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Dia 30 de março: unidade com CUT e centrais sindicais pelegas e governistas retira caráter anti-governista dos atos


16 de abril de 2009

O dia 30 de março, organizado pelas centrais sindicais governistas em conjunto com a Conlutas e a Intersindical, colocou uma série de questões para a atuação política das forças de esquerda frente a crise.

A primeira delas e talvez a mais fundamental diz respeito a saber quem são nossos aliados nas lutas e inclusive saber qual o papel que cumpre cada uma das centrais sindicais do país. O próprio processo de surgimento da CONLUTAS está ligado a uma compreensão de que a CUT e as demais centrais estão perdidas para a luta de classes. Sua lógica de inserção no aparelho do Estado é tão profunda que objetivamente não deixa saídas para que se possa mudar essa situação. Ou seja, a CUT está em um situação tal que não se pode mais ter qualquer ilusão de que ela possa ser recuperada para a luta. Daí a necessidade da construção da CONLUTAS. Essa caracterização é inclusive confirmada na atualidade pelos sucessivos acordos que a CUT  tem feito no sentido de retirar direitos dos trabalhadores. A CUT não só não mudou desde a criação da CONLUTAS, como piorou.

A segunda questão é que a mudança da data do dia 01/04 (antes considerada sagrada a ponto de justificar a ausência do PSTU no Encontro de base do ABC) para o dia 30/03 se deu por meio de um processo extremamente problemático. A consulta envolveu apenas as direções das entidades, sem que se tivesse tempo de fazer qualquer discussão com o conjunto dos trabalhadores. Várias categorias já estavam se preparando para o dia 01/04, inclusive com material impresso e assembléias marcadas. A conseqüência da mudança foi de que, na prática, significou uma desmobilização para algumas categorias e terminou por desorientar um setor importante.

A terceira diz respeito à unidade. Temos sido parte dos maiores defensores da unidade dos trabalhadores em geral e da esquerda em particular, considerando que a unidade é uma das condições para a vitória da classe trabalhadora. A unidade existe para a luta, para impulsionar os processos objetivos da classe trabalhadora, para que esta se sinta mais fortalecida e possa dar passos no sentido da ruptura com o governo e com as centrais sindicais pelegas. Defendemos a unidade com os setores que têm uma política de oposição ao governo e  a patronal, que se propõem a enfrentar a crise sob uma perspectiva dos trabalhadores. Como é uma unidade para construir um processo de luta é evidente que o critério é que estejam aqueles que estão a favor da luta. Não cabe quem defende o governo ou acordos que favoreçam a patronal.

Em relação à burocracia esse tipo de unidade é impossível, porque são governistas e defendem acordos anti-operários com a patronal. Isso significa que nunca haverá unidade com a burocracia cutista, por exemplo? A possibilidade de unidade com setores da burocracia sindical – cutista ou da força – existe, mas só pode ocorrer nas lutas, ou seja, quando a burocracia estiver impulsionando ou participando de um processo de luta. Nesse caso seria uma unidade para a luta, para ajudar os trabalhadores na conquista de suas reivindicações. O elemento central aqui são as mobilizações da classe, a  necessidade da vitória das lutas dos trabalhadores. Trata-se de um momento muito específico da luta de classes.

Se essas centrais estivessem impulsionando um processo de luta ou inseridas nele, a discussão teria que ser encarada de outra maneira. Mas pelo contrário, não é isso que está acontecendo. Não é novidade para ninguém que CUT e Força estão completamente atreladas ao aparato estatal, que são base de sustentação do governo e que a política que essas centrais defendem está no marco da defesa do capitalismo. Unidade de ação se faz  na luta ou para construir um processo de lutas. Os objetivos para uma unidade de ação são muito bem definidos. E nesse momento não há por parte das centrais governistas qualquer intenção de impulsionar mobilizações contra a patronal e o governo.

Na prática, não é possível construir a unidade porque essas centrais estão do outro lado da trincheira, estão nas mesas de negociações com o governo e com a patronal para trair os trabalhadores, como foi o caso das negociações para manter a redução do IPI (mais dinheiro do Estado para as montadoras), que diga-se de passagem, ocorreram no mesmo dia 30/03.

Um traço característico do momento histórico é que a CUT e as centrais pelegas extrapolaram o campo de classe. Não são apenas centrais pelegas, mas estão dentro do aparato estatal, estão nos escritórios das grandes empresas, são gestoras do capital. Pontos fundamentais para as definirmos como centrais que, mesmo tendo um peso importante no movimento operário, são contra os interesses históricos dos trabalhadores. E hoje no Brasil, queiramos ou não, o fato é que essas centrais não estão impulsionando nenhum processo de luta, muito pelo contrário, tem negociado direitos históricos dos trabalhadores. Não são poucos os exemplos. Acreditar que essas centrais fossem participar ativamente das mobilizações foi o grande equívoco da direção majoritária da CONLUTAS

Do ponto de vista político, a incorporação dos setores da burocracia sindical fez com que os atos perdessem o seu caráter de oposição ao governo, ficando restritos a uma reivindicação abstrata de que os trabalhadores não podem pagar pela crise. Um palavratório que cabe em qualquer boca, até mesmo na de Lula que, demagogicamente, já disse que os trabalhadores dos países pobres não podem pagar pela crise porque ela foi provocada pelos países ricos. Por outro lado também não é novidade para ninguém que os trabalhadores já estão pagando pela crise com as milhares de demissões, com a redução de direitos e até de salários.

Também chama a atenção o giro que o PSTU teve que fazer para se adaptar à realização dos atos em conjunto com CUT  e Força. Para viabilizar essa unidade, o PSTU teve que abrir mão de uma postura mais crítica em relação ao governo e às centrais, passando de uma política correta de denúncia tanto do governo quanto da direção dessas centrais como co-responsáveis pela retirada de direitos, para a vala comum das exigências do tipo de que o governo LULA deve editar uma medida provisória para a garantia de emprego. Ou mesmo a exigência de que a CUT deve ajudar a construir ações de mobilização contra o desemprego. Os companheiros têm o direito de defenderem a política que quiserem e até de se iludirem com essa possibilidade, mas daí a jogar esse tipo de ilusão para os trabalhadores é outra questão. A responsabilidade que o PSTU tem na CONLUTAS deve ser proporcional ao seu peso como direção da nossa central. Nos momentos em que se discute saídas estratégicas para o mundo a responsabilidade dos revolucionários é redobrada, porque devem apresentar saídas estruturais para a sociedade, ou seja, o socialismo e a revolução.

É fundamental dizer a verdade aos trabalhadores e nesse momento isso significa alertar o proletariado para o fato de que nem o governo vai defender os nossos empregos e nem muito menos a CUT vai contribuir com a luta contra um governo que eles tanto defendem. Se os trabalhadores têm essa ilusão, o nosso dever é alertá-los e ajudá-los a superar essa consciência atrasada. Não é uma ilusão progressiva, pelo contrário, é uma ilusão que vai levá-los ao desemprego e a redução de seus direitos. Temos que alertá-los tanto em relação ao governo Lula quanto ao papel da CUT e das outras centrais pelegas.

A forma como se realizaram os atos do dia 30/03, além de fazer com que se perdesse o foco anti-governista, também permitiu a essas centrais pelegas, mesmo sem mover um só dedo para construir a mobilização, iludir os trabalhadores como se estivessem fazendo alguma coisa. Todos sabemos que as palavras não decidem nada na luta de classes, que só servem para jogar ilusão e enganar os trabalhadores. Esse é o caso do argumento dos companheiros de que o dia 30/03 em conjunto permitia disputar a base dessas centrais. Nada mais falso! Primeiro porque, como já dissemos, elas não mobilizaram os trabalhadores, nem sequer nos setores em que tem mais peso como direção. E segundo, porque essa disputa não ocorre em um só dia, mas é no cotidiano e com uma política de oposição. É o trabalho de base, mostrando aos trabalhadores quem são essas centrais e esses dirigentes, que vai permitir que ganhemos os trabalhadores para o nosso lado.

Não é possível enfrentar a crise com lutas que tem dia marcado para terminar. Uma prática recorrente de um setor do movimento tem sido a construção de dias de lutas, que são importantes, mas, sem serem parte de um calendário permanente de mobilização, não prepara as lutas em seu conjunto e podem indicar para os trabalhadores que a luta terminou. É o que ocorreu com o calendário votado em Belém: depois do dia 30/03 o movimento não tem mais nenhuma atividade marcada. O pior é que a direção majoritária da CONLUTAS, em vez de continuar a impulsionar mobilizações, atos, encontros de base, retoma a exigência (ilusória) de que a CUT tem que continuar com esse processo de mobilização. Após a realização das manifestações do dia 30, não há mais nada que sirva para orientar a vanguarda e os trabalhadores.

Para nós a organização de um encontro nacional de trabalhadores e trabalhadoras é fundamental para construirmos um plano mais amplo de mobilização que envolvesse organização por local de trabalho, organização por categoria, enfim um processo que fosse fortalecendo a construção de uma mobilização nacional dos trabalhadores contra o governo e a crise.