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Boletim 03 – ¿Qué pasa en Bolivia?


3 de janeiro de 2009

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Outubro


¿QUÉ PASA EN BOLIVIA? O quê motivou a rebeldia na Bolívia? Como se organizou a rebeldia?

A renúncia de GOZALO SÁNCHEZ DE LOZADA será capaz de resolver a crise boliviana?


O furacão da grave crise social que convulsiona toda América Latina desde Chiapas no México, passando por Equador, Argentina, Uruguai e Peru, explodiu em grandes mobilizações na Bolívia durante as últimas semanas.        A imprensa ligada à grande mídia procura o tempo todo condicionar os sangrentos choques entre os trabalhadores e o aparelho repressivo do estado boliviano com a necessidade do governo de vender gás natural (a principal fonte legal de divisas da Bolívia) aos ESTADOS UNIDOS. Isso é verdade mas, só parte da verdade. Para conhecermos as causas da “crise boliviana” precisamos pensar a BOLÍVIA como país periférico no cenário econômico globalizado e seu papel frente à potência hegemônica mundial (EUA) que desde o final da década de 80, tem claro que a melhor política para tirar proveito dos países latino-americanos é impulsionar a agenda neoliberal.

 

Apesar  da  oligarquia  boliviana  usar  a  “revolução nacionalista”    de    1952

 

como a única via   de angariar votos, o fato é que a elite nativa já não controla a extração de capital boliviano, essa capacidade ela já perdeu para o capital espanhol que é de longe o maior gestor da movimentação financeira (banco SANTANDER, BILBAO VISCAIA), de extração petrolífera e derivados (YPF) de serviços públicos (TELEFONICA). Isso obriga a elite boliviana a fazer esforços tremendamente impopulares em sua necessidade de cumprir a agenda imposta pelo capital americano, intermediada através do BANCO MUNDIAL e F.M.I em acordos sobre a dívida externa e implementação do plano de combate à inflação e do Plano Dignidade (com a desculpa de destruir as plantações de coca   reduziu de 30 para 4,5 dólares semanais a renda dos campesinos).

Ao contrário do que possa parecer, a mobilização contrária às políticas neoliberais não iniciaram no último bimestre, teve seu estopim no decorrer do ano 2000, intensificando-se em janeiro de 2001 e culminando com a renúncia do então presidente. Hugo Banzer alegou problemas de saúde, na verdade sofria forte pressão por ter participado da Operação Condor, um esquema internacional de repressão política dos anos 70, responsabilizando-o pelo desaparecimento de 200 pessoas e cerca de 3000 prisões.

Durante o ano de 2002 aprofundou-se a crise econômica, fruto dos compromissos com F.M.I e Banco Mundial refletindo em piores condições sociais.

 Como se não bastasse o multimilionário e presidente Gonzalo Sanches de Lozada (Goni) no início de 2003 encaminhou ao congresso um decreto que taxava em 10% os salários de todos os trabalhadores para garantir o pagamento dos juros da dívida externa, essa medida provocou combates sangrentos que causaram dezenas de mortes e o isolamento de Losada na embaixada americana, não restando outra saída a não ser retirada do decreto.

Mas como a necessidade de remunerar o capital estrangeiro é função de ser do “capitalismo boliviano”, o governo formulou o plano da venda de gás natural aos EUA  através da empresa espanhola YPF passando pelo direito de extração e retirada desse gás em estado bruto sem agregar valor e sem dar a menor garantia de que essa venda serviria para diminuir o sofrimento de 70% da população que vive abaixo da linha de pobreza.

 

Como se organizou a rebeldia?

 

A COB – Central Operária Boliviana- decretou greve geral em 29 de setembro por tempo indeterminado e promoveu paralisações de estradas. Apoiada por grandes contingentes de indígenas (Ayamaras) e campesinos plantadores de coca que se somaram aos piquetes nas estradas promovendo o desabastecimento da capital. Nas cidades, as mobilizações foram impulsionadas por jovens e mulheres  que, inclusive, iniciaram a formação de autodefesas armadas para enfrentar a repressão que contabilizou  oficialmente 80 mortos.

 

A renúncia de Gonzalo Sánchez de Lozada será capaz de resolver a crise boliviana?

 

Somente a renúncia de Lozada não será capaz de conter as mobilizações, pois nem se cogita realizar as profundas reformas estruturais que a economia boliviana necessita e que fazem parte das exigências populares. Além de que a renúncia de Lozada foi arquitetada pelo embaixador americano na Bolívia, David Greenlee em reunião com o ex-vice e atual presidente Carlos Mesa na tentativa de dar uma saída constitucional á crise e evitar uma tomada efetiva de poder por parte da população  através de suas organizações e seus vacilantes líderes.

Como parte do teatro armado para conter a convulsão social o atual presidente assumiu publicamente estudar as exigências elaboradas pela Coordenadoria de Defesa do Gás que são:

-Revisão da Lei de Hidrocarburos;

-Industrialização do gás em território nacional, para vendê-lo com valor agregado;

-Plebiscito sobre qual porto  passará o gás, e a democratização da decisão.

Para o estado boliviano atender essas reivindicações e promover reformas estruturais capazes de impulsionar um novo ciclo de desenvolvimento, seria necessário inverter a lógica de relação que a Bolívia mantém com os EUA e que os bolivianos mantém entre si, o que está infinitamente distante da capacidade e da vontade da elite boliviana e também da vacilante posição das lideranças populares que em alguns momentos foram obrigados a tomarem posições empurrados por sua própria base de apoio.

Obviamente não temos a pretensão de solucionar todas as dúvidas sobre o processo boliviano, pois seria necessário estabelecer todas as relações que a Bolívia mantém com a América Latina e desta última com seu papel no mercado mundial globalizado.

Aqui fica o pontapé inicial e também o convite para discutirmos com maior profundidade o cenário político da Bolívia e da América Latina.