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Tiros em Columbine


13 de dezembro de 2008

TIROS EM COLUMBINE

Ou: “Tudo que você gostaria de dizer sobre os Estados Unidos dito por um cidadão estadunidense”

(Comentário sobre o documentário “Tiros em Columbine”)

Nome original: Bowling for Columbine

            Produção: Canadá, Estados Unidos, Alemanha

            Ano: 2002

            Idiomas: Inglês

            Diretor: Michael Moore

            Roteiro: Michael Moore

            Elenco: Jacobo Arbenz, George Bush, George W. Bush, Charlton Heston, Marilyn Manson, Timothy McVeigh, Michael Moore, Mohammed Mossadegh, Dinh Diem Ngo, Terry Nichols, Manuel Noriega, Shah Mohammed Reza Pahlavi, Augusto Pinochet, Jeff Rossen, Matt Stone

Gênero: documentário

Fonte: “The Internet Movie Database” – http://www.imdb.com/ 

Nesses tempos de acirrada militância anti-estadunidense, todos têm algumas palavras de ordem ensaiadas na ponta da língua para vociferar contra o gigante imperialista. Para quem quer passar da fase do simples “gringo go home” e adquirir subsídios para entender as complexidades e contradições da presença estadunidense no mundo de hoje, recomenda-se um olhar vindo de dentro dos próprios Estados Unidos, de alguém que questiona violentamente aquilo que seu país representa.

O documentário vencedor do Oscar 2003, “Tiros em Columbine”, de Michael Moore, esteve em cartaz em alguns cinemas escondidos no centro de São Paulo. Excelente oportunidade para constatar que, apesar das abundantes evidências em contrário, existe vida inteligente nos Estados Unidos. Existe pelo menos um ser inteligente, que importuna, incomoda, cutuca, põe o dedo na ferida, obriga a pensar, mostra o que ninguém quer ver e fala sobre o que ninguém quer ouvir.

Michael Moore topa qualquer parada. Não tem um pingo de vergonha na cara para incomodar políticos, celebridades, altos executivos, autoridades. Todos eles sofrem a inquirição impiedosa de sua câmera e suas perguntas “inconvenientes”. Moore é um chato, um chato profissional, que sabe incomodar, sabe provocar constrangimento, sabe expor ao ridículo, sabe fazer piada da seriedade farisaica de seu país.

            É difícil falar sobre o conteúdo de um documentário sem “contar a história” e estragar a surpresa de quem ainda não o viu. O tema do filme é o massacre de estudantes e professores por dois alunos da escola Columbine, na cidade de Littleton, no Colorado, em 1999. A partir dessa tragédia, Moore abre um leque de questões que vão do culto que o povo estadunidense prestam às armas de fogo, passa pelo medo indiscriminado e histérico que a mídia irradia, pelo racismo que dá origem à Ku Klux Klan, pela falta de política social para os pobres (exemplificado pelo fechamento da fábrica da General Motors em Flint, cidade natal de Moore), pela política externa do governo Bush e até pela perseguição às figuras destoantes, como o roqueiro Marilin Manson.

            O que conduz a argumentação de Moore ao longo dessas questões é uma pergunta persistente. Uma pergunta para a qual os defensores do uso de armas apresentam respostas parciais e evasivas, desmontadas uma por uma. Porque nos E.U.A. tanta gente morre vitimada por armas de fogo? Será responsabilidade da história do país, repleta de violência em seu passado? Ora, o passado da Alemanha, da Inglaterra, da França, do Japão, está repleto de episódios de violência extrema, tais como o holocausto, as guerras mundiais, as guerras imperialistas, etc.. Nem por isso alemães, ingleses, franceses e japoneses se matam. A taxa de homicídios por armas de fogo nesses países é de 70 a 300 por ano. Nos E.U.A. passa de 11.000.

            A causa serão os filmes violentos? Ora, nesses mesmos países os jovens assistem aos mesmos filmes violentos, jogam os mesmos videogames, acessam os mesmos sites, etc.; e nem por isso também saem se matando. Caberia então fazer a pergunta inversa. Porque nesses países as pessoas não se matam? Porque há a restrição à posse de armas? Talvez. Mas o que explica o Canadá? O Canadá possui as mesmas leis liberais que os E.U.A. a respeito da posse de armas de fogo. Há milhões de armas de fogo no Canadá. Mas os canadenses as usam para caçar. A caça é uma tradição nacional. Os canadenses caçam animais, que fique bem entendido, e não outros canadenses.

            Porque então os estadunidenses se matam tanto? A pergunta de Moore prossegue. As razões são profundas e incômodas. São demonstradas de forma gradual, articulada e abrangente. O que dizer do exemplo da política externa? No dia do massacre de Columbine, Clinton estava jogando bombas sobre a Sérvia. Vivia-se então a guerra do Kosovo. Clinton, que não era um completo retardado como é George W. Bush, que tinha lá seu charme, que apreciava, entre outras coisas, os favores das estagiárias; também era chegado a jogar umas bombas aqui e ali.

            No mesmo dia do massacre, o simpático Bill, entre um “blow-job” e outro, foi obrigado a ir à TV e falar ao respeitável público sobre os acontecimentos correntes. “Jogamos algumas bombas lá na Sérvia. E ali no Colorado alguns garotos atiraram em seus colegas e se mataram”. Fatos correntes. Seria apenas isso? Fatos correntes? Fatos isolados? Sem conexão? O direito de usar sistematicamente armas de fogo como instrumento corriqueiro de política externa não estaria indiretamente legitimando o suposto “direito” de usar armas de fogo como veículo de alívio das frustrações pessoais? Os atos do Presidente não estariam sendo exemplo para os jovens do país? Jogar tiros e bombas não teria se tornado a maneira preferencial dos indivíduos e do país como um todo viabilizar suas demandas ?

            Moore ilustra a tese com números impressionantes. Os números causados pelas intervenções armadas dos E.U.A. desde a Guerra Fria. Intervenções no Irã, Coréia, Vietnã, Chile, Nicarágua, El Salvador, Somália, Afeganistão, Iraque. Dezenas de milhares, centenas de milhares, milhões de vítimas, tombando ao som de “What a wonderfull world”, de Louis Armstrong.

            A mídia prefere achar outros culpados. Os interesses de além-mar não podem jamais ser mencionados em tom de crítica, muito menos implicados em semelhante esparrela. É preciso achar uma face mais conveniente. Alguém em quem colocar a culpa. Alguém como o bizarro Marilin Manson. A culpa é do roqueiro, do auto declarado anticristo, do andrógino, satanista, desajustado, auto-mutilado. Feio, inconveniente, pecador e barulhento. A culpa só pode ser dele. O próprio Marilin está consciente disso e o diz em entrevista ao cineasta. Ele faz dessa perseguição e da resistência que opõe a ela o mote de seu marketing pessoal, mais do que a atração de sua música (que aliás é bem ruim).

            Ruindade à parte, Manson está com a razão. Nos Estados Unidos pós-Columbine ninguém tem o direito de ser diferente. Instalou-se um clima de Inquisição nas escolas. Qualquer sintoma de comportamento destoante é identificado e isolado por uma quarentena preventiva. Suspensões absurdas e despropositadas atingem qualquer um que se atreva sequer a pintar os cabelos. Qualquer um que apresente sintomas de desajuste, depressão, timidez, introspecção, é automaticamente suspeito de maquinar planos homicidas. É preciso a todo custo apresentar uma atitude positiva, sorridente. A polícia do pensamento está á espreita. Imaginamos que Orwell teria alguma coisa a dizer de semelhante ambiente.

            Os E.U.A. são um país de paranóicos. A paranóia os persegue desde o ginásio, explica Matt Stone, um dos criadores de “South Park” e ex-morador de Littleton. Se você não passar na prova, não vai chegar ao segundo grau, não vai conseguir emprego, vai ser um perdedor para sempre, ninguém vai se casar com você, vai morrer pobre e solitário. Esse é o discurso insistente que inferniza a mente dos estadunidenses desde a mais tenra juventude. O discurso dos pais e educadores.

Para Matt Stone seus jovens concidadãos fizeram o que fizeram porque ninguém lhes disse que o segundo grau não é nada demais, que ninguém precisa ter os mesmos empregos de prestígio que seus pais, que há outras maneiras de uma pessoa se realizar e ser feliz, outros caminhos que não a competição feroz e excludente armada pelos adultos. E principalmente, fizeram o que fizeram porque não foram inteligentes o bastante, como Matt e seu colega Trey Parker, para transformar sua frustração em relação à cidade natal no combustível de uma sátira ácida e contundente, que é o desenho animado “South Park”.

            Michael Moore não está interessado em demonizar os diferentes. Ele sabe que a resposta para a insistente pergunta não passa por esse caminho. Ele busca outras conexões. Por exemplo, a fábrica da Lockheed Martin em Littleton. A Lockheed é uma fabricante de mísseis teleguiados. Diariamente, os cidadãos da pacata Littleton assistiam ao desfile de carretas transportando gigantescos foguetes e ogivas. Armas de destruição em massa daquelas que Hans Blix penou para achar no Iraque, em vão. Elas estão em Littleton, abundantes, monstruosas, inacreditáveis. O maior poder destrutivo já reunido pela humanidade, distribuído em silos espalhados pelas pequenas cidades do interior. Nada de mais. Coisa inocente. Armas para defender o povo, explica a Moore um executivo da Lockheed. Que os jovens de Littleton tenham cogitado em explodir umas cabeças por aí é fato puramente casual, não tem qualquer relação com as armas da Lockheed. Então tá.

            É compreensível que o cidadão estadunidense médio conceba a presença de seu país no exterior como fundamentalmente positiva. Afinal, os cidadãos de todos os impérios assim o fizeram. Mas é deveras bizarro que a posse de armas de destruição em massa como instrumento de dissuasão e a prática de intervenções armadas seja considerada uma parte natural dessa presença positiva. O cidadão estadunidense médio considera normal que seu país use armas no exterior porque considera normal possuí-las para defender sua casa. É o que explicam a Moore os membros da milícia de Michigan. Os colegas dos terroristas que explodiram o edifício federal em Oklahoma, em 1995.

            Para os membros da milícia, é responsabilidade de todo cidadão possuir armas de fogo e saber usá-las. Os Estados Unidos são a terra do cada um por si. Cabe a cada pai e mãe de família defender os seus entes queridos. O governo é tido como inerentemente opressor e incompetente. O exército é incompetente. A polícia é incompetente. As autoridades são incompetentes. Não há ninguém em quem se possa confiar. A não ser na sua Magnum 44, sua Uzi, seu M16. Coisa semelhante um pai dizia ao jovem filho em “Conan o bárbaro”, apontando para uma espada: “nisto você pode confiar”. No aço você pode confiar. O mundo é você, sua espada e os outros. Estamos de volta á barbárie.

            Os milicianos estadunidenses produziram essa figura teórica absurda, o anarquismo de direita. O pequeno-burguês armado até os dentes para proteger sua fortaleza do assalto das hordas invasoras. Contra quem se defendem os membros da milícia? De quem eles têm medo? De onde vem o medo? Teremos que assistir um pouco de TV para saber. O medo é um ingrediente farto e indiscriminado na televisão estadunidense. Os telespectadores têm medo de tudo. As cenas a esse respeito são extremamente hilárias. Os níveis de imbecilidade alcançados pela televisão daquele país estão além do que pode sonhar o mais desvairado produtor brasileiro. A imbecilidade campeia lá como cá, mas o ingrediente fundamental é o medo. Medo do “bug” do milênio, medo de abelhas assassinas, medo de elevadores, medo de alienígenas, etc..

            A especialidade da TV estadunidense sempre foi fomentar o medo, o ódio e o preconceito, apelando para os instintos mais baixos da audiência. Isso se tornou especialmente intenso depois dos atentados de 11 de Setembro. O medo do terrorismo atingiu proporções descabidas. Pessoas estocam armas, munição, máscaras de gás e mantimentos em suas casas. Medo do terrorismo, medo das águas contaminadas, medo de antraz. Guerra, morte, fome, peste, os cavaleiros do apocalipse estão à solta no imaginário coletivo. O medo do apocalipse é uma tendência latente na cultura estadunidense, que de vez em quando se manifesta mais fortemente. Mas há também um medo escancarado em relação aos negros.

Os negros são o “anônimo urbano”. O suspeito preferencial da polícia, da mídia, dos cidadãos “decentes” nos seus subúrbios brancos de classe média. Em qualquer ocorrência policial, o suspeito é sempre “um certo homem negro”, tal altura, etc.. Para escapar de uma acusação, basta trasferí-la para as costas de um negro. A polícia acredita, os promotores acreditam, o júri acredita, a mídia dá o veredicto e o juiz condena. Moore expõe vários desses casos em que pessoas de cor foram presas apenas porque o verdadeiro criminoso foi esperto o bastante para jogar a culpa num negro. Inverteu-se a norma consagrada do direito: “In dúbio, pro branco”.

            Um produtor de TV comparece para explicar que um programa que mostra a polícia em ação ao vivo, perseguindo suspeitos (que quase sempre são negros), tem audiência porque é isso que as pessoas querem ver. Da Tena e outros fascistas que o imitam no Brasil dariam um braço para ter os mesmos recursos técnicos que os programas de TV da matriz exibem para poder mostrar aqui a polícia prendendo e arrebentando nas favelas. Moore pergunta se não seria o caso de se fazer um programa mostrando a polícia capturando com a mesma truculência os criminosos de colarinho branco que abundam nas corporações estadunidenses, protagonizando escândalos tipo Enron, WorldComm, et caterva. O produtor de TV desconversa. O público não está preparado para ver homens brancos engravatados sendo achacados por policiais. Quanto a negros desocupados, estes tudo bem…

Em certo momento o filme se pergunta se a forma mais adequada de lidar com as minorias e com a pobreza em geral não seria prestar assistência social aos pobres. Do tipo da que existe na Europa do “well-fare state”. Não será por causa da assistência governamental, da saúde gratuita, da educação que recebem, que as minorias e os pobres desses países deixam de recorrer ao crime? Não será por causa dos laços de coesão social e comunitária criados por esse tipo de política que os canadenses tem confiança em seus concidadãos, a ponto de não trancar as portas das casas, como foi abundantemente mostrado?

Um conservador estadunidense típico diria que não. Assistência social para os pobres, no seu ponto de vista, é uma maneira de manter os vagabundos sem fazer nada e onerar os cidadãos trabalhadores. Vale mais à pena investir em armas. A propósito desse assunto, Bush comparece com sua dicção de boneco-de-ventríloquo-que-não-consegue-ler-o-ponto-eletrônico para dizer que “o Congresso faria um grande bem ao país se compreendesse que o orçamento militar deveria se tornar a prioridade numero 1 da gestão pública”. O mesmo princípio empregado para a vizinhança dos subúrbios vale para a vizinhança global. Ao invés de assistência para os países pobres, bomba neles. Se eles optam pelo terrorismo, assim como os pobres que optam pelo crime, tanto pior para eles. Mais bombas, mais armas, mais paranóia.

As raízes de toda essa paranóia estão na História. Numa das passagens mais hilárias do filme, uma animação mostra uma versão da história estadunidense do ponto de vista de uma bala de revólver. Os puritanos vieram para o território do que hoje são os Estados Unidos com medo das perseguições. Aqui chegando, por medo, exterminaram os índios. Por medo, escravizaram os negros. Por medo, lutaram na guerra civil para mantê-los escravizados. Por medo, fundaram a Ku Klux Klan, para se defender dos mesmos negros. Com a repressão à Klan, fundaram a N.R.A., a Associação Nacional do Rifle, organização dedicada a defender o direito de todo cidadão de usar armas de fogo, presidida pelo venerável Charlton Heston, ganhador do Oscar, protagonista do épico “Os Dez Mandamentos”, filme no qual se diz, entre outras coisas, “não matarás”…

            A essa altura as contradições se acumulam uma após a outra. O argumento do filme está sobejamente demonstrado. Mas o chato quer mais. Moore marca um ponto importante quando consegue uma declaração da rede K-Mart se comprometendo a não mais vender munição em suas lojas. A declaração foi obtida com a participação de dois sobreviventes do massacre de Columbine, um dos quais paraplégico, ambos ainda com balas em seus corpos, que acompanharam Moore na tentativa de “devolver” simbolicamente as balas que os mutilaram à K-Mart.

            Para terminar, Moore continua questionando os “normais”, os alinhados, os brancos, anglo-saxões, cristãos, burgueses, os verdadeiros donos do país, que se acham no direito de usar armas e matar quem se atreve a ser diferente em sua terra. Ele vai lhes perguntar, afinal de quê os homens mais poderosos do mundo tem medo. De onde estamos, nos perguntamos o que é o seu medo senão, como disse George Orwell, “o imposto que a consciência paga para a culpa”? Não será a arrogância e a hipocrisia com que governam um disfarce para uma consciência repleta de crimes?

Moore vai até o covil da Besta, em plena Hollywood, com toda cara de pau do mundo, tocar a campainha na mansão de Charlton Heston. Inacreditavelmente, ele consegue uma entrevista com o presidente da N.R.A. para lhe perguntar, entre outras coisas, porque logo após o massacre de Columbine a organização esteve em Littleton fazendo uma campanha. O que os defensores do direito ao uso de armas estariam dizendo com sua presença numa cidade onde dois jovens acabaram de promover o massacre? Não estariam com isso dizendo que os que morreram tinham mesmo que morrer? O pai de uma das vítimas de Columbine, ainda estupefato, aparece em mais de uma momento para perguntar porque seu filho morreu.

            Moore foi levar ao dirigente máximo da N.R.A. uma foto de uma menina de seis anos morta por um colega de classe da mesma idade, que encontrou a arma na casa de um tio, onde fora deixado por sua mãe, uma jovem negra que havia acabado de sofrer uma ação de despejo e precisa trabalhar em dois empregos para sobreviver, servindo drinks no bar de Dick Clark, espécie de Raul Gil americano que apresentava o programa de TV em que todos os astros do rock n´roll se tornaram famosos, um dos ícones do sonho estadunidense. Uma jovem mãe negra reproduzindo em pleno século XXI a mesma escravidão de seus ancestrais do século XIX, vitimada duplamente pela cegueira social que governa o país, vendo seu filho de seis anos se tornar vítima do ódio de cartas racistas do país inteiro, pedindo ao promotor da cidade a condenação do garoto, fazendo o criminalista se sentir enojado.

Depois dessa história, Heston abandona a entrevista, sem resposta. A foto da menina morta, vítima de uma outra vítima, é deixada na mansão de Heston, aquele que disse que seu rifle só seria arrancado de suas mãos quando estivessem frias e mortas, para delírio de uma multidão de seus fanáticos e neuróticos seguidores. O autor intelectual do crime se recusa a ver a imagem de sua vítima. Se recusa a estabelecer a conexão entre os dois fatos. A tarefa de Moore foi cumprida. O ciclo chegou ao fim. O filme voltou ao começo. Estamos ainda presos em Columbine. Para terminar, os Ramones reinterpretam “What a wonderfull world”, com seu peculiar estilo non-sense, acelerado, cômico, desleixado e verdadeiro. Nada mais apropriado.

Daniel M. Delfino

24/05/2003