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Fidel renunciou, mas nós não renunciamos à revolução


3 de janeiro de 2009

Para não deixarmos nenhuma dúvida: Defendemos os trabalhadores e o povo cubano contra qualquer tentativa de intervenção americana!

Consideramos que a Revolução Cubana foi um dos maiores feitos do povo latino-americano por derrubar o ditador sanguinário Fulgêncio Batista, por expulsar os americanos que tratavam a ilha como um bordel em alto mar e por estatizar, mesmo que não fosse a intenção imediata de Fidel, a economia e abrir caminho para a construção de um sistema público de saúde e de educação que garante o acesso a todos.

O sistema de saúde e de educação do povo cubano foi obtido com um baixo nível de desenvolvimento das forças produtivas no país. Isso mostra a força de uma economia estatizada e sem propriedade privada, em que o produzido fica nas mãos do Estado. A Revolução Cubana teve esse mérito de obrigar suas direções a estatizar. Foi exatamente a estatização que permitiu o desenvolvimento da saúde e da educação até transformarem-se em referências para o mundo.

A propriedade privada representa a apropriação, por uma pequena parcela da sociedade que nada produz, do trabalho realizado pela classe trabalhadora. É a causa maior de todos as desigualdades no mundo. Por isso qualquer revolução que exproprie a burguesia, por mais limites que tenha, merece nosso apoio militante.

A força histórica do socialismo se mostra na medida em que ao serem retirados os meios de produção das mãos dos capitalistas é proporcionado à humanidade condições de vida, em suas várias dimensões, jamais sonhadas.

Assim, depois da enfermidade de Fidel e com a renúncia – mesmo sem ocupar papel central nas decisões do Estado cubano, subsistindo apenas o mito – retornou a ganância do imperialismo americano e dos contra-revolucionários mafiosos sediados em Miami contra as conquistas do povo cubano.

 

Defender Cuba de todo e qualquer ataque do imperialismo

Derrotado, durante o processo revolucionário, pela mobilização de milhões de trabalhadores e depois pela heróica resistência militar na tentativa de invasão da Baia dos Porcos, o sanguinário imperialismo americano, com a cumplicidade de todos os governos capitalistas, impôs ao povo de Cuba um bloqueio econômico que dura mais de 40 anos. Coerente com a sua ânsia de destruição e dominação dos povos do mundo, o imperialismo apelou para bloqueio econômico na tentativa de matar o povo cubano de fome.

O imperialismo se caracterizado através da dominação do mundo exercida por monopólios (domínio de um determinado ramo da economia capitalista por um único grupo) e oligopólios (domínio de poucos, mas fortes, grupos capitalistas). Como a produção capitalista envolve várias etapas que vão desde a matéria prima até a circulação, controlá-las torna-se fundamental para esse domínio. A combinação de produção e controle do mercado (nacional e mundial) demarca a força desses grupos imperialistas.

Nesse sistema o controle político, direto ou indireto, sobre os Estados Nacionais é o eixo político central sobre o qual gira a política do imperialismo, uma vez que as colônias (em seu sentido moderno) vão servir tanto para o fornecimento de matéria prima (as já existentes e as descobertas futuras) como para a expansão de mercado.

De maneira combinada com o eixo político está a brutal exploração da força de trabalho. O imperialismo busca impor sobre os povos do mundo o aumento máximo de seu lucro a partir do aumento da extração da mais-valia. Essa é a base para a redução de custo de seus produtos, o que vai lhe facilitar a disputa do mercado. Isso significa maior exploração do trabalhador, menor custo da mercadoria e consequentemente mais condições de competir no mercado mundial. A exploração da força de trabalho mundial constitui-se, portanto como o eixo econômico da dominação imperialista.

Assim, o controle político dos diversos Estados Nacionais é fundamental para o imperialismo. Esse controle é exercido através da criação de leis (que reduzem impostos para determinadas operações financeiras ou para determinados produtos, Reformas trabalhistas, da previdência, etc.) que facilitam a movimentação de capitais e mercadorias no mercado interno. É por isso que quando os trabalhadores de um país resolvem não deixar mais isso acontecer os capitalistas ficam furiosos, pois uma de suas fontes de lucro secou.

A independência de um país em relação ao imperialismo constitui-se como um elemento positivo para o proletariado porque em termos práticos significa um enfraquecimento do imperialismo, é um golpe em suas pretensões. Entendemos por independência o conceito cunhado por Lênin: analisando as condições histórico-econômicas dos movimentos nacionais, então chegaremos inevitavelmente á conclusão: por autodeterminação das nações entende-se a sua separação estatal das colectividades nacionais estrangeiras, entende-se a formação de um Estado Nacional independente. (Lênin, OE, v.1, p. 512).

Ante o ataque imperialista – econômico, político ou militar – contra qualquer país que ousou declarar a sua independência é dever de todo revolucionário se colocar contra o imperialismo e do lado do povo e dos trabalhadores desses países. No caso concreto de Cuba, de imediato lutamos contra toda e qualquer interferência imperialista. São os trabalhadores cubanos que devem decidir o seu destino.

Como marxistas na luta contra o imperialismo não escolhemos se queremos ser explorados pelos capitalistas nacionais ou imperialista. Somos contra a exploração capitalista, seja a realizada por Antonio Ermírio ou pela Coca-Cola. Por isso a luta contra o imperialismo e pelo direito a autodeterminação dos povos não significa apoio incondicional às suas direções, quando essas se tornam obstáculo para uma verdadeira independência. Em uma luta por autodeterminação ou por independência nacional atuaremos para que se desenvolva uma luta anticapitalista e socialista.

Historicamente as lutas por independência ou autodeterminação têm sido realizadas por setores da burguesia que reclamam a democracia burguesa. No caso cubano os limites foram de um regime político burocrático.

A defesa da Revolução de Cuba e do povo cubano não nos leva a apoiar o regime que hoje tem à frente Raul Castro. São várias as razões. Uma delas está no fato de o PC cubano e sua direção trataram de excluir os trabalhadores das decisões de seu destino. Outra razão está no fato de Raul Castro, contraditoriamente, representar uma ameaça à defesa da soberania e independência de Cuba. Tanto o chamado a Lula (que tem apresentado completa submissão ao imperialismo americano) para que faça a mediação entre Cuba e EUA, quanto o distanciamento de Hugo Chávez (que embora tenha mais retórica do que prática, possui um forte discurso antiamericano) demonstram claramente a disposição do PC em manter relações cordiais e amistosas com os americanos. É obvio que cordialidade e amistosidade para o imperialismo americano significam abrir as fronteiras para os seus interesses.

Qualquer política de aproximação com os EUA é uma ameaça à soberania dos trabalhadores cubanos e coloca em risco o caráter independente do estado cubano em relação imperialismo.

 

Fidel renuncia o mandato, mas já havia renunciado a revolução

Profundamente marcado como direção dos povos americanos e amparado no processo revolucionário mais importante da América latina, Fidel Castro sempre oscilou entre o discurso antiamericano e os acordos com setores imperialistas que não aderiram ao bloqueio econômico americano. O discurso antiamericano e a orientação política de conciliação com as burguesias nacionais dos diversos países do continente passaram a vigorar após a morte de Che Guevara.

A aplicação dessa orientação política pela Frente Sandinista de Libertação Nacional, na Nicarágua, e pela Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, em El Salvador, levaram à derrota. Ao fazerem acordos com as burguesias desses países tanto a FSLN quanto a FMLN abriram mão da expropriação da propriedade privada, o que permitiu a reorganização da burguesa e a contra revolução.

A melhor defesa de uma revolução é exatamente a sua expansão. Uma das primeiras medidas dos revolucionários russos foi a reorganização de uma internacional revolucionária que pudesse servir de aporte para as revoluções, principalmente na Europa. Lênin não cansou de dizer que a sorte da Revolução Russa estava nas mãos do proletariado mundial. Essa também era a idéia de Che Guevara na frase façamos um, dois, mil Vietnã. E esse não foi o caminho que Fidel percorreu.

A sorte da revolução está justamente naqueles que estão distantes dos centros de decisão da política: os trabalhadores. Sem a participação dos trabalhadores como sujeitos o destino da revolução fica nas mãos daqueles que representam a ameaça, pois procuram em primeiro lugar atender os interesses da burocracia estatal.

Há uma necessidade urgente do desenvolvimento de formas independentes e democráticas de organização dos trabalhadores para enfrentar tanto a burocracia cubana quanto o imperialismo e defender as conquistas da revolução avançando em um tipo de Estado em que os trabalhadores organizados decidam todos os rumos da sociedade.

Quando falamos de democracia e liberdade não falamos como valor da democracia burguesa que defende o direito de explorar e oprimir trabalhadores. Falamos de democracia operária em que a burguesia não terá liberdade e nem democracia. Em que não haverá liberdade e nem democracia para a propriedade privada. Em que não haverá liberdade e nem democracia para a diplomacia secreta de Estado. Em que as decisões passem por organismos controlados pelos trabalhadores e não por parlamentos democráticos formados por quem tem maior poder econômico.

Para enfrentar a intervenção americana é fundamental a mobilização internacional em defesa dos trabalhadores de Cuba e das conquistas da Revolução. Por esta e por outras razões o Encontro Latino Americano que será realizado logo após o congresso da CONLUTAS adquire ainda maior importância.

Fora Imperialismo! Rechaço a intervenção de qualquer via imperialista sobre Cuba!

Fora exército imperialista da base de Guantanamo, pela imediata restituição do território ao povo cubano!

Fora burguesia cubana alojada em Miami! Nenhuma restituição aos gusanos cubanos.

Socialização de todos os meios de produção expropriados pela revolução!

Liberdade aos 5 cubanos presos em Miami!