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Egito: Rejeitar a opressão e o modo de vida burguês. Basta de estupros! Pelo direito à manifestação!


15 de julho de 2013

Pelo direito de lutar e de viver! Somos tod@s egípci@s!

Alguns meios de comunicação têm informado sobre a ocorrência de inúmeros estupros às mulheres em meio às manifestações que acontecem na Praça Tahrir e em outros locais no Egito.

Segundo a Anistia Internacional no Cairo, cerca de 200 mulheres já passaram por estupros coletivos, nos protestos atuais, perpetrados por manifestantes.

Podemos dizer que, as mulheres, grande parte de quem luta nas ruas, estão tendo os seus direitos de livre manifestação e expressão questionados. E o pior, além da intensa repressão estatal, têm o seu corpo e à sua sexualidade violados, por alguns manifestantes, de forma brutal e cruel.

Egípcia chora na Praça Tahrir, Cairo, após anúncio de que presidente Hosni Mubarak renunciou ao poder (2011) Fonte:IG
Egípcia chora na Praça Tahrir, Cairo, após anúncio de que presidente Hosni Mubarak renunciou ao poder (2011) Fonte:IG

O relato da jornalista estuprada por mais de 200 homens, na ocasião em que Hosni Mubárack foi deposto, é aterrador e mostra o quanto precisamos combater todas as formas de violação e ainda exigir direitos humanos mesmo sob o sistema capitalista, sobretudo, no que se refere aos direitos das mulheres, mesmo sabendo que este sistema somente é capaz de garanti-los de forma parcial, e ainda sim unicamente com muita luta.

Além disso, estima-se que mais de 90% da população feminina egípcia tenham seus clitóris extirpados. Apesar de a mutilação genital ter sido proibida por Lei em 2008, as meninas continuam enfrentando essa crueldade.

Uma egípcia, perante a lei, é metade de um egípcio. O testemunho judicial de duas mulheres equivale ao de um homem. A conquista ao direito do divórcio sem consentimento do marido ocorreu apenas em 2000.

Com tudo isso entendemos que além de serem submetidas, de maneira extrema à servidão patriarcal, o restrito espaço privado nega também às mulheres egípcias o próprio exercício da sexualidade e vai ao encontro do modo de vida burguês, que frustra qualquer tentativa de construção da perspectiva do exercício da sexualidade livre.

Não nos calamos ante todas essas atrocidades! Repudiamos toda essa violência e nos somamos às egípcias. Como socialistas e revolucionários (as) não fechamos os olhos. Defendemos a luta de todas e todos os trabalhadores no mundo! Defendemos todos os oprimidos pelo capitalismo, pelo machismo, pela homofobia, pela xenofobia, pelo racismo e por qualquer outra forma de opressão e exploração, que têm servido para sustentar a burguesia.

Rechaçamos que a cultura islâmica apossada pela burguesia e pela ala direita da religião islâmica imponha violência às mulheres do mundo árabe para intensificar a desvalorização, a humilhação e aprofundar ainda mais a tentativa de transformação do corpo e da vida das mulheres em mercadoria, além de lhes restringir direitos civis e políticos. A luta do povo egípcio contra os desmandos dos governos não tem ainda buscado conquistar nem direitos humanos básicos. E demonstra que está ainda fortemente marcada pela carga brutalmente machista e misógina.

Conforme a sensacionalista G1, um jovem mencionou que os homens estupram as mulheres nas manifestações porque estão desempregados e não têm perspectiva de vida. Outro, porque as mulheres nas ruas apresentam-se com roupas indecentes. Isso demonstra o quanto essa sociedade da miséria é doente e cruel. Demonstra também o quanto o machismo imperante no mundo islâmico visualiza a mulher como coisa que não sente dor, não tem sentimento e jamais poderá atuar como sujeito. Assim, o inimigo deixa de ser o capital e seu aparato estatal e passa a ser a mulher lutadora. Isso é mais um dos aspectos da falta da alternativa socialista. Perde-se o foco. Deixa-se de visualizar quem são os inimigos dos trabalhadores responsáveis pelo desemprego, pelo alto custo de vida, pela falta de moradia e pela exploração e miséria. Passa-se à destruição dos já oprimidos.

A burguesia, o exército e toda a ala direita do islã tentam impor a cada momento que a mulher deva ficar em casa e não em luta como parte do povo que se manifesta. No entanto, com todos os problemas políticos e econômicos impostos ao país nem as forças repressivas do estado e da religião têm sido suficientes para manter as lutadoras trancafiadas.

A classe trabalhadora precisa retomar o seu caminho: expulsar o exército guardião da propriedade privada e dos interesses da burguesia, impor um estado laico, garantir os direitos democráticos e as necessidades básicas de todos os trabalhadores e trabalhadoras.

 Continuemos nas greves, nas ruas e nas praças! Pela formação de coletivos de autodefesa das mulheres lutadoras!

Pela punição imediata dos agressores e por uma educação emancipatória. Nenhuma cultura ou religião pode se sobrepor ao direito de não violação do corpo!

Som@s tod@s egípci@s! Basta de estupros: nenhuma de nós a menos! Chega de atos de violência! Queremos lutar! Pelo fortalecimento da solidariedade às lutadoras!