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Rejeitar as saídas Burguesas. Nem Mursi (Irmandade Muçulmana), nem os Militares! Prosseguir nas greves, ruas e Praça até conseguir realizar uma saída dos trabalhadores!


14 de julho de 2013

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Nota do espaço Socialista sobre o golpe militar no Egito:

O Egito foi o país onde os avanços e limites da chamada Primavera Árabe se expressaram com maior nitidez.

Os reflexos da crise econômica mundial agravaram a falta de perspectivas e de futuro para metade da juventude egípcia, combinados ao ódio a uma ditadura corrupta e pró-imperialista de décadas, fizeram com que milhões se rebelassem para derrubar o governo de Mubárak, aliado do imperialismo, com grandes enfrentamentos de rua, greves de categorias de trabalhadores, mostrando a tendência do próximo período que é de acirramento da luta de classes, com ascenso e rebeliões populares e sociais. Mas ao mesmo tempo, fruto de anos de estabilidade política e de dominação esse movimento despertou sem uma alternativa socialista em sua consciência e organização. Isso impediu que os trabalhadores e a juventude pobres assumissem o poder e permitiu que a luta das massas pudesse ser utilizada pelos dois setores: Irmandade muçulmana e setores imperialistas em sua disputa pelo poder. O Exército atua tanto como repressor, buscando acima de tudo preservar a “ordem” – leia-se os contratos do setor de serviços (turismo) e de extração dos recursos naturais (petróleo).

Desde o início o Exército tem tido o papel de intervir para controlar, reprimir e impedir que as lutas possam romper a dominação capitalista e imperialista do país. Sua importância econômica é enorme, controlando cerca de 25% do PIB do país além de deter poderes simbólicos, históricos, políticos e econômicos com um alcance pouco comum, que o converteu na coluna vertebral do país e em um dos grupos de poder econômico mais importantes do mundo. Sua hierarquização rígida e sua proximidade com o imperialismo estadunidense são indiscutíveis.

A eleição de Mursi pela Irmandade Muçulmana expressou num primeiro momento a falta de alternativas da classe trabalhadora e da juventude, colocando no poder uma organização também de direita, que pretendia a islamização do Estado e da sociedade, apesar de expressar contradições com o imperialismo. Representava setores da burguesia local e outra forma de manter a dominação sobre os trabalhadores. Utilizando sua maioria no parlamento, fez aprovar uma Constituição que pretendia proibir as greves, limitar as organizações de trabalhadores e estudantes (amplamente desenvolvidas pós queda de Mubárak) e avançar para ataques contra as mulheres e direitos democráticos da juventude.

Por outro lado, Mursi buscou desde o início um governo de convivência com o Exército e com o capital no Egito, evitando mexer em qualquer dos pilares de dominação do país como por exemplo na questão do turismo e dos recursos naturais (petróleo). Assim, não só não resolveu nenhum dos problemas sociais que estavam na base da Primavera do Egito como pretendeu avançar em uma outra forma de dominação e opressão sobre os trabalhadores e a juventude, utilizando-se de uma das possíveis interpretações da religião islâmica.

As massas, entre eles os setores laicos e de esquerda, não suportaram e não aceitaram ter seus objetivos traídos desta forma e foram novamente aos milhões para as ruas e para a praça Tahrir, exigindo a queda de Mursi. Evidentemente, setores burgueses inclusive pró-imperialistas da era Mubarak participaram desse movimento, vendo na queda de Mursi uma forma de retomar sua posição de controle.

Novamente o Exército interviu, dando um prazo para que o governo encontrasse uma saída de estabilidade. Findo o prazo, o Exercito deu um golpe retirando Mursi e nomeando O chefe da Suprema Corte Constitucional, Adly Mansour, como um governo interino.

É importante entendermos que o golpe tem o objetivo não de realizar as demandas sociais e políticas das massas acampadas na praça e em movimento nas ruas. O objetivo é conseguir justamente o oposto: desmobilizá-las e reprimi-las enquanto buscam uma saída de estabilidade para que tudo fique como está. Isso pode se dar por eleições, que referendem um nome de confiança da burguesia ou mesmo pela Suprema Corte. Mas o Exército permanece como o verdadeiro guardião da propriedade privada e dos interesses capitalistas no Egito e o principal inimigo dos trabalhadores no próximo período.

Assim, não podemos “comemorar” o golpe dos militares como se fosse expressão apenas do movimento de massas. Se por um lado só foi possível pela mobilização das massas e superficialmente realizou essa vontade (com a retirada de Mursi), por outro, os militares e a Suprema Corte assumiram o controle visando a desmobilização, e inclusive a repressão dos setores tanto da Irmandade muçulmana, mas também das lutas dos trabalhadores , visando derrotar o movimento. Enquanto isso, apresenta a saída da reação democrática, ou seja, tentam encontrar um nome que possa ser respaldado por eleições (fraudadas, se necessário).

É preciso aproveitar a energia de esquerda a partir da saída de Mursi para seguir, mas ruas e na Praça, rejeitando o golpe e o poder nas mãos dos militares e da Suprema Corte, que possuem ligações e interesses afins com o imperialismo e ao mesmo tempo lutar pelas demandas sociais e democráticas dos trabalhadores, como direito de associação irrestrito, direito de greve, de imprensa própria, etc, para ir com isso gestando uma alternativa própria de poder própria dos trabalhadores.

Não às saídas da burguesia e do imperialismo! Nem Mursi, nem o Exército e nem a Suprema Corte!

Por uma alternativa dos Trabalhadores!