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Jornal 97: Os levantes de mulheres pelo mundo


8 de março de 2017

Num momento em que mundialmente se assiste a ofensiva contra os direitos da classe trabalhadora e piora das condições de vida surgem, como resposta, diversas manifestações dos movimentos de mulheres se contrapondo aos ataques.
Isso porque os efeitos da crise mundial atingem especialmente as mulheres na medida em que serão o maior número de desempregadas ou em trabalhos precarizados e que sofrerão mais com as medidas de austeridade, cortes nos programas assistenciais, reformas e, consequente, como aumento da violência de gênero.

No início de outubro de 2016, o parlamento polonês admitiu o trâmite de um projeto de lei de iniciativa popular que visava a proibição total do aborto incluindo penas de prisão para mulheres que interrompesse a gravidez voluntariamente. A Polônia já possui leis restritas sobre o tema se comparada com outros países da Europa, apenas admitindo a interrupção da gravidez em casos de estupro, incesto, risco de vida para a mãe e má-formação grave do feto. A convocação pela greve geral contra a possível mudança na lei levou milhares de mulheres às ruas e fez o governo recuar.

Vimos em 2016 as mulheres se levantarem contra a onda de feminicídios, organizando greves contra os assassinatos. A maior expressão foi na Argentina: em 19 de outubro o movimento Ni Uma A Menos paralisou o país em protesto ao violento assassinato de Lucia Perez, de 16 anos. “Nos queremos vivas”, gritava o movimento.

No Brasil, não foi diferente. Em junho de 2016 o estupro coletivo de uma jovem no Rio de Janeiro levou a manifestações em vários estados, movimentando milhares de mulheres. A revolta que se expressou nesses atos fez com que até mesmo a forma como o Estado conduzia o caso fosse revista, afastando-se o delegado que inicialmente atendeu a ocorrência e o modo de enquadramento que passou da delegacia de crimes virtuais (em razão da exposição do estupro em redes sociais) para a Delegacia da Mulher.

A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, que fez em sua campanha diversas declarações misóginas, provocou, já em 2017, uma reação de imensas proporções no país. Em 24 horas após sua posse, mais de meio milhão de manifestantes, segundo os organizadores, participaram da Marcha de Mulheres contra Trump. Os ataques que o governo arma dizem respeito ao direito reprodutivo das mulheres, pondo em risco o aborto seguro, à reforma ao sistema de saúde, a questão da cidadania dos imigrantes e a violência contra a população negra.

Temos ainda o exemplo das mulheres curdas, cujo protagonismo foi motivo de admiração pelo mundo. Elas enfrentam o Estado Islâmico e a atuação questiona o modelo patriarcal de criação das mulheres.

Em março de 2017, as movimentações pelo Dia Internacional de Luta da Mulher mundo afora indicam a repolitização da data, transformada em festa comercial pelo capitalismo. Pela primeira vez em muitos anos preparam-se iniciativas internacionais de protesto para este dia. O movimento Ni Uma A Menos convoca uma greve de mulheres que já tem adesão de movimentos de mulheres em mais de 30 países. A proposta é que as mulheres não façam qualquer tipo de trabalho no dia, nem mesmo o doméstico, e as convida a gritar contra os ataques organizadas em atos de rua.

Principais ataques para o próximo período no Brasil

A Reforma da Previdência já tem cronograma no Senado e atingirá brutalmente as mulheres. O projeto inclui o aumento do tempo para aposentadoria igualando homens e mulheres em 65 anos – hoje a idade mínima para as mulheres é 60 anos. Igualar as idades entre o homens e mulheres dificultará ainda mais que as mulheres se aposentem. Para começar, as mulheres trabalham pelo menos 3 horas a mais do que os homens em casa, fazendo trabalho doméstico não pago. Além disso, são pior remuneradas, em empregos mais precários – inclusive no que se refere à carteira assinada.
As professoras serão duramente atingidas. As mulheres são a maioria nessa e perderão o direito à aposentadoria especial. Mesmo o desgaste próprio da profissão que garantia aposentadoria mais cedo e com a piora ante a condição do ensino no país, terão que trabalhar 15 anos a mais – perderão o direito de se aposentar aos 55 anos – para conseguir se aposentar.

A reforma em benefícios como a pensão por morte também será um duro golpe contra as mulheres. A reforma permitirá que o benefício seja menor que o salário mínimo. Hoje a pensionista recebe 100% do valor do benefício. Pela reforma, a viúva receberá 50% do benefício e um adicional de 10% por dependente. Para receber os atuais 100% terá que ter 5 dependentes.

Precisamos resistir!

Sabemos que os cortes do governo são para submeter ainda mais a classe trabalhadora, já aquentando todo o peso da crise, para prioriza o pagamento da dívida pública, mesmo que isso signifique o sofrimento e empobrecimento. Não podemos permitir! As mulheres têm dado o exemplo usando o principal método de luta da classe – a greve – para garantir direitos. Pela greve geral! Pelo fim das várias formas de violência contra a mulher! Contra o machismo!
Tenhamos como referência as lutas das mulheres que fortaleceram a eclosão da Revolução Russa há 100 anos, ainda hoje exemplo para transformação necessária, urgente e pelo fim da sociedade capitalista machista, racista e homofóbica!