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Finalmente, o ascenso das massas no Brasil!


29 de junho de 2013

Este texto é uma contribuição individual, não necessariamente expressa a opinião da organização e por este motivo se apresenta assinado por seu autor.

 

Artur Bispo

professor da UFAL e militante do Espaço Socialista Maceió-AL

O espectro da revolta e do descontentamento toma conta de todo o país, e milhões se erguem numa só voz para dizer não ao aumento das passagens de ônibus, contra os políticos corruptos, os partidos tradicionais, as obras da Copa, a PEC-40 e exigindo mais verbas para educação, saúde e melhoria dos transportes públicos etc. É um movimento dos mais expressivos nestes últimos quarenta anos de nossa história, que surge articulado aos

São Paulo - Junho de 2013
São Paulo – Junho de 2013

movimentos de protesto e revolta que ocorrem em todo o mundo (Europa, Oriente Médio, Ásia e América). Mas seu desfecho continua em aberto, e por isso a importância da intervenção coletiva e individual dos revolucionários.

Diferentemente dos dois maiores movimentos de massa que tivemos nestas últimas quatro décadas, eles não são organizados pelos partidos tradicionais de esquerda, não contam com o apoio das organizações sindicais, não são liderados pelas personificações ilustres do sistema político, nem são expressão de movimentos ou figuras carimbadas da sociedade. É preciso lembrar que o movimento das “Diretas Já” contou com a participação de inúmeras figuras ilustres de cenário nacional, políticos como Brizola, Tancredo, Lula; artistas como Chico Buarque e Caetano Veloso; e vários intelectuais de esquerda. E o movimento popular que resultou no impeachment do presidente Collor envolveu as figuras mais expressivas dos distintos partidos existentes nas épocas, de artistas e intelectuais. Agora não existem estrelas, mas uma massa de indivíduos que compõem a classe média, trabalhadores empregados e desempregados, jovens da classe média e dos setores populares.

O movimento, que tem seu prólogo nas manifestações iniciadas pelo Movimento Passe Livre (MPL) em 6 de junho, ganha notoriedade e expressividade ao passar paulatinamente da condição parcelada para assumir expressão nacional e internacional. No dia 20 de junho já eram mais de 100 cidades brasileiras envolvidas no redemoinho de protestos que têm tirado o sono de muitos políticos de direita e de esquerda, ao tempo que representa um curto-circuito nos propósitos da burguesia brasileira. Esta imaginava que tudo estava sob controle desde que entregou a direção política do país ao PT, arrastando consigo os principais movimentos sociais organizados e o apoio sistemático das centrais sindicais (CUT e CGT).

É preciso atentar que o movimento de massa não pode ser entendido como uma coisa abstrata e desconectada de seus aspectos de classe. Ele é expressão do ataque constante que o capital tem desferido contra os interesses da classe trabalhadora, especialmente daquela fração da classe trabalhadora assalariada que constitui a classe média ou os setores intermediários da sociedade brasileira. Além desta, conta com a participação de indivíduos que compõem tanto o proletariado quanto seus extratos afetados pelo desemprego estrutural. Este último acaba conferindo um caráter de maior radicalidade ao movimento.

O ascenso desse movimento de massa abre um leque de possibilidades tanto reacionárias quanto revolucionárias, num segundo momento, após a interferência do caráter anticapitalista do MPL, pois o movimento se apresenta aparentemente hegemonizado pelos setores intermediários da sociedade. As debilidades manifestas não emanam apenas da ausência de experiência política, mas certamente do papel que ela ocupa na sociedade capitalista.

O novo movimento é significativo não apenas pela sua expressividade numérica, mas também por sua aparente autonomia política e seu efetivo caráter de indeterminação. É isso que mais tem inquietado os denominados analistas políticos e os partidos de esquerda. Entender as contradições permite superar as idiossincrasias das formulações apressadas e as leituras equivocadas da realidade. A heterogeneidade desse movimento de massa serve para exprimir as contradições que perpassam as classes sociais em disputa e os interesses divergentes entre os distintos elementos que o constituem. Entender as contradições é fundamental para superar as formulações apressadas que querem tão somente os resultados sem entender suas mediações.

A natureza profundamente contraditória desse movimento aponta também para o jogo de forças que subsiste acerca do caráter de classe do Estado burguês. Existe no seu interior uma crítica radical à falácia da democracia burguesa e uma espécie de reivindicação da ampliação da participação popular nas questões decisivas da vida nacional. Também em seu interior constata-se a difusão duma ideologia da neutralidade política e partidária que pode abrir brechas para a ação oportunista das velhas saídas pelo alto, em que num passe de mágica tudo poderia ser solucionado ao invés de intensificar-se a participação popular em toda a sua radicalidade. O antagonismo constitui tanto a relação do movimento de massas com o Estado mínimo para as políticas sociais e para atender aos interesses dos trabalhadores, quanto perpassa o próprio desenvolvimento de seu ser.

1. Por que o movimento de massa é contra os partidos?

A gênese do problema procede do fato de que a história dos partidos políticos de esquerda ao longo de todo o século XX se constitui como a história da mais alta traição aos interesses da classe trabalhadora e dos setores populares que eles diziam representar. Todos eles passaram para o lado do capital e desconsideraram as inúmeras possibilidades de diálogo com suas bases.

O PT constitui-se como a mais elevada expressão dessa traição, quando um representante da classe operária consegue fazer o trânsito individual da condição de operário para a burguesia, abandonando completamente as bandeiras definidas pela sua classe e pelos setores da sociedade que se identificavam com seus propósitos. O problema se agrava ainda mais com as denúncias do mensalão e com o fato de nenhuma das figuras condenadas ter sido efetivamente punida.

Ao dizer não aos partidos políticos, é possível encontrar elementos duma clara politização dos milhões de indivíduos que constituem o movimento. Eles claramente afirmam a recusa da condução típica dos partidos, que culmina na manipulação de seus interesses e na sua completa obliteração. A crise dos partidos é sintomática e atesta a monumental cisão que existe entre o representante e aqueles que dizem representar. A crise dos partidos é somente a expressão da crise que afeta toda a estrutura do poder constituído, que existe tão somente para resguardar e assegurar a dominação da burguesia sobre a classe trabalhadora e o poder do capital sobre o trabalho. A clareza disso é explicitada na crítica permanente que é dirigida pelos seus participantes ao parlamento burguês e aos distintos representantes do Executivo e do Judiciário, pois todos se locupletam no poder e esquecem completamente os efetivos interesses da classe trabalhadora e das camadas mais pobres da população.

No entanto, a crítica aos partidos políticos precisa ser qualificada, para não servir aos propósitos e às estratégias fascistas que possam atuar em seu interior. Seu caráter genérico e deliberado acaba por servir aos propósitos reacionários e obstam o diálogo com os grupos políticos mais conscientes e organizados que estão à esquerda do PT e do PCdoB.

A cegueira política acerca da diversidade dos programas partidários pode servir como preâmbulo à hegemonia de práticas e atitudes políticas próximas ao fascismo, que representa a interceptação de qualquer possibilidade de atender aos efetivos interesses da própria classe média, bem como aos interesses dos setores mais explorados da classe trabalhadora. Existe uma espécie de irracionalismo na recusa às bandeiras dos partidos políticos e na afirmação de que a única bandeira admitida em seu interior seja a bandeira do país, porque isso não deixa de apresentar um conteúdo político e uma proposta política determinada. Não existe nessa afirmação nenhuma neutralidade política, e somente os ingênuos poderiam aceitar tal formulação. Nesse aspecto, o discurso da neutralidade política é profundamente ideológico e serve para assegurar em seu interior a presença de elementos reacionários organizados de diferentes formas, como grupos de torcidas de times de futebol, militares camuflados, skin-heads etc.

A disputa pela consciência das massas que constituem a juventude engloba tanto as organizações de direita como as de esquerda. A recusa da presença das bandeiras vermelhas demostra que os setores organizados da pequena burguesia que atuam no interior do movimento de massa têm interesses análogos aos dos partidos de esquerda como PSTU e PCB, ou seja, todos eles buscam captar a subjetividade da juventude para seu campo.

Mas isso não deve desconsiderar os graves problemas dos partidos de esquerda e como eles estão fundados na enorme disjunção entre luta política e luta econômica, entre teoria e prática, entre o mundo objetivo e o mundo subjetivo. É preciso entender que as efetivas organizações da classe se forjam na luta e nos embates; o partido não é uma entidade que subsiste acima do movimento de massa, pelo contrário, ele é gestado para atender às necessidades da luta e instrumentalizar a classe para a vitória contra o capital. É preciso aprender com as massas a melhor maneira de operar seu próprio processo de auto-organização.

Infelizmente não é isso que se observa. O que se nota é que a totalidade dos partidos de esquerda busca assumir a direção das massas sem terem sidos forjados no processo, e querem assumir o comando, quando pouco ou nada fizeram para isso. Não deixa, então, de ser sintomática e procedente a crítica aos partidos.

2. A periculosidade do nacionalismo

A emergência das massas torna visível a crise econômica que os aparatos da manipulação da burguesia tentavam encobrir. Torna-se nítida a crise profunda que afeta as estruturas da sociedade burguesa, e pode se abrir um período revolucionário em que a burguesia busque o enfrentamento recorrendo ao fascismo como forma de combate e como mecanismo de cooptação das potencialidades latentes na revolta das massas. O fascismo é uma das alternativas que se colocam para a burguesia em momentos de crise que coloquem em risco a possibilidade de continuar a exercer o poder político segundo os velhos receituários da democracia burguesa.

O aspecto mais comum do fascismo é seu deliberado caráter nacionalista. A ideologia nacionalista comparece como um elemento exacerbado e tem caráter doutrinário e irracionalista. Ele é essencialmente avesso à possibilidade de entendimento do movimento dinâmico e contraditório da realidade. Este é um dos principais elementos problemáticos desse ascenso de massa, porque a principal ideologia que lhe dá sustentação é exatamente esta. A intensificação dos elementos nacionalistas no interior do movimento tem um caráter reacionário e demonstra traços reformistas, porquanto se mostra desprovido da crítica ao imperialismo e ao capitalismo.

Na história do país essa ideologia esteve tanto a serviço dos militares quanto do populismo, funcionando como alternativa à democracia burguesa. Como o fascismo é uma ideologia eclética, deve-se atentar para as suas possibilidades, pois é a principal ferramenta de que a burguesia se utiliza nos momentos que põem em xeque a legitimidade de seu poder político e econômico, constituindo-se num mecanismo poderoso de manipulação dos anseios das massas. O nacionalismo exacerbado é a principal arma fascista para reprimir as efetivas possibilidades revolucionárias, devendo-se lembrar de como esse elemento serviu de sustentação ao capital na Itália e na Alemanha no pré-Segunda Guerra Mundial.

A ideologia nacionalista tem ocupado papel relevante no interior do ascenso das massas porque inexiste uma longa tradição revolucionária no país, uma vez que suas tentativas foram sempre draconianamente suprimidas e lançadas no ostracismo pelas classes dominantes e pelos políticos de plantão (militares e civis). O desconhecimento dos elementos revolucionários na história brasileira e a ausência da participação efetiva da classe média nos movimentos sociais de resistência ao longo das últimas décadas abrem um hiato no seu interior que viabiliza a recorrência dos elementos nacionalistas para subsidiar e instrumentalizar sua participação popular. A recorrência dos preceitos nacionalistas demonstra o quanto ela esteve longe das ruas e alienada de si mesma nestas últimas décadas e, consequentemente, como ela precisa ser educada para que as suas reivindicações sejam efetivamente atendidas. É preciso demonstrar que suas reivindicações de maneira alguma serão atendidas pelas saídas messiânicas do fascismo, que acaba sempre erigindo um indivíduo como o novo baluarte da moralidade e da pureza de princípios, a exemplo de Jânio Quadros e Fernando Collor de Mello no passado.

A afirmação da pátria como meu partido ou do país como meu partido precisa ser qualificada, pois não é possível entender a nação sem entender as suas classes sociais e os antagonismos que subsistem entre capitalistas e trabalhadores. Certamente, existe um jogo de força em curso e a burguesia tenta capitanear as massas para o seu lado mediante instrumentos fascistas, como a intimidação dos setores mais organizados da classe trabalhadora que atuam em seu interior, a exemplo dos partidos políticos de esquerda, sob a insígnia da bandeira vermelha.

É importante destacar que o fascismo somente se consolida quando as possibilidades revolucionárias são plenamente sufocadas ou incapazes de oferecer alternativa ao movimento de massa. A ascensão do fascismo é consequência da incapacidade da classe operária de atuar no movimento de massa de maneira decisiva e apresentar uma alternativa efetiva à sociedade como um todo, permitindo que a pequena burguesia brote como personagem central de seu processo histórico.

A apatia do proletariado nesta ascensão das massas demonstra como ele persiste nas lutas meramente economicistas e permanece limitado aos mecanismos de controle da burocracia sindical que reiterou completo apoio ao governo Dilma da mesma maneira que ao governo Lula. A impossibilidade de transcender seus interesses econômicos abre espaço para a intervenção dos elementos mais reacionários da pequena burguesia, que poderão capitalizar grande parte do movimento de massa na perspectiva que interessa à continuidade do processo de reprodução do capital. Assim, ao invés da possibilidade de uma ofensiva socialista pode-se experimentar um novo período contrarrevolucionário, marcado pela intensificação do combate ao direito de existência das organizações revolucionárias.

O problema é que o fascismo não poderá restituir as perdas acumuladas pela pequena burguesia nestas últimas décadas, pautadas pela ofensiva do capital, sem atacar ainda mais os direitos dos trabalhadores. O fascismo teria um período curto de existência porque novamente os elementos que estão dinamitando o sistema político atual retornarão posteriormente, na medida em que essas concessões precisaram novamente ser interceptadas. Mas essa não deixa de ser uma alternativa ao capital, porque ele se constitui exatamente pela tentativa de lançar os problemas para frente e adiar as possibilidades de consolidação das medidas efetivamente reparadoras de todo o sistema.

O fascismo não é uma coisa fixa e homogênea, mas algo gelatinoso e capaz de se moldar às exigências do capital para subordinar a classe trabalhadora aos novos de processos de expropriação de mais-valia. No entanto, a exigência do fascismo não se coloca por completo porque a subordinação da classe operária é inteira neste momento histórico do país e não se observa a presença de grandes elementos de resistência operária contra o modelo estatuído da reestruturação produtiva. A exigência do fascismo não se põe plenamente porque o proletariado não oferece uma clara contraposição ao poder econômico do capital. Assim, a possibilidade do fascismo existe, mas existe também um amplo leque de possibilidades para a burguesia continuar exercendo o controle político do movimento de massa.

No entanto, a pequena burguesia precisa ter atendidas as suas reivindicações sociais por mais educação e saúde, e o capital somente pode fazer tais concessões mediante a ampliação da capacidade de apropriação da mais-valia produzida pelos trabalhadores. Isso significa tão somente adiar o problema. Por outro lado, existe nesse movimento de massa a presença de setores populares que exigem também a melhoria dos transportes públicos e a melhoria dos serviços sociais. Isso implica que os novos representantes do capital, sejam aqueles que emergirem da base ou os que surgirem pelo alto, precisarão intensificar a política de criminalização dos movimentos sociais. Novamente, não existe saída para nenhuma das classes atacadas em seus direitos (classe média e trabalhadores) nos limites do capital. A pequena burguesia permanecerá encurralada porque não existe nenhuma forma – que não seja o socialismo − de preservar seus privilégios e seus direitos; é por isso que o combate à corrupção é um aspecto fundamental de sua luta, pois representa a possibilidade de apropriação duma parte da mais-valia operária que acaba sendo direcionada para os políticos profissionais.

A crítica aos políticos e aos partidos tem como substrato a compreensão de que se gasta muito na manutenção do aparato político existente, por isso se poderia constituir uma reforma política nos termos do toyotismo. A noção dum poder político enxuto pode implicar a recorrência ao expediente autoritário e menos democrático, dado o alto custo exigido para a preservação do parlamento burguês e de sua burocracia parasitária. No entanto, isso esbarra novamente em contraposição ao momento histórico atual, pautado pela intensa participação popular e pela classe média. No momento, a direção do movimento continua indeterminada porque a pequena burguesia não pode oferecer uma saída revolucionária; a saída deve ser pensada sempre no contexto da preservação do status quo.

Enquanto a classe média continuar determinando o curso do movimento, este não poderá subverter seu caráter reformista e conciliatório, apesar de existirem inúmeros exemplos de radicalidade anticapitalista em seu interior. Esta se acha expressa na disposição de espírito de seus participantes para ocupar as ruas, fechar rodovias, interceptar portos e aeroportos, e nos distintos enfrentamentos com a polícia. Tudo isso poderia indicar uma perspectiva de subversão completa da estrutura política e social constituída.

É preciso ter claro que o período histórico do capital não admite mais concessões à classe trabalhadora ou à classe média. Isso significa que a via fascista, hoje fortemente propalada por alguns setores, é episódica e não teria condições de resistir por um período longo, porquanto não é possível fazer concessões às classes sociais mencionadas, a não ser que se adote a política de privilegiar a classe média, ampliando ainda mais a superexploração da força de trabalho operária e a violência contra o lúmpen do proletariado. Daí a necessidade de que o proletariado entre na cena política e ofereça uma direção ao movimento de massa, desvelando efetivamente os elementos fundamentais responsáveis pela constituição do Estado mínimo para as políticas sociais e do Estado máximo para o capital. No entanto, a dificuldade para o proletariado entrar na cena política se deve ao fato de que ele está subordinado à direção reformista da burocracia sindical, plenamente subserviente aos interesses do capital, a exemplo da CUT e da CGT.

3. O fim do ciclo PT

 

A crise estrutural do capital intensificou a necessidade de contrarreformas sistemáticas adversas aos trabalhadores. A política de retirada dos direitos sociais tem afetado tanto o proletariado quanto os setores da classe média que vivem de salários. A constituição do Estado máximo para o capital e do Estado mínimo para os trabalhadores intensificou a violência urbana e tornou infernal a vida nas metrópoles e mesmo nas cidades menores.

A política de Estado máximo para atender às necessidades de autorreprodução do capital. Isso implicou a ampliação dos subsídios estatais para o grande capital e a anistia fiscal para os usineiros, o agronegócio, as montadoras de automóveis, os grandes bancos e para o sistema financeiro como um todo. Tudo financiado com a intensificação da exploração do trabalho operário e com a retirada de direitos dos trabalhadores assalariados da classe média. O governo do PT superou todos os governos anteriores na ampliação da tributação da classe trabalhadora e da classe média e fez enormes concessões ao capital em crise. É preciso observar que o PT e o PSDB são os lados de uma mesma moeda; todos servem de instrumentos de controle e dominação do capital sobre o trabalho, e o Estado burguês existe exatamente para garantir a dominação da burguesia sobre o proletariado.

Pelo caráter de abrangência do movimento de massa, tudo indica que o PT pode encerrar seu ciclo como capacho do capital, pois dificilmente Lula ou Dilma conseguirão obter o apoio financeiro necessário do capital (banqueiros e empresários) para um novo mandato presidencial. O capital dobrará seus esforços para a nova figura que emergirá desse cenário. Isso implica que o PT se encontra numa situação de crise política sem precedentes e deve fazer de tudo para se manter no poder. Ele não pode avançar na direção das massas porque desde muito tempo deu as costas para elas e também porque se constituiu como representação máxima do capital; por isso deve tentar preservar sua posição, de um lado, acenando para pequenas mudanças políticas e sociais na perspectiva de controlar as massas, do outro, na tentativa de aprofundar paulatinamente o processo de criminalização dos movimentos sociais do campo e da cidade.

O papel da direção do PT no momento é entravar as iniciativas operárias para uma participação decisiva no processo, a fim de não aguçar a luta de classes que pode acontecer mediante a constituição de uma greve geral. É que isso conduziria o proletariado à condição de sujeito do processo político nas jornadas que acontecem em todo o país. É possível que alguns setores minoritários apoiem essas iniciativas, mas eles terão sempre caracteres conciliatórios e reformistas, visando assegurar o espaço do PT no parlamento burguês, sob a irônica assertiva da possibilidade golpista da direita.

4. Os indivíduos e a história

As manifestações que levaram e continuam levando milhões de pessoas às ruas do Brasil, parando o trânsito, bloqueando rodovias, afetando os transportes coletivos, os portos e aeroportos, o comércio e a produção como um todo, desvelam a força do indivíduo e dos grupos organizados. Evidenciam o poder da juventude e dos trabalhadores, e principalmente a relação que subsiste entre o desenvolvimento das forças produtivas e o desenvolvimento das relações sociais, ou seja, como as relações de classe podem incidir dialeticamente sobre as relações econômicas e vice-versa.

O movimento de massa supera toda aquela concepção burguesa plasmada na morte do sujeito e na nulidade do indivíduo. Certamente que o fracasso das organizações operárias e dos partidos de esquerda que tentaram reformar o capital ao longo de todo o século XX resultou no aprofundamento da crise de classe e no ideário do indivíduo sem partido. É importante entender que os indivíduos exercem influência na história, mas essa influência é determinada pela estrutura e organização da sociedade, ou seja, é determinada pelo desenvolvimento das condições objetivas. Não se pode considerar a realidade nacional como um todo homogêneo e destituído de contradições, pois é o aguçamento das contradições sociais que impele os indivíduos a agirem na história sob o impulso dos interesses de suas classes sociais.

Ainda que a história não seja produto meramente da consciência ou da subjetividade, não é possível dela descartar a participação das paixões e dos interesses individuais, pois certamente as qualidades, os conhecimentos e os talentos singulares desempenham determinado papel em seu curso. Mas cabe considerar devidamente o papel do indivíduo na história, para não se conferir a ele um papel demasiadamente grande ou então nenhum papel. É preciso entender que os indivíduos atuam na história de maneira completamente articulada ao desenvolvimento contraditório das forças produtivas, ou seja, a contraposição que existe entre o capital e o trabalho, entre as classes dominantes e as classes dominadas.
É preciso considerar que são os interesses de classes que moldam a história. Isso quer dizer que o movimento de massa que se inscreve no momento presente da história do país é reflexo do ordenamento de toda a anatomia constitutiva das estruturas produtivas e das relações sociais e certamente poderá alterar sua anatomia política e social. Os interesses postos precisam ser atendidos; caso não o sejam, poderão resultar em novas explosões sociais, na medida em que se aguçarem ainda mais os conflitos sociais. Isso implica a necessidade de reconhecer os limites estruturais de toda a ação proveniente da burguesia, porque ela está impossibilitada estruturalmente de atender a essas reivindicações, já que seu propósito é preservar seus interesses de acumulação e expansão, não podendo sob nenhuma hipótese fazer concessões. As ações de extrema-direita ou da social-democracia somente poderão se movimentar nesse estreito espaço.

É preciso que se entenda que nenhum indivíduo particularmente pode interceptar o estabelecimento dos anseios das massas na rua nesse momento − tenha ele o caráter que tiver (direita ou esquerda) – caso não se operem mudanças nas estruturais fundamentais de organização da produção e da distribuição da riqueza socialmente produzida pelos trabalhadores. Isso significa que as possibilidades do fascismo ou ditadura militar somente poderão abrir um novo espaço de luta, e esse movimento de massa mostrou que não será através da criminalização e da intensificação da repressão que se poderá acabar com a resistência popular. Parece que um novo ciclo de lutas se abre neste momento histórico, por isso os revolucionários são chamados a mudar suas estratégias e táticas de lutas, métodos que foram completamente solapados pela dinâmica do movimento de massa. É preciso descobrir novas formas de lidar com os anseios das massas e organizá-las de forma mais sistemática. Devem-se abandonar as formas superadas de compreensão da realidade e a interpretação equivocada da dinâmica política, e entender que o partido revolucionário não se constitui como uma necessidade a priori, mas que ele se forja na luta e nos embates. É preciso deixar para trás as formulações deterministas da realidade e aprender com os grandes revolucionários, como Mao, Rosa Luxemburgo e Lenin. É preciso aprender a dialogar com a realidade e saber incorporar as efetivas necessidades das massas exploradas e vilipendiadas em seus programas de atuação.

A realidade mostra que a esquerda revolucionária precisa ser completamente reconfigurada para atender às demandas das massas. Entretanto, observa-se que ao invés de fazer isso, sua grande maioria prefere manter-se na exploração das potencialidades fascistas que subsistem nas massas. É preciso dialogar com as massas para colocar suas paixões nacionalistas a serviço da luta contra o imperialismo, educando-as e colocando na ordem do dia a necessidade da suspensão imediata da dívida externa e interna, que consumirá este ano 42% do orçamento geral da União, o equivalente a 898 bilhões de reais. Com esse dinheiro daria para resolver todos os problemas do transporte coletivo de nossas cidades e implantar a tarifa zero, bem como sanar os problemas da educação e da saúde pública. Essa medida não poderia ser adotada sem romper com o capital internacional e certamente ela evidenciaria para outros países a possibilidade de seguir a mesma via. Para isso a esquerda revolucionária e não reformista deve priorizar uma matéria de enorme importância como essa. Outra reivindicação importante seria fazer uma auditoria de todo o processo de privatização das estatais brasileiras e punir todos seus responsáveis (Collor, FHC, Lula e Dilma), como se fez na Argentina.
Conclusão
Marx dizia que a humanidade não coloca problemas que ela não consiga resolver. A emergência do movimento de massa no país coloca em xeque a estrutura econômica e política da sociedade burguesa e ressalta a necessidade de que sejam superados os limites impostos pelo sistema do capital. Isso atesta que a crise econômica mundial acabou incidindo sobre toda a estrutura da sociedade brasileira, tanto no universo de suas relações de produção quanto no universo de suas relações sociais. As distintas manifestações da classe média e da classe trabalhadora apontam que “o rei está nu” e não é possível encobri-lo com os mecanismos da velha manipulação midiática da burguesia. Por isso a própria burguesia tenta interferir no processo mediante a intervenção de grupos de direita que vão do PMDB e PSDB até PCdoB, PT e CUT.

É preciso que os revolucionários não se intimidem diante da força momentânea de seus adversários na disputa pela consciência do movimento de massa, combatendo os grupos de direita que tentam atuar em seu interior. É preciso participar de todos os lances políticos que constituem o processo de formação da consciência de massa, tentando subverter o caráter positivo da radicalidade de sua combatividade por mais direitos e melhores condições de vida pela negatividade da verticalidade que pode conduzir ao fascismo. É preciso destruir as perspectivas reformistas − por dentro e pela base − dos movimentos de massa, ou seja, urge aproveitar todas as oportunidades para combater os inimigos da emancipação humana, que pretendem reproduzir a violência do capital sobre os seres humanos em novas bases ideológicas.

A intervenção dos revolucionários nesse processo é fundamental para fortalecer tanto a participação direta das massas quanto para refutar as posições ingênuas que podem facilmente ser manipuladas pelos distintos setores reformistas (reacionários de direita e reformistas como PT e PCdoB). Cumpre defender a necessidade de mudanças profundas na sociedade brasileira, mudanças estas que conduzam ao socialismo enquanto efetiva alternativa ao capitalismo e à dominação do capital sobre os seres humanos.

27/06/13 – Ato contra o aumento da passagem – às 15h, concentração na Praça Centenário
02/07/13 – Espaço Socialista apresenta:
• Palestra – As mobilizações atuais e a ofensiva socialista (com Zilas Nogueira, Adriano Nascimento e Fabiano Duarte) – de 19h às 22h, no auditório do Csau, na Ufal.