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Para acabar com o racismo é preciso superar o capitalismo


17 de novembro de 2010

Para acabar com o racismo é preciso superar o capitalismo

O racismo é um problema social e histórico. Ele não existe porque os negros possuam qualquer "característica de inferioridade" ou os brancos sejam "naturalmente" opressores.

O racismo está ligado à exploração. As classes dominantes sempre buscaram aproveitar-se das diferenças de cor, gênero, nacionalidade, região, etc, para construir assim uma hierarquia na exploração. Essa hierarquia ao mesmo tempo divide os explorados em níveis diferentes de exploração (mais e menos explorados) e também justifica que uns sejam mais explorados por… serem negros.

No Brasil, conforme o capitalismo se estabelecia como sistema econômico, o racismo do período escravista foi assimilado, pois isso permitia aos empresários aplicar níveis mais intensos de exploração sobre os negros e as mulheres negras em particular, embora desde o inicio tivesse havido inúmeras formas de resistência. No topo dessa hierarquia de exploração encontram-se a burguesia e seus agentes: o Estado, a mídia, a Igreja, setores da classe mais alta que incorporam os interesses da burguesia.

Assim, a conclusão mais importante que tiramos, mas que não é de forma alguma unânime, é que para acabar de vez com o racismo é preciso acabar também com o capitalismo e com toda forma de exploração do homem pelo homem.

As lutas por mudanças mínimas, mesmo dentro do capitalismo, no sentido de questionar e enfrentar o racismo e incorporar a população negra são fundamentais, mas devem ser sempre consideradas como paliativos, que ainda não são a saída para o problema do racismo. A luta pela libertação real do povo negro é parte fundamental da luta da classe trabalhadora contra a exploração capitalista, e portanto o racismo deve ser considerado um problema a ser discutido e enfrentado por todos os trabalhadores, no sentido de unificar a nossa classe, com as suas características e diversidades, contra a burguesia que, por sua vez, também tem negros em seu meio.

Muitas correntes políticas ou acadêmicas, ao terem um enfoque apenas limitado à questão racial, sem um conteúdo de classe, sem abordá-la como parte da luta geral dos trabalhadores, acabam caindo no jogo da burguesia, que muitas vezes realça a opressão de raça apenas para silenciar sobre a dominação de classe, deixando a estrutura social capitalista livre do combate prático-crítico e livre para aprofundar a desigualdade e a exploração.

De fato, nos dias atuais é ainda mais difícil concebermos um movimento de libertação real do povo negro do racismo, sem que se enfrentem os limites do sistema capitalista – a lógica do lucro.

O sistema capitalista, que sobrevive cada vez mais da ajuda externa do estado, não reserva possibilidades de melhorias efetivas e sustentáveis para a maioria da população negra. O máximo possível dentro dos limites da lucratividade do capital é a ascensão de uma pequena elite negra, ao mesmo tempo em que a grande maioria permanece exatamente como estava antes.

Unir trabalhadores negros e brancos pela emancipação geral

Impor um conjunto de políticas efetivas de reparação para os negros requer, portanto, esforços para ligar a luta histórica dos negros no Brasil como parte da luta do proletariado por sua emancipação, pois o negro de hoje está também inserido no mercado de trabalho, e justamente em posições mais exploradas. Assim, a luta racial deve assumir também um caráter de classe e ter como preocupação a identificação dos verdadeiros aliados e inimigos.

Não partir do referencial de luta anticapitalista é o principal limite ao qual estão presos aqueles setores que hoje se acomodam e aplaudem as políticas governamentais, ao mesmo tempo se calando para o fato de que, este mesmo governo que pede paciência aos negros é também o que cede bilhões aos banqueiros e empresários todos os anos, mantendo justamente a exclusão da maioria.

Políticas eficazes de reparação do racismo só poderão ser conquistadas enfrentando-se os patrões e seus agentes: os governos de plantão.

A bandeira das cotas proporcionais deve ser levantada, juntamente com outras políticas de reparação, e com a luta dos demais trabalhadores por um programa geral que responda não apenas à questão de raça, mas também à questão de classe. Esse programa unitário de trabalhadores negros e brancos deve apontar para a ruptura com a lógica do capital e para que os explorados – brancos e negros – se unam para estabelecer uma forma de poder da classe trabalhadora, voltada para enfrentar os grandes problemas sociais.

Essa unidade tão necessária entre trabalhadores negros e brancos em sua diversidade – e que não será facilmente alcançada, por todos os preconceitos e modelos que nos foram impostos no decorrer de séculos – é um desafio que temos que ser capazes de realizar na prática das lutas e de um programa global.

Nesse sentido, a proposta de cotas deve estar inserida numa proposta mais geral de lutas do conjunto da classe trabalhadora por emprego, moradia, saúde, educação digna e de qualidade. Que essas questões imediatas sejam impostas mediante a luta direta da classe como um todo. Que os resultados obtidos possam ser estabelecidos a partir de cotas que reconheçam as desigualdades hoje existentes e, ao mesmo tempo, lutem para superá-las. É preciso que a aliança entre os trabalhadores negros e brancos preserve os direitos específicos de cada setor, para que possamos enfrentar e vencer o capital e todas as formas de exploração e opressão da humanidade.

Assim, por exemplo, a reivindicação de que os empregos gerados pela luta sejam divididos em cotas proporcionais, deve vir combinada com a luta pela redução da jornada de trabalho sem redução salarial, de modo que todos os trabalhadores se beneficiem desta mudança, através da geração dos milhões de empregos necessários. Nas universidades públicas, do mesmo modo, a luta pelas cotas deve se juntar à luta por mais vagas para que todos possam estudar.

É evidente que tudo isso só poderá ser imposto mediante a luta contra os interesses capitalistas e, em última instância, levará a uma ruptura do próprio sistema, ao questionar qual classe deve ter o poder na sociedade, se os trabalhadores (negros e brancos) ou a burguesia.

Somente uma sociedade socialista no profundo sentido da palavra – de socializar os meios de produção sob o controle e a serviço dos trabalhadores e da humanidade – é que pode colocar um fim à exploração e à desigualdade social entre os seres humanos, inaugurando um novo período na história humana onde tudo seja decidido democraticamente, respeitando-se as diferenças de gênero e raça, como diferenças físicas e não sociais.