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Jornal 75 – A JUVENTUDE E OS DESAFIOS PARA A LUTA SOCIALISTA


12 de fevereiro de 2015

As jornadas de junho de 2013 mostraram que a juventude brasileira não está parada, ao contrário, protagonizou essas lutas e estão, cada vez mais, participando e construindo as atuais mobilizações pelo país.
Os desafios são muitos e essa parcela população sofre diretamente as consequências da crise estrutural do capital. Segundo o PNAD de 2012, 25% de jovens entre 15 e 17 anos já trabalham, sendo que a maioria não está mais estudando. Além disso, ocupam empregos mais precarizados. Conforme o IPEA, a informalidade atinge 75% da juventude trabalhadora entre os 15 e 17 anos, aproximadamente 40% para 18 e 24 anos de idade e 35% na faixa de 25 a 29 anos.
Quanto aos estudos, somente 58% da juventude brasileira completa o Ensino Médio. E quando se trata de jovens mais pobres a situação é ainda pior, pois só 30% chegam ao fim dessa etapa, enquanto que entre os mais ricos os/as concluintes chegam a 85%, índices apontados pelo burguês Instituto “Todos pela educação”, amparado em dados do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Já em relação à entrada no Ensino Superior, os dados do MEC mostram uma suposta melhora, porém em um olhar mais atento podemos analisar a verdadeira crise que é posta para a estudantada.
Em comparação com 2003, em 2013 a quantidade de pessoas matriculadas no Ensino Superior aumentou 85,5%. Um crescimento de 94% nas universidades particulares e 64% na rede pública. Atribui-se essa elevação principalmente aos programas do Governo Federal sob gestão do PT, como o PROUNI, FIES (que também de incentivam o empresariado), REUNI e SISU. No entanto, são insuficientes e de curto fôlego, já que mal se desenha a crise no país e a esses programas já são anunciados cortes com o pacote de ataques que estão sendo implementados agora em 2015 pelo mesmo governo PT.
Porém, um outro dado mostra que das pessoas que ingressaram na universidade apenas 36% concluíram o curso. Isso demonstra que se a entrada na universidade foi facilitada, mas a sua permanência continua sendo um imenso desafio frente à precarização da vida da juventude que precisa se manter com transporte, alimentação, material escolar, etc.
Além disso, a permanência é dificultada pela própria necessidade de lidar com sucateamento do próprio ensino que conta cada vez mais com monopolização de grupos empresariais nas universidades particulares que buscam impor a lógica mercadológica ao ensino e que tira autonomia do/a professor/a e secundariza a construção do conhecimento.
No ensino público a situação não é melhor. Ano passado a mais conhecida universidade do país, a USP, realizou a mais extensa greve que teve como um dos principais pontos da pauta a falta de reajuste salarial dos/as trabalhadores/as. O que foi justificado pela reitoria como falta de verbas.
Nas universidades federais a situação também não é a das melhores. Mesmo com a expansão do REUNI e o aumento número de cotas, que deverá chegar a 50% das vagas oferecidas, o financiamento não tem crescido na mesma proporção. Segundo o FONAPRACE, a verba destinada para a assistência estudantil em 2013 foi de R$509 milhões, porém a instituição avaliou que para atender a demanda já existente, seria necessária uma verba de R$1,5 bilhões, ou seja, três vezes mais do que o disponibilizado pelo Governo Federal.
Além dessas dificuldades de trabalho e estudo, ainda temos uma parcela de jovens no grupo dos nem-nem (nem estudam e nem trabalham) que segundo o estudo “Síntese de Indicadores Sociais (SIS)” de 2013, no ano de 2012, cerca de 20% de jovens brasileiros entre 15 e 29 anos eram desse grupo, sendo que as mulheres representavam 70,3%, o que mostra que a falta de acesso e de perspectiva para a melhoria de vida da juventude ainda são alarmantes, ainda mais se tratando das mulheres que ainda são submetidas aos padrões patriarcais dessa sociedade.

A EDUCAÇÃO DELES E A NOSSA. QUAL EDUCAÇÃO QUEREMOS?

Nos poucos e restritos espaços que sobram para a juventude trabalhadora estudar, o que vemos é uma Educação de um tipo bem específico. A partir da década de 70, com o aprofundamento da crise estrutural do capital e com da tendência de queda da taxa de lucro das empresas, a Educação tem tomado o caráter de mercadoria. Assim, os governos têm tentado socorrer os lucros dos patrões, por um lado sucateando o ensino público e por outro desviando verba para o ensino privado, por meio das chamadas “parcerias” e por meio de programas sociais como o ProUni e o FIES. Com a privatização da Educação, se junta o útil ao agradável para os patrões, pois além de colocar toda a estrutura do ensino a serviço do lucro, coloca-se também seu conteúdo.
A escola também tem passado cada vez mais os valores da ideologia burguesa, incitado a competição ao invés de camaradagem, o individualismo ao invés de coletividade, a meritocracia ao invés da igualdade e uma disciplina à ferro e fogo, que não leva ao comprometimento e sim ao não reconhecimento e à submissão. Não é a toa que os alunos não respeitam a escola nem os materiais escolares que são distribuídos pelo governo. É preciso entender o que está por trás desse comportamento.
Esse tipo de ensino tem atingido a fundo nossos jovens e criado gerações descompromissadas com essa Educação. Não é a toa que gigantescos conglomerados industriais têm o ramo da Educação como uma prioridade e fonte de movimentação de somas milionárias. Como diz Zilas Nogueira, militante do Espaço Socialista e Professor da UFAL:
“Nos últimos anos, acompanhamos grandes transações comerciais envolvendo o setor educacional. Em 2010 a Abril Educação comprou o grupo Anglo. Um mês depois a Br Investimentos compra parte da Abril Educação por R$ 226,2 milhões. A empresa inglesa Person, especializada em “serviços educacionais” e editoriais comprou os sistemas de ensino COC, Pueri Domus e Dom Bosco por R$ 888 milhões. Em 2013 a Kroton, maior grupo educacional brasileiro inicia o processo de compra da Anhanguera Educacional em uma transação de 5 bilhões de reais. A 17ª empresa da Bovespa em valor de mercado, que está estimado hoje em 24,4 bilhões, a Kroto, este ano efetuará a matrícula de mais de um milhão de estudantes, grande parte com dinheiro público via ProUni.”
O mesmo acionista de um banco, é acionista de um “grupo educacional”. O conteúdo que serve aos interesses da classe proprietária é também institucionalizado via governos. O PNE mostra isso claramente, quando vemos que foi elaborado por esse movimento chamado “Todos Pela Educação”, organizado nada menos por uma instituição chamada Itaú-Unibanco e tendo como principais membros a Gerdau, Bradesco, Fundação Roberto Marinho, Santander, Bunge, etc. Quando as diretrizes nacionais da educação são ditadas pelas empresas, a educação está a seu serviço.
“Eu vejo na tv o que eles falam sobre o jovem, não é sério”
Frente a esses diversos desafios que são impostos à juventude, precisamos superar o velho discurso de que “os jovens são revoltados por causa da idade” e de que “quando crescer isso passa”. Precisamos entender essa realidade que mantém o/a jovem sob pressão social e o coloca na sociedade numa difícil perspectiva, visto que cada vez mais temos os direitos trabalhistas retirados e sem expectativa de uso da Previdência Social.
Como se não bastasse, ainda temos o julgamento dos adultos sobre a juventude, sempre colocada no patamar da vagabundagem, de que não quer “nada com nada”, de que são vândalos e baderneiros, de que não sabem o que quer, enfim criminalizam a juventude dificultando ainda mais a união.
Por isso, precisamos levar em consideração o momento particular de desenvolvimento da juventude e suas formas de compreensão do mundo, que não estão dentro da lógica adultocêntrica. Possuem jeito de construir e organizar próprios.
É um grande desafio e que tem implicação nas lutas contra a exploração, pois numa conjuntura que a deslegitima, a própria juventude também vai apresentando dificuldades em se comprometer com o mundo e as tarefas da militância. Vai constituindo sua subjetividade cada vez mais descompromissada com a própria vida, já que não consegue ter seu pleno desenvolvimento social e autonomia garantidas nessa sociedade. Dessa maneira, é engolida pelo sistema capitalista em crise. Por outro lado, a juventude é a parcela da classe trabalhadora que está no momento do despertar para as contradições de viver em um mundo às avessas. E é por isso que se revolta. A juventude ainda não se adaptou nem se conformou em viver em uma sociedade controlada pela burguesia e está em tempo de não se adaptar. Chamamos a juventude trabalhadora a se comprometer com a luta pela sociedade que queremos, uma sociedade capaz de abarcar todas as necessidades humanas, uma sociedade sem classes.

DA UNIDADE VAI NASCER A NOVIDADE…

Há tantos desafios quanto há vontade de mudança! Por isso compreendemos que se torna mais que urgente que a juventude também crie suas estratégias de organização e estruturação para se fortalecerem na vida e na luta!
Afinal, tanto a opressão quanto as incertezas servem de gás para compreendermos que não podemos esperar que o governo que faça algo por nós, só os trabalhadores podem mudar os rumos dessa sociedade e na luta direta contra o sistema! E se queremos um futuro melhor, precisamos derrubar esse sistema e construir uma alternativa que traga igualdade para todos/as, ou seja, uma sociedade socialista!
Assim, estamos construindo diversas atividades para que possamos construir um acúmulo de reflexões e debates entre a juventude contribuirmos com essas tarefas. Nos dias 10 e 11 de janeiro de 2015, realizamos em Itanhaém (SP) a I Vivência da Juventude, em que realizamos atividades políticas para fortalecer a construção de um coletivo da juventude. Pensamos sobre os desafios atuais como a luta pelo transporte público, gratuito e sob controle dos/as trabalhadores/as, sobre a Educação que queremos, além de debater sobre a organização dos jovens.
O Coletivo da Juventude está em construção como um espaço aberto aos jovens trabalhadores que não se conformaram com a sociedade como ela está. Não se conformam com a exploração, o racismo, o machismo e a homofobia. Construa com a gente outra prática, acompanhe nossa agenda e venha para nossas atividades.