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Nota do Espaço Socialista sobre o ato de 12 de junho em São Paulo


20 de junho de 2014

Pela unidade dos trabalhadores e juventude contra a repressão, o governo e o capitalismo

Desde as manifestações de junho de 2013 já avaliávamos que a repressão aos movimentos sociais seria cada vez mais intensa e que a burguesia e seu Estado utilizariam todas as armas, inclusive a violência física – para conter a insatisfação popular por melhores condições de vida, lutas e greves por melhores salários, condições de trabalho e estudo – especialmente no período de mega-eventos como a Copa do Mundo.

Enquanto isso, os bilhões gastos com estádios, empréstimos do BNDS, isenções de impostos à FIFA demonstram o quanto o governo Dilma tem favorecido as grandes empreiteiras e busca com o novo “pacote de bondades” reafirmar seu compromisso com o empresariado de conjunto. Ao mesmo tempo em que não atende as reivindicações dos trabalhadores federais em greve, tal qual o governo do PSDB que demite trabalhador em greve e contam com a Justiça burguesa para aplicar pesadas multas aos sindicatos que insistem em manter na pauta o direito de se mobilizar e parar.

Diante disso, temos realizado chamados às centrais sindicais de esquerda para a realização permanente de campanhas contra a criminalização das lutas e a repressão aos movimentos sociais a fim de dialogar com os trabalhadores sobre a necessidade de ações e maior resistência aos ataques e a violência do governo e da burguesia.

No entanto, um ano após o início das Jornadas de Junho nos deparamos com uma situação ainda mais complicada para os lutadores. Desde Janeiro, várias manifestações ocorrem nas ruas das principais capitais do país e as greves mobilizam diversas categorias. Mas, até o momento, não conseguimos unificar essas lutas e os atos, muito menos, a resistência dos lutadores contra a ofensiva repressiva e por uma pauta unitária da juventude e dos trabalhadores.

Além disso, tem-se buscado aprofundar a divisão entre os manifestantes trazendo para dentro desses movimentos a dicotomia imposta pela mídia burguesa de uma suposta existência de pacifistas e vândalos.

Isso ficou evidente no ato ocorrido no dia 12 junho em São Paulo. Enquanto a burguesia, os governos, o judiciário, a polícia, o patrão e pequena parcela da população se unificaram contra a greve dos Metroviários, as Centrais Sindicais de esquerda não conseguiram estabelecer a unidade com outras categorias em greve e com o conjunto das organizações que estão nas ruas desde as Jornadas de Junho.

Tivemos a possibilidade de dois grandes atos em São Paulo, no dia da abertura da Copa do Mundo: Um no Metrô Carrão (“Se tiver demissão não vai ter Copa”) chamado por grupos e organizações que estão construindo os atos desde janeiro/2014. E outro no Sindicato dos Metroviários, como forma de pressionar o governo a readmitir os 42 trabalhadores demitidos durante a greve, chamado pelo Sindicato dos Metroviários e Espaço Unidade de Ação.

Também existia a necessidade de unificar os atos já que o aparato bélico era muito superior às nossas possibilidades e o fortalecimento da luta pela readmissão se fazia urgente e imprescindível.

No entanto, não contamos com a quantidade necessária, nem num e nem no outro local, de manifestantes para registramos junto à classe trabalhadora a nossa indignação com os péssimos serviços públicos, enquanto bilhões foram utilizados com a Copa que assassinou diversos trabalhadores em suas obras e a nossa indignação também com a demissão de trabalhadores metroviários por utilizarem o direito de greve duramente conquistado durante anos de lutas.

Difícil ainda foi registrar nessa trajetória das atuais lutas as ações de organizações e partidos de esquerda – que deveriam estar imbuídos da solidariedade de classe, do espírito de unidade das lutas e dos que lutam contra a criminalização aos movimentos, contra repressão burguesa/estatal, antifascistas e anticapitalistas – que mudam o foco inimigo e passam a utilizar métodos que não contribuem com a unidade entre os que lutam, como a formação de um Cordão de Isolamento a fim de separar manifestantes. Realizado, nesse caso, para impedir que os ativistas que vinham, já reprimidos pelo Polícia Militar, do Metrô Carrão, se juntassem ao ato em frente ao Sindicato dos Metroviários e que serviu também para interrogatórios e hostilizações.

Diante do uso da violência desmedida, como sempre irresponsável, do Estado e de seu braço armado, a Polícia Militar, com bombas de gás, balas de borracha e caminhão com jato d’água. Vários feridos. Ordem de dispersão pela Tropa de Choque. A orientação dada pelos organizadores do ato foi a de que entrassem no Sindicato, única possibilidade de refúgio, os manifestantes que participavam daquele ato, enquanto que para outros que tentaram se somar, ficou reservado o fechamento dos portões.

Essa foi a primeira vez, desde as Jornadas de Junho, que nos deparamos com uma situação como essa, a tentativa de dividir fisicamente os dois atos chamados com a mesma finalidade, contrária aos exemplos de unidade dados pelo Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul:

O Cordão de Isolamento é uma tática geralmente utilizada nas manifestações, pelos Black Blocs (nesses casos, possuiu a finalidade de garantir a segurança dos manifestantes barrando momentaneamente a ação da polícia contra os puxadores dos atos). Também é utilizado pela Polícia/Tropa de Choque, com a finalidade inversa, para manter o controle e conter a circulação dos manifestantes. Mas, no dia 12 foi utilizado para impedir a unidade dos manifestantes que estavam na luta.

Por outro lado, a tentativa de impedir a entrada de manifestantes, no único lugar onde era possível se proteger, com o fechamento dos portões do Sindicato dos Metroviários e até mesmo com agressões a ativistas (Ver Nota do Espaço Socialista contra a agressão a uma companheira), no momento em que estávamos encurralados pela Tropa de Choque e à mercê da repressão, não condizem com o importante papel a ser resgatado pelos revolucionários e por seus instrumentos de luta.

Historicamente construído pelos trabalhadores, para organizar e acolher toda a classe trabalhadora, o sindicato deve manter as portas abertas também para a juventude trabalhadora sem utilizar o discurso burguês e midiático de que não se pode misturar “vândalos com pacifistas” e nem “mascarados com homens de bem”, especialmente, contra o massacre preparado pela Polícia Militar e contra a criminalização de militantes que ousam a protestar contra o temporário governo Dilma/Alckmin/FIFA.

Não se pode aceitar que centrais sindicais como a CSP-Conlutas e a Intersindical se calem diante de tamanha brutalidade contra quem está em luta ou ajudem a reforçar a divisão imposta pela mídia entre “vândalos e pacíficos”. Nos atos, organizados pelo Espaço Unidade de Ação (PSTU e CUT Pode Mais), não se pode repetir ações semelhantes às do governismo e da direita. Repudiamos esse tipo de ação contra aos que lutam.

É inadmissível negar proteção a qualquer companheiro ou ativista de luta, não se pode deixá-los à mercê da repressão, como foi feito.

Por outro lado, a tática Black Bloc, desenvolvida também para construir ações e enfrentamentos por fora do modelo tradicional dos partidos e organizações da esquerda, possui alguns ativistas que ainda não entenderam ou proferem não aceitar a própria tática, ou seja, a transforma em estratégia permanente: se não há movimento não há tática Black Bloc, ou seja, se os manifestantes não estão mobilizados para o enfrentamento, conscientemente, não há que se fazer barricadas, garantir segurança, etc. Insistir em aplicar ações radicalizadas sem o consentimento do conjunto dos trabalhadores mobilizados ou sem o objetivo de ganhá-los para a radicalização torna-se suposto insulto, suposta ameaça e, até mesmo, chega-se à falsa definição de pólo contrário, isto é, inimigo.

Nesse sentido, evitar uma exposição que nos seja prejudicial torna-se uma obrigação de todo militante e ativista, a fim de preservar a vida, a existência da luta, da resistência e a possibilidade de continuarmos trilhando o caminho da transformação da sociedade até conquistarmos o fim do capitalismo e a construção de uma sociedade sem opressão e sem exploração.

É preciso ganharmos trabalhadores e ativistas que têm tido ações individuais para uma consciência que priorize ações tiradas no coletivo, em vez de segregá-los e afastá-los.

Repudiamos a ação repressiva do Estado/governos contra os trabalhadores em greve e contra os ativistas que lutam por Educação, Saúde, Moradia e Transporte públicos de qualidade contra a Copa das Mortes, dos Despejos e dos Gastos Públicos.

Espaço Socialista, 15 de Junho de 2014.