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Março: um mês para TODAS as mulheres oprimidas


24 de abril de 2013

Este texto é uma contribuição individual, não necessariamente expressa a opinião da organização e por este motivo se apresenta assinado por seu autor.

Luciana Ribeiro Paneghini

Estive no ato do Dia Internacional de Luta da Mulher, no 08 de Março, última sexta-feira. Muitas pessoas colocaram a chuva que caiu sobre nós como o fator mais importante para a nossa dispersão. Entretanto, alguns fatos aqui merecem comentários: participei do ato, após pedir dispensa à minha chefe, que muito gentilmente permitiu minha saída do trabalho. Ela, como eu, é assistente social e compreende o quanto a luta pelos direitos das mulheres trabalhadoras e pobres é importante pra mim. Com isto, fico pensando: Qual é a mulher que realmente tem condições de participar de um ato pelo seu direito a uma vida sem violência (eixo das intervenções do ato unificado), às 13h, horário de concentração na Praça da Sé?

Deu pra perceber, com isso, que o horário para concentração, saída e chegada no destino final (Praça Ramos, às 16:30) excluiu a participação das mulheres trabalhadoras, aquelas que mais precisam ouvir nossas intervenções e se unir à luta.

Mas é de mulheres trabalhadoras que estamos falando, não é mesmo? Não podemos defender essas mulheres, se tirarmos do governo e da burguesia a culpa por seus salários menores, sua dupla jornada de trabalho, sua situação de pobreza, sua falta de direitos sobre seu próprio corpo. Com isto, optei por participar da manifestação junto a um coletivo feminista e socialista, dentro da miríade de coletivos que estavam presentes.cracolandia-lettera-aperta-di-padre-renato-al-L-JXoSYA

A intervenção deste coletivo foi um pouco tímida… Ainda assim, a todo o momento, gritávamos palavras de ordem contra o governo Dilma e o capital, que estão oprimindo as mulheres: o primeiro, a oprime com a falta de recursos a serem destinados às políticas públicas e, o segundo, a oprime secularmente, sempre tirando lucros encima do machismo, que permeia todas as relações entre homens e mulheres, conseguindo colocar, inclusive, mulheres trabalhadoras contra homens trabalhadores.

Acho crucial que as mulheres trabalhadoras lutem contra o machismo, como forma de unir a classe trabalhadora, homens e mulheres oprimidos pelo machismo, racismo e homofobia, contra a classe dominante, homens e mulheres que oprimem e exploram trabalhadores de ambos os sexos. Porém, o feminismo classista (da e para as trabalhadoras) tem muito que avançar: porque no 08 de Março falamos das mulheres de uma forma tão abstrata???
Pra ser contra o capitalismo, precisamos estar ao lado de todas as mulheres terceirizadas; de todas as trabalhadoras bolivianas, que são escravizadas nas oficinas de costura das grandes butiques; de todas as mulheres em situação de rua, que são violentadas e desrespeitadas nas ruas e nos albergues, inclusive pelos próprios profissionais da assistência ou pela GCM; de todas as mulheres encarceiradas, que são torturadas todos os dias; das meninas que cumprem medida socioeducativa em regime fechado na Fundação Casa, que não são visitadas por suas famílias, por conta da lógica machista que coloca que as mulheres não podem ser criminosas, mas que os homens podem; daquelas mulheres que vivem na cracolândia e que estão sujeitas à prostituição ante o traficante e à ação desumana da polícia facista; de todas as mulheres que lutam por uma vaga de internação ao filho ou outro ente querido, no CRATOD, neste exato momento, porque a rede substitutiva em saúde mental não tem sido efetiva; de todas as mulheres loucas, internadas em verdadeiros manicômios, de maneira desumana.

Por isso, defendo que os próximos 08 de Março, sejam muito mais do que apenas feministas e que não fiquem simplesmente nas cobranças ao governo A ou Z: sabemos que o Estado burguês não tem nada a nos oferecer… a nossa perspectiva tem de ser outra: lutar por todas as mulheres, na perspectiva socialista e revolucionária.
O feminismo brasileiro classista tem mais de 20 anos… não tem problema: outros marços, outras marchas das vadias, outras lutas virão! E outras oportunidades de fazer a coisa certa (defesa das mulheres oprimidas pelo capital de diferentes formas), também!

Luciana Ribeiro Paneghini – assistente social, mestranda da PUC, militante feminista.