre a real necessidade da população negra da classe trabalhadora.

Tanto o Movimento Negro quanto o Movimento Sindical em sua maioria estão atrelados ao governo e tentam engessar as lutas da classe trabalhadora. Isso também impediu que durante as Jornadas de Junho as bandeiras sobre as necessidades específicas da população negra ficassem sem serem levantadas, mesmo com o extermínio na periferia. Os movimentos e entidades de esquerda não podem se submeter a esse tipo de prática e deixar de unificar as nossas lutas! A esquerda precisa apostar e acreditar que a população negra da classe trabalhadora irá reagir para ser a vanguarda da luta na periferia!

Não calamos! Governo brasileiro continua explorando na África

O Estado brasileiro tem sido apoiador do genocídio de população negra também no Haiti, além de investir pesado para intensificar a exploração, juntamente com os demais países dos BRICS. Diferente do que prega o governo do PT não se trata de levar o progresso para África, mas de garantir a lucratividade da burguesia dividindo e reprimindo a classe trabalhadora africana.

Podemos exemplificar: Em Moçambique a Vale não respeita as diversas etnias locais e solicitou apoio ao governo, que estabeleceu toque de recolher e proibiu manifestações e greves. Processo parecido com o Brasil em que o governo do PT junto Câmara e senado tentam tornar crime de terrorismo os protestos contra os gastos bilionários com as obras da Copa.

Além disso, esse “investimento” dos BRICS é em 12 dos 54 países do continente, o que causa uma grande concorrência para as vagas de emprego, e possibilita a redução do valor médio de salário. A CSP-CONLUTAS precisa denunciar o papel que o governo brasileiro está cumprindo em relação à classe trabalhadora africana, a fim de favorecer o empresariado. A luta da classe trabalhadora tem que ser internacional!

Ganhar a população negra da classe trabalhadora para a luta, essa é a saída para barrarmos o genocídio, o desemprego, os baixos índices de acesso e permanência nas universidades públicas. Moradia, Saúde e Educação de qualidade! Essa luta também é nossa!

Nesse sentido o Primeiro Encontro Nacional de Negros e Negras da CSP-CONLUTAS resolve:

1- Construir uma campanha nacional contra o genocídio da população negra nas periferias promovendo seminários municipais, regionais e estaduais nas escolas de periferia, nos sindicatos e entidades ligadas à Central e denunciando o Estado brasileiro como o principal responsável pelo genocídio da população negra, bem como as centrais sindicais e sindicatos que comprometidos com o governo do PT, seus aliados e até com os governos de direita e Movimentos Negros que servem de sustentação a esse ou qualquer outro governo da burguesia;

2- Campanha nacional pela empregabilidade da população negra com foco na luta pela implantação de cotas proporcionais nos empregos públicos e privados;

3- Campanha nacional pela implantação imediata de cotas proporcionais para negros e negras nas universidades públicas e privadas, respeitando a proporcionalidade em todos os cursos. O mesmo deve ocorrer com os cursos técnicos promovidos pela União e pelos estados;

4- Denúncia do papel que o Estado brasileiro, governado pelo PT, tem cumprido na África explorando, dividindo e reprimindo a classe trabalhadora africana para atender o empresariado brasileiro.

Não temos nenhuma ilusão que o estado brasileiro venha atender as necessidades da classe trabalhadora no geral, nem da população negra da classe trabalhadora em específico, portanto, essas campanhas têm a importante função de dialogar e disputar a consciência da parcela negra da classe trabalhadora a fim de ganhá-la para a luta e para a transformação da sociedade. Destruir o capitalismo, que é responsável pelo racismo, em escala internacional, é urgente para a construção do socialismo que possibilitará uma vida justa.

Contra o extermínio da população negra! Por emprego, Saúde, Educação, Moradia e Transporte!

Sandra, presente! Amarildo, presente! Ricardo, presente! Classe trabalhadora, presente!

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