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HIP-HOP: Cultura e Política


11 de agosto de 2009

O próprio capitalismo cria e arma os seres que corroem as estruturas deste sistema podre.

O imperialismo americano ao invadir a América Latina corrompendo todo o cotidiano de sua vida, às vezes atira pela culatra. A indústria de cultura de massa ao impor o idioma inglês como referência de comunicação trouxe a reboque, uma nova linguagem altamente nociva aos seus interesses consumistas.

Como toda linguagem de periferia "que sobrevive à estatísticas" o Hip-Hop também tem seu lado violento.

Rimando em letras incendiárias o rap mostra sua cara e lembra à pequena população do Shopping Center que o garoto do semáforo também sonha, tem orgulho e não está disposto a aceitar apenas centavos. Como um pesadelo para a classe média (em extinção) este garoto não está só e reconhece que faz parte de um exército de marginalizados mundo afora.

Como porta-vozes da periferia, seja ela paulista (Racionais), carioca (MV Bill) ou da "quebrada" de Brasília (G.O.G.) atiram com sua metralhadora giratória em todos os valores burgueses, atingindo tanto o sonho do carro importado, quanto a ilusão da representatividade política dentro do congresso ou na assembléia legislativa mais próxima.

Exigindo tomada de posição de todos que escutam sua "batida", não permite vacilo prova o alto custo dos cortes no orçamento social, que toda propriedade é um roubo, já que os "manos" nunca tiveram nada e só conhecem a lei da sobrevivência.

Dançando Break e grafitando seu dia a dia, forma-se um grande "tráfico de informações" estendendo seus tentáculos pelas periferias de todo continente, influenciando bandas como: Rage Against the Machinne (apoio declarado ao E. Z. L. N. e ao M. S. T.), Charlie Brown Jr e grande parte da nova geração musical contemporânea a mesclar guitarras e batidas com letras ácidas e protestos práticos, inclusive apoio à formas anti-capitalistas de participação política.

Uma nova consciência internacionalista brota do gueto: TODOS SÃO MANOS.

Marcelo Marques

ABC – São Paulo: As raízes do hip-hop

Os efeitos desse sistema excludente, que adota procedimentos obscuros, revelam-se muitas vezes criminosos, outras vezes assassinos. Nas favelas e periferias, a agressividade dessa violência é dupla, não se limita a fatores de abandono. Os grupos do status quo (formado por policiais) punem àqueles que faltam com seu dever. O dever de permanecer passivo na miséria, num sistema capitalista totalmente excludente.

Será que queriam os burgueses (que são responsáveis por esse sistema) que todos os jovens se conformassem com os remédios suaves – carnaval, copa do mundo, pagode, religião e tantos outros anestesiantes – que são bondosamente doados aos miseráveis promovidos pelos meios de comunicação?

Mas por trás de todo esse mascaramento da realidade, desse espetáculo preguiçosamente engolido (o qual a esquerda tradicional participa ativamente onde ela "gentilmente" administra o capitalismo), pesa o sofrimento humano, um sofrimento real, gravado no tempo, naquilo que tece a verdadeira história sempre ocultada. Sofrimento irreversível das massas sacrificadas, quer dizer, de consciências torturadas e negadas uma por uma.

Para os jovens que estão destinados de antemão à exclusão, o desastre é sem saída e sem limites, nem mesmo ilusórios. Toda uma rede rigorosamente tecida, que já é quase uma tradição, lhes proíbe a aquisição não só de meios legais de viver, mas também de qualquer razão homologada para fazê-lo. Marginais pela sua condição, geograficamente definidos antes mesmo de nascer, reprovados de imediato, eles são os "excluídos" por excelência. Virtuoses da exclusão! Por acaso eles não moram naqueles lugares concebidos para se transformar em guetos? Guetos de trabalhadores antigamente, já que hoje a fonte de trabalho secou. Por acaso esse endereço em face de nossos critérios sociais não indica: "terras de ninguém" ou "terras dos que não são homens" ou mesmo de "não homens"?

É imediata e flagrante aqui a situação de injustiça e de desigualdade, sem que os interessados sejam os responsáveis, sem que eles próprios tenham-se colocado nessa situação. Seus limites já estavam fixados desde antes de nascer, por esse sistema capitalista.

A sociedade indiferente a situação desperta assustada, escandalizada: "eles não se integram; eles não aceitam tudo com a gratidão que era de se esperar" – pelo menos sem se debater, sem sobressaltos aliás inúteis, sem infrações ao sistema que os expulsa, que os encarcera na reivindicação de algo que ele não pode lhes dar (o trabalho). Bloqueados numa segregação não formulada, "eles" têm a indecência de não se integrar!

Mas integrar-se a quê? Ao desemprego, à miséria? À rejeição? Às vacuidades do tédio, ao sentimento de ser inútil, ou até mesmo parasita? Ao futuro sem projeto? Integrar-se! Mas a que grupo rejeitado, a que grau de pobreza, a que tipos de provas, que sinais de desespero? Integrar-se a hierarquias que, de imediato, relegam ao nível mais humilhante sem dar jamais a possibilidade de fazer as provas? Integrar-se à ordem capitalista que, de ofício, nega todo direito ao respeito? A essa lei implícita que quer que aos pobres seja concedida vida de pobre, interesse de pobre (isto é, nenhum interesse) e trabalhos de pobre (se houver trabalho)?

É aí, nesse vazio, nesse estado vago sem fim que destinos são aprisionados e desagregados, que se afogam energias, que se anulam trajetórias. Aqueles cuja juventude, impotente, caiu na armadilha da marginalidade oficializada, têm consciência disso e preferem não demorar a enfrentar a seqüência de suas vidas.

Mas é também aí que parte desse vazio é preenchido de forma subversiva (ameaçadora à ordem vigente). Os excluídos agora tem um movimento cultural que pode (tende para isso) se converter em algo desestabilizador do sistema capitalista. Algo político. Ou melhor, algo politizadamente político (tende para isso) já que toda e qualquer forma de ação é política! Só que o movimento Hip-Hop tende a ser aquela ação que não aceita a sua exclusão, da forma que descobrirão que a única forma de se incluírem na sociedade é excluindo (pondo abaixo) o sistema capitalista. E assim vingando os mortos, vítimas desse sistema. Mortos muitas vezes deixados nas ruas com seus duros paralelepípedos, mas bem mais macios que esse sistema capitalista.

Carlos Wellington – ABC – São Paulo.