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Jornal 87: Estados Unidos: a eleição na “maior democracia do mundo” não tem nada de democrática


13 de março de 2016

Está aberto o processo eleitoral estadunidense para escolher o chefe dos capitalistas no mundo.

 

6Começam com as chamadas “primárias”, onde os partidos Democrata e Republicano escolhem o seu candidato que irá disputar a presidência no colégio eleitoral (sim, as eleições estadunidense são indiretas.).

 

As principais figuras são, pelo Partido Republicano, Donald Trump e, pelos democratas, Hillary Clinton e Bernie Senders.

 

Donald Trump: o imperialismo vai apostar no fascismo?

 

Como principal liderança burguesa global, o que ocorre nos Estados Unidos serve de inspiração para os demais governos do mundo, assim como àqueles que estão sob influência direta estadunidense. Nos anos 50, 60 e 70 a orientação política que vinha de Washington era de que, diante de qualquer mobilização do movimento social, seriam organizados golpes militares para impedir qualquer avanço de setores independentes.

 

Brasil em 64, Chile e Uruguai em 73, Argentina em 76 e tantos outros pela África, Ásia, Oriente Médio: são alguns dos exemplos de regimes políticos reacionários que se instalaram para reprimir e massacrar as mobilizações operárias e populares.

 

O processo de mobilização pelo mundo afora com a derrubada de diversas ditaduras (que criava instabilidade política e a radicalização contra os Estados Unidos) e o fim da Guerra fria (disputas entre países que faziam parte dos blocos soviético e estadunidense) levou a que o imperialismo mudasse a política, apostando em regimes democráticos burgueses e que se mostraram mais eficientes na exploração dos trabalhadores pelo mundo afora. Os golpes militares são exceção.

 

O apoio de setores significativos da burguesia imperialista a Donald Trump seria um indicativo de que essa política de apostar em regimes democráticos estaria chegando ao fim. Ainda que não podemos descartar completamente, não há evidência de mudança significativa nesta política.

 

Donald Trump tem dado declarações de que perseguirá os imigrantes (sobretudo os mexicanos e mulçumanos), várias declarações machistas e entre outras tantas atrocidades, como a liberdade para a utilização de torturas para arrancar confissões de suspeitos. Sua ira vai até mesmo contra a Apple chamando o boicote a essa empresa por – até esse momento – ela ter se negado a fornecer os códigos de proteção do seu Iphone aos serviços de segurança dos Estados Unidos.

 

Adotar uma política com esse viés, e com problemas graves na economia capitalista mundial, seria apostar na instabilidade política mundial o que poderia crescer a oposição aos Estados Unidos mundo afora, aumentando a resistência aos negócios do capital na economia global.

 

O imperialismo sabe que, neste momento, os democratas cumprem melhor o papel de dominação, aparecendo como os “amigos e protetores do mundo”. Donald Trump: não se encaixa neste perfil. E não é só a burguesia estadunidense que tem essa impressão. Até mesmo o Papa Francisco (com a declaração de que Trump não é cristão) indica que ele não é alterativa para o imperialismo.

 

Frisamos: neste momento, Trump representa um setor minoritário da burguesia estadunidense. Por traz do seu discurso há, fundamentalmente, a defesa de uma política para o capital recuperar a taxa de lucro principalmente pela expansão da indústria militar. Com a desculpa de enfrentar o Estado Islâmico, abriria-se um momento de invasões e participações mais diretas em conflitos militares, dado que a mercadoria produzida por esse setor precisa de guerras para ser consumida.

 

Os democratas

 

Outro que chama a atenção nas primárias do Partido Democrata é Bernie Sanders, vendido como candidato de esquerda (que disputa com Hillary Clinton, ex-Chanceler das Relações exteriores).

 

Até esse momento, surpreendeu: empatou em Iowa, teve vitória em New Hampshire e perdeu, por uma diferença mínima, em Carolina do Sul.

 

Com um discurso contra os ricos, os banqueiros e os políticos tradicionais, também tem propostas de saúde e ensino públicos e gratuitos. Inclusive se declara como “Socialista democrático”. A novidade está no fato de essa candidatura ser abraçada por um amplo setor de jovens, sobretudo nas universidades.

 

Muito longe de ser socialista, não deixa de ser interessante que um candidato com esse discurso chame a atenção de setores já desiludidos com a política tanto dos democratas e republicanos.

 

As ideias não têm força sem haver um processo na realidade, algo que as alimente. O discurso de Bernie Sanders tem ganhado projeção por conta dos problemas sociais e econômicos que os trabalhadores dos Estados Unidos têm enfrentado

 

Todos os indicativos sociais apontam para a piora das condições de vida dos trabalhadores. Cursos universitários, por exemplo, não sai por menos de 29 mil dólares por ano (pouco mais de 120 mil reais). A maioria dos pobres não tem acesso à saúde (mesmo com a reforma de Obama), os empregos são cada vez mais precarizados e a população de rua cada vez aumenta mais (só em Nova Iorque são 60 mil moradores de rua).

 

Pelo funcionamento do sistema eleitoral estadunidense, é mais provável que Hillary seja a indicada para a disputa pelo Partido Democrata. A posição dos chefes do partido e do grande capital tem muito peso no processo eleitoral dos Estados Unidos.

 

Mas, não podemos desprezar o fato de que, depois de muitos anos – ainda que de maneira distorcida – vejamos manifestações amplas de descontentamento no interior do principal país imperialista. Na verdade, é continuidade de um processo que já tinha se manifestado com a importante greve dos trabalhadores do setor de fast food (McDonald e outros).

 

Já alertamos que não vemos em Sanders nenhuma alternativa. É parte do poder político que explora e oprime os trabalhadores dos Estados Unidos e do mundo. Mesmo com esse discurso, quando exerceu cargos executivos, como prefeito de Burlington aplicou fielmente os mesmos projetos políticos e econômicos.

 

Os democratas não são alternativa

 

Se nos baseamos só pela imprensa burguesa, parece que com os democratas as coisas são diferentes. E não é. O Partido Democrata é parte do sistema de dominação vigente nos Estados Unidos.

 

As diferenças de Bernie Sanders com Hillary não são de essência. A crítica que faz aos grandes bancos é nos marcos da permanência do capitalismo, uma tentativa de “domesticação” dos banqueiros e investir mais no setor produtivo. Ou seja, a questão é quem vai explorar os trabalhadores.

 

Lembremos que foi também sob o governo dos democratas que os Estados Unidos invadiram países, organizaram golpes militares, impuseram modelos de sub-colônia (países que, mesmo dominados pelos países imperialistas, tem uma burguesia “local”), enfim: orquestraram ataques brutais sobre os trabalhadores do mundo inteiro.

 

Não cabe a nós trabalhadores escolher o seu carrasco. Por isso, é importante gritar bem alto: o partido democrata (seja com Hillary como Sanders) é um partido capitalista e não serve aos trabalhadores!

 

As recentes lutas podem ajudar na construção da alternativa socialista

 

A luta dos trabalhadores dos países imperialistas, além da força política, carrega simbolismos importantes para os trabalhadores do mundo, pois faz cair por terra a ideia de que a classe trabalhadora desses países vivem em condições sociais adequadas. Na prática, enfraquecem o imperialismo. que precisa se preocupar com as “questões internas”.

 

Por isso saudamos cada uma dessas lutas nesses países. A insatisfação tem levado às lutas e essas podem levar ao desenvolvimento de uma consciência anticapitalista na classe trabalhadora do coração do capitalismo. Conclusão importante porque muitos – inclusive da esquerda – acham que a consciência anticapitalista pode vir da participação no processo eleitoral.

 

Eleições dos Estados Unidos: um processo antidemocrático

 

A escolha do candidato dos partidos democrata e republicano para a disputa presidencial é feita ou pelas primárias estaduais (eleição por voto direto) ou pelos caucuses (assembleia da população de uma região que elege representantes para votar em um dos pré-candidatos naquele estado). São realizados em todos os estados.

 

Este processo serve para eleger (em regra é proporcional) delegados para a convenção nacional que escolherá o candidato do partido. Por exemplo, se em um dos estados, que elege 10 delegados para a convenção nacional, Hillary tem 60% dos votos e Bernie 40%, isso significa que Hillary terá 6 votos e Bernie 4 votos desse delegados na convenção nacional.

 

Escolhidos os candidatos de cada um dos partidos, há a eleição nos estados que serve também para indicar os delegados que comporão o colégio eleitoral (formado por 538 pessoas) e é este quem vai eleger o presidente dos Estados Unidos.

 

No entanto, ter mais votos nos estados não quer dizer ser o Presidente, pois pela composição do colégio eleitoral, estados com mais eleitores podem ter representação menor no colégio eleitoral, a exemplo das eleições de 2000, de George Bush vs. Al Gore. Quando Al Gore teve mais votos que Bush, mas Bush teve mais delegados no colégio eleitoral, ganhando a eleição.

 

Como se vê, a “maior democracia do mundo” elege o presidente de forma indireta, em um colégio eleitoral, mais fácil de controlar todo o processo e evitar surpresas.

 

É assim mesmo a democracia no capitalismo: para servir aos interesses dos capitalistas.