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Balanço do Encontro Nacional de Mulheres em Luta


29 de julho de 2010

O II Encontro do Movimento Mulheres em Luta, da Conlutas, aconteceu no dia 03 de junho de 2010, em Santos – SP, com presença de cerca de 900 mulheres. O encontro abriu a maratona de congressos cuja seqüência foi o Congresso da Conlutas, no dia 04/06 e o CONCLAT, nos dias 05 e 06/06.

Em chamado para o Encontro de Mulheres em abril deste ano a Conlutas já dava o indicativo de que “Nossa atividade se dá no marco do processo de reorganização do movimento da classe trabalhadora no país. O Encontro, portanto, também está a serviço da construção de uma nova ferramenta para as trabalhadoras, trabalhadores e a juventude, através da unificação entre Conlutas e Intersindical.''

Não só não ignoramos como reforçamos a importância da discussão de gênero ter sido situada no Encontro, acertadamente, dentro deste processo maior de tentativa de unificação de setores combativos da classe, visando reorganizá-la com o objetivo de enfrentar os ataques da burguesia e construir a consciência de classe dos trabalhadores e trabalhadoras rumo à construção de uma sociedade socialista, com todas as dificuldades postas após décadas de refluxo do movimento socialista. Não ignoramos estes fatos e reforçamos que a unificação dos setores combativos da classe, dos movimentos sociais e de setores oprimidos na nova central que se almejava formar seria atualmente a forma mais massiva e concretamente possível de se galgar estes objetivos, portanto era e ainda é questão de suma importância para os setores organizados e para a classe como um todo.

De fato, este aspecto do caráter da central foi defendido à exaustão pela coordenação do encontro e não haveria nada de errado nisso, não fosse a transformação de prioridade em exclusividade que se sobrepôs a toda a discussão que nos possibilitaria desdobrar uma reunião de quase um milhar de mulheres combativas juntas.

A desorganização do evento foi tamanha que não houve compromisso de horário, desrespeitando quem chegou lá às nove horas, um problema sério, pois desgasta o militante ou aquele que pretende militar, agravado pelo fato de que reuníamos lutadores de todo o país, para quem o tempo era ainda mais precioso, devido à perda de tempo já imposta pelas distâncias.

A despeito da legitimidade das bandeiras defendidas, tais como a garantia de licença maternidade de 6 meses para todas as trabalhadoras, sem isenção fiscal para os capitalistas que exploram nossa mão-de-obra, da luta por creches, pela legalização do aborto (bandeira que poderia tratar da grave questão da gravidez na adolescência), além da luta histórica contra o machismo e a violência doméstica, problemas que precisam obviamente da mobilização de todas e todos, não podemos nos omitir de alertar para os problemas ocorridos no encontro e que, representam perigo de entrave na luta, pois nos furtam das discussões e não contribuem para a formação e organização das mulheres entorno de suas lutas.

É triste ter que gastar o tempo com críticas, mas é preciso apontar o excessivo tempo dedicado às desgastantes apresentações de delegações nacionais e internacionais, além da divulgação e aclamação de candidaturas do partido majoritário no encontro, o PSTU, inclusive com o descuido da mesa (imposta e não votada), favorecendo a vice-candidata àpresidência que falou bem mais que o tempo estipulado, tudo isso em detrimento do reduzido tempo reservado aos grupos de discussão.

O debate, que deveria ser prioridade, ficou inviabilizado pelo pouco tempo (apenas 1 hora) e também devido à falta de estrutura, já que os grupos foram montados em pleno teatro, todos no mesmo espaço, nas arquibancadas e se uma mulher falasse um pouco mais alto fatalmente seria repreendida pelos grupos vizinhos, por atrapalhar as falas. Ficamos pouco mais de duas horas em horário de almoço, estreitando o tempo, que já era pequeno, de discussão. As propostas estavam pré-estabelecidas pela corrente majoritária no Encontro, não sendo discutidas por conta de um teto que existia para o término do congresso. As mulheres não tiveram direito a voz e voto por conta do horário também, então quem encaminhava a reunião acabou por escolher quem iria falar. Em suma, não se planejou a estrutura que garantiria a parte mais importante do Encontro, a discussão política, e prevaleceram métodos antidemocráticos aos quais os lutadores não devem se acostumar.

A falta de tempo para debates é muito grave, pois pode levar à reprodução da superficialidade sobre bandeiras defendidas no movimento, à despolitização da base presente pelo desperdicio da excelente oportunidade para avançar na consciência sobre a luta contra a dura realidade que a lógica capitalista impõe às trabalhadoras. A tradição da falta de debate expressa no Encontro se evidencia também pelo fato da organização do evento ter permitido que o serviço de limpeza do espaço fosse feito por trabalhadoras tercerizadas, em vez de ter organizado um mutirão.

Deve-se lamentar o fato de em vez de termos presenciado um Encontro que discutiria gênero situado na luta de classes com uma perspectiva socialista, termos visto se configurar pura e simplesmente um encontro das mulheres que estariam no CONCLAT.

Para além das lamentações, chamamos as lutadoras e lutadores a combater este modelo de Encontro e lutar para termos de fato Encontros que discutam gênero, construídos pela base, pautando os principais debates que competem à classe e também os debates específicos da mulher trabalhadora. Chamamos os lutadores e lutadoras a repensar o formato destas discussões e a estar consciente para combater a burocratização das direções do movimento e construir de fato um movimento de mulheres emancipadas, rumo a uma sociedade socialista!